O Estado das Coisas. Casadalapa 2015-2020.
Perguntar-se qual é o “estado das coisas” neste momento é como olhar para a noite. Uma noite que, por mais escura que pareça à primeira vista, revela-se cheia de vaga-lumes, clarões e ânsias de aurora.
De 2005 a 2020, o coletivo casadalapa produziu uma série de ações, intervenções de rua, exposições, projetos, encontros, debates, oficinas, filmes, vídeos, festas, enfim um intenso corpo imaginativo de pessoas voltadas à criação autoral de uma imagem icônica, de uma identidade na diversidade, e que orientou muitas vezes os ‘trends’ culturais e políticos (em alta) na cidade de São Paulo. O projeto casadalapa, em sua evolução, inclui também uma produção de teatro, livros, design, dança, pinturas, grafite, lambes, jornalismo independente, reportagens e encontros com pessoas em zona de fragilidade social num movimento inclusivo em direção ao “outro”, em um processo participativo e horizontal na comunidade.
O início da pandemia, porém, bloqueou os trabalhos presenciais. Nesse período de suspensão, nesse novo estado das coisas, o grupo decidiu não interromper o trabalho, mas transformá-lo para torná-lo possível até mesmo à distância. Uma troca de informação gerida e processada nos ‘home-offices’ de estadia forçada, numa densa rede de comunicações que deram um respiro por meio de editais para espaços independentes numa chamada pública, a meu ver muito estática.
A atual pandemia e a conjuntura do país, que de todas as formas, políticas, culturais, ideológicas e sociais só demonstram a destruição da cultura, da memória, de tudo que pode “pensar” esse estado das coisas, uma verdadeira e própria síndrome que se reflete aqui e obstrui um caminho que foi trilhado nos últimos 15 anos.
O resultado do percurso artístico do coletivo destes anos é enorme, e não irei aqui enunciar ou ilustrar seus feitos (www.casadalapa.net), mas sim tentar mostrar o espírito no qual as coisas foram feitas, no limiar da criação, de história e das realizações em oposição ao hoje, minha declaração poética de carinho e amizade a esses anos que tive o privilégio de participar deste processo, muito bonito e intenso nesse projeto coletivo que está ameaçado a um futuro de incertezas e rupturas.
O Estado das Coisas, casadalapa.
.
Para conhecer mais o trabalho do artista
https://www.imdb.com/name/nm0579434/
https://www.artfacts.net/en/artist/cesar-meneghetti-116773/profile.html
.
O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, de quintal, de rua, documentação desses dias de novas relações, essenciais, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente
