Por: Felipe Parra[1] e Márcia Ohlson[2]
Ataques a jornalistas ocorrem não somente em contextos de guerra, como no atual conflito na Ucrânia. É comum que aconteçam também no cotidiano profissional nos mais diferentes países. Esses abusos são realizados por grupos do crime organizado, milícias, segurança pessoal e até mesmo de instituições governamentais, tornando os jornalistas locais os mais vulneráveis. Esses ataques incluem assassinato, sequestros, assédio, intimidação, prisão ilegal e detenção arbitrária. A impunidade dos crimes contra esses profissionais da comunicação alimenta e perpetua o ciclo de violência e a autocensura. Tal ação priva a sociedade de informações e afeta diretamente a liberdade de imprensa. Isso impacta diretamente os esforços das Nações Unidas para promover a paz, a segurança e o desenvolvimento sustentável.
Diante desse contexto global, a Oslo Metropolitan University (Noruega), em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (PPGCOM ECA-USP), a University of the Witwaterstrand Johanneburg (África do Sul) e a University of Tulsa (EUA), resolveu desenvolver o projeto intitulado Safety Matters: research and education on the Safety of Journalists (em português: Segurança Importa: pesquisa e educação na segurança de jornalistas). A iniciativa, que busca estudar a violência contra os jornalistas em diferentes contextos históricos, sociais, culturais, políticos e econômicos, tem a duração de cinco anos. Em cada edição do projeto será abordado temas diferentes relacionados à segurança de jornalistas.
Iniciada em outubro de 2021, a atividade financiada pelo The Research Council of Norway também conta com a colaboração do The Intercept Brasil, do Dart Center for Journalism and Trauma, da Media Monitoring Africa e do The New York Times. No Brasil, o projeto é coordenado pelas Profas. Dras. Elizabeth Saad e Daniela Osvald Ramos, ambas do PPGCOM ECA-USP.
Entre os entrevistados pelo projeto no país estão profissionais de grandes veículos jornalísticos e também jornalistas independentes, incluindo colaboradores do coletivo Jornalistas Livres. Entre os temas abordados nas entrevistas estão a falta de apoio (seguro, equipamentos, etc) dos veículos aos jornalistas (especialmente os freelancers), a inexistência de preparo e apoio psicológico para a cobertura de eventos como tragédias humanitárias, a violência das PMs sobre profissionais cobrindo manifestações e as declarações da presidência atual contra jornalistas colocando a categoria como inimiga das forças de segurança.
As investigações científicas foram organizadas de acordo com três principais eixos temáticos: trauma, gênero e segurança digital. Os objetos de estudo dessas ações se concentram em assuntos como aspectos sensíveis/traumáticos sobre violência, ameaças e assédios a jornalistas; desinformação, fake news e educação midiática; censura e autocensura; assédio moral e sexual dentro e fora das redações; cobertura em zonas de conflito e protestos; suportes legais e jurídicos; questões técnicas, práticas e psicológicas sobre a segurança nos meios digitais e o papel das empresas de mídia e das universidades no processo de ensinar técnicas de segurança para jornalistas veteranos e recém formados.
Na primeira parte do projeto, as pesquisas foram apresentadas no Congresso sobre segurança dos jornalistas feito pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). O evento acadêmico internacional realizado em novembro de 2021, na capital da Noruega, Oslo, se concentrou em promover a segurança dos jornalistas e combater a impunidade daqueles que os agridem. Com esse objetivo, a UNESCO busca dar visibilidade às violências sofridas por esses profissionais da comunicação e lutar pela liberdade de imprensa em todas as plataformas de mídia.
Os integrantes do projeto também realizaram um treinamento sobre como agir em uma situação de risco de vida para melhorar sua possibilidade de sobrevivência. A atividade se concentrou em apresentar técnicas e comportamentos adequados durante um sequestro simulado. O curso foi ministrado pela empresa Aeger Group, especializada em segurança e preparação de profissionais para situações de emergências.
A etapa final do projeto está sendo concluída nesse início de 2022. Em breve, os doutorandos apresentarão os resultados de seus estudos em artigos científicos. A ideia é que os conceitos desenvolvidos auxiliem jornalistas de diferentes partes do mundo a prevenirem-se contra ataques verbais e físicos. Simultaneamente, a proposta estimula universidades e empresas de mídia a oferecer recursos para que esses profissionais da comunicação tenham conhecimento para lidar com situações traumáticas e, assim, desenvolver resiliência.
[1] Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (PPGCOM ECA-USP). Bolsista do CNPq – Brasil. São Paulo | SP | Brasil. ORCID: 0000-0002-4160-3065. E-mail: [email protected].
[2] Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (PPGCOM ECA-USP). Editora executiva da revista Semeiosis. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4455451227991666 E-mail: [email protected]