Em entrevista à Agência Pública alguns pastores progressistas de diferentes igrejas e associações evangélicas relataram perseguições que vem sofrendo após declararem seu voto em Lula para as eleições presidenciais deste ano.
Por Júlia Galvão
Na última quarta-feira (19), Luiz Inácio Lula da Silva divulgou uma carta aos evangélicos, nela o ex-presidente reafirma o seu compromisso com a liberdade religiosa, conquistada durante seu governo. “Como todos devem se lembrar, no período de meu governo, tivemos a honra de assinar leis e decretos que reforçaram a plena liberdade religiosa. Vivemos, entretanto, um período em que mentiras passaram a ser usadas intensamente com o objetivo de provocar medo nas pessoas de boa-fé”, declarado o candidato
Apesar das afirmações de Lula, Bolsonaro segue sendo o líder de votos dentro das igrejas evangélicas, o que vem provocando onda de ataques a pastores progressistas por todo o território nacional.
O pastor Usiel Carneiro de Souza, à frente da igreja Batista da Praia do Canto, comenta à Pública que além das perseguições sofridas diariamente, também passa por um processo judicial que pede seu afastamento do cargo, por assumir voto na esquerda.
A Assembleia de Deus, igreja evangélica que conta com uma grande massa de apoiadores de Bolsonaro, chegou a apresentar proposta de punir qualquer pastor que apresentasse discursos que “defendem, pratiquem ou apoiem” pautas progressistas .
Além de processos judiciais contra os sacerdotes, a possibilidade afastamento dos pastores de suas funções, ataques e xingamentos; pastores passaram a receber também ameaças de morte. Alguns pastores relataram que a onda bolsonarista dentro das igrejas evangélicas causou o adoecimento psicológico de diversos pastores que passaram a temer pela própria vida e pela de vida familiares.
Após o processo judicial, Usiel quase foi afastado da congregação, o que só não aconteceu por que parte da igreja se posicionou favorável ao sacerdote. Sérgio Dusilek é outro pastor que passou a receber ataques em suas redes sociais após declarar apoio ao ex-presidente Lula em vídeo, que passou a circular nas redes sociais, onde ele comenta que “a igreja tem que pedir perdão ao presidente Lula”.
Os ataques a Sérgio começaram pouco tempo depois, o pastor disse que sua preocupação “é essas situações saírem do ambiente virtual e virarem violência física”. Desde o dia em que a gravação viralizou ele passou a ir à igreja com menor frequência, é desconvidado de eventos e recebe ameaças diretas.
A igreja em questão postou uma declaração em que comenta que “não apoia, nem indica, nem toma partido de qualquer candidato a cargo público, ou ainda, não referenda qualquer corrente político-partidária”.
Caso parecido aconteceu com Filipe Gibran, da igreja Comuna do Reino, que postou em suas redes sociais um vídeo denunciando boicote que sofreu por que, segundo a instituição evangélica, teria realizado um “culto de esquerda”.
O pastor se juntou a outros sacerdotes progressistas de Belo Horizonte em grupo de apoio diante do cenário onde as perseguições parecem se tornar cada vez mais comuns. Nele os sacerdotes compartilham sua histórias e dividem apoio contra os ataques.
Enéas Alixandrino, pastor na Comunidade Cristã Êxodo em Minas Gerais, comenta que desde que tornou seus cultos mais acolhedores à comunidade LGBTQIA+ sofre violências: “São retaliações colocando em xeque a credibilidade da minha devoção à fé cristã como se houvesse incompatibilidade entre ser progressista e ser cristão”, comenta ele.