Morreu nesta terça-feira (04/10), aos 58 anos, Márcio Antônio do Nascimento Silva, pai que prestou seu depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a Covid-19 e viralizou nas redes sociais. Hugo Dutra do Nascimento, seu filho de 25 anos, morreu em abril de 2020 depois de ficar 16 dias internado por complicações de infecção por coronavírus. O jovem não tinha nenhuma comorbidade. Márcio ganhou destaque ao recolocar cruzes derrubadas por um homem que depredava um ato em homenagem às vítimas de Covid no Brasil e pelo seu discurso emocionante na CPI.
Em junho de 2020, dois meses após a morte de Hugo, a ONG Rio de Paz fez um protesto na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, onde foram abertas 100 covas nas areias da praia para simbolizar os mortos pelo coronavírus. Naquele momento, o Brasil enfrentava uma alta expressiva no número de casos e óbitos pela doença, e o descaso governamental com a pandemia já se mostrava. Em um ataque desnecessário, um homem que passava pelo local começou a derrubar as cruzes que marcavam as covas e Márcio, que também estava na praia, recolocou e arrumou a depredação realizada.
Sua atitude foi gravada e causou grande comoção nas redes sociais. Logo após a publicação do vídeo, ele veio a público e se pronunciou: “Meu nome é Márcio. Pai do Hugo, que faleceu aos 25 anos de Covid 19. Só queria dizer que a dor do pai é muito grande. É ter que conviver todo o dia com essa dor, com os pensamentos. Tentar lidar com estes pensamentos. Gostaria, por favor, que as pessoas tivessem mais empatia e compaixão pelas pessoas, pelas vítimas, por todos nós”.
Márcio então foi convidado a depor na CPI da Covid, responsável por investigar a conduta do governo durante todo o período pandêmico. No Senado, ele discursou sobre o seu sofrimento em perder um filho e lamentou profundamente a relativização da doença pelo governo Bolsonaro. Confira algumas de suas falas:
“O último momento que eu tive com o meu filho, que eu fui reconhecer, ele estava dentro de um saco. Eu tive que orar bastante, pedir a Deus para conseguir ir lá e reconhecer o meu filho, porque, como pai, era a última coisa que eu tinha que fazer por ele. Eu não pude dar um abraço no meu filho, eu não pude dar o último beijo. Eu cheguei a levar uma roupa para vesti-lo. Não consegui fazer nenhum ato simbólico, e um dos atos simbólicos: eu tive que ficar parado três horas, na porta do cemitério, ou quatro, olhando um carro, sabendo que o meu filho estava ali dentro, para ser enterrado.
Então, a minha dor não é ‘mimimi’. Não é, não é. Dói para caramba mesmo – dói, dói. Não aceito que ninguém aceite isso como normal. Não é normal. Não é minha só, não. É de todas as pessoas que perderam, de todas as pessoas que perderam pessoas tão queridas, porque todas são queridas. Não importa que meu filho tenha 25 anos, isso não é relevante. Não importa que a mãe dela tenha 80. São vidas, são pessoas que a gente ama, como todos aqui amam.
É por tudo que veio depois, por cada deboche, cada sorriso, cada ironia. Isso é um desabafo, mas, para meu o coração, foi muito difícil, eu não conseguia entender isso. Por isso é que esta CPI foi tão importante para mim, porque alguém apareceu e falou assim: ‘Pô, não me deu, e daí?’. Alguém apareceu e falou assim: “Vou fazer alguma coisa por você”. Não importa se é partido, eu não quero saber. Isto aqui não é circo”.
Márcio, era coordenador Censitário do IBGE da Subárea de Inhaúma e estava internado com problemas no coração. O enterro acontecerá nesta terça-feira (04/10), no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.