No epicentro da produção de petróleo no Rio Grande do Norte, os trabalhadores da unidade industrial da Petrobras em Guamaré estão na linha de frente de exposição ao coronavírus. A aglomeração e o confinamento próprios do trabalho facilitam a disseminação da Covid-19 entre os petroleiros, e o sindicato dos trabalhadores no Estado, o Sindipetro-RN, questiona a efetividade e os prazos das medidas tomadas pela empresa para lidar com o problema.
No momento já foram confirmados 19 casos na força de trabalho própria, sendo 6 casos na área de manutenção e 13 casos na operação. Segundo o Sindicato, não há segurança para os trabalhadores do Sistema Petrobras desde a hora do transporte até o trabalho nas unidades operacionais para garantir serviços essenciais à população.
Ao longo da última semana, o sindicato disse ter aumentado o número de denúncias, especialmente dos trabalhadores da unidade do Polo de Guamaré. A exemplo do que aconteceu há alguns dias em plataformas marítimas e outras áreas terrestres do Estado, as informações são de que vem se agravando rapidamente os índices de contágio, devido à falta de medidas efetivas de prevenção e combate a Covid-19.
Para o sindicato, o problema é que a Petrobras tem demorado a agir e algumas mediadas básicas ainda não estão sendo tomadas, como a realização de testes em toas as unidades operacionais. “Somente foram realizados testes em uma parte da turma que fechou o ciclo de 21 dias. Demais trabalhadores foram liberados para casa sem saber em quais condições estão com relação ao risco de contaminação pela doença”, denuncia o Sindipetro-RN, que tem alertado a empresa desde o início da pandemia por meio de ofícios.
Um quadro preocupante também foi identificado com relação aos motoristas dos veículos que transportam os trabalhadores e trabalhadoras para áreas operacionais, tanto empregados próprios quanto do setor privado. Sobre responsabilidade de superiores, não estão sendo submetidos a testes e averiguação de sintomas, como foi observado pelo Sindipetro-RN no dia 2 de junho, por ocasião do embarque para o Polo de Guamaré e plataformas da empresa.
“Em meio a tudo isso, o Sindicato fez várias cobranças solicitando providências rápidas à Companhia, por meio de documentos registrados e protocolados desde o início desta Pandemia, mas que, sequer, foram respondidos. O que nos leva a acreditar que é puro desprezo o que essa gestão, sob o comando de Castelo Branco, tem pelos trabalhadores e trabalhadoras”, afirma o Sindipetro-RN.
Direito do Trabalhador
Diante do grave e iminente risco de contágio da doença no ambiente de trabalho do Polo de Guamaré, plataformas marítimas e áreas terrestres, o sindicato abriu um canal para recebimento de denúncias e tem orientado os trabalhadores próprios e terceirizados sobre os direitos garantidos nos diversos Acordos Coletivos de Trabalho em vigor no âmbito das instalações da Petrobras, e suas subsidiárias, a exemplo do Direito de Recusa.
“É quando o empregado, no exercício de suas atividades, fundamentado em seu treinamento e experiência, após tomar as medidas corretivas, tiver justificativa razoável para crer que a vida e/ou integridade física sua e/ou de seus colegas de trabalho e/ou as instalações e/ou meio ambiente se encontre em risco grave e iminente, poderá suspender a realização dessas atividades, comunicando imediatamente tal fato ao seu superior hierárquico, que após avaliar a situação e constatando a existência da condição de risco grave e iminente manterá a suspensão das atividades, até que venha a ser normalizada a referida situação. Parágrafo único – A Companhia garante que o Direito de Recusa, nos termos acima, não implicará em sanção disciplinar.”
O Sindipetro-RN esclarece, ainda, que os trabalhadores também podem recorrer às medidas protetivas e preventivas adotadas pelos governos e empresas, por meio de decretos e normas. “O direito à saúde é previsto em várias leis de direitos humanos internacionais, sendo obrigação da Petrobras adotar e garantir que essas medidas visando a integridade física e a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras sejam cumpridas”.
Cobranças do SINDIPETRO-RN
Mais um ofício, em caráter emergencial, foi protocolado pelo Sindipetro-RN exigindo à Petrobras que todas as instalações e unidades da Estatal e demais empresas contratadas off-shore e on-shore do Estado, onde tenham sido registrados casos de Covid-19, sejam desinfectadas.
“A gerência destas unidades afetadas adotem as providências emergênciais e, portanto, imediatas, no sentido de não concentrar os trabalhadores em quaisquer áreas contaminadas e que promova a remoção de todos os trabalhadoras e trabalhadoras – próprios e terceirizados – para que sejam mantidos em quarentena e devidamente testados e que todas as instalações do polo industrial de Guamaré e demais áreas citadas sejam completamente desinfectadas”, diz o documento.
Uma cópia do ofício será enviada à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a todos os órgãos de fiscalização sanitária e trabalhista e autoridades estaduais e municipais onde a Petrobras, suas subsidiárias e coligadas e demais empresas contratadas mantém atividades produtivas operacionais ou em hibernação.