Oito pessoas ligadas ao garimpo e mineração ilegal em áreas de preservação ambiental ou Terras Indígenas (TI) foram eleitos ao Congresso Nacional. Em assembleias estaduais, dez candidatos se elegeram e 21 ficaram como suplentes. Tais números escancaram as consequências do discurso pró-garimpo realizado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), além de todas as medidas aprovadas em seu governo que beneficiaram o avanço desta prática em território nacional. As informações foram obtidas por meio de um cruzamento entre Agência Nacional de Mineração e Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Um dos principais nomes da lista é José Medeiros (PL-MT), deputado federal e vice-líder do governo Bolsonaro na câmara, que conquistou sua reeleição. Ele é autor do projeto de lei 571/2022, que prevê a adição no Código de Minas, a criação de “condições especiais ao exercício de atividade minerária em caso de interesse à soberania nacional”. Esse PL tem o objetivo de facilitar o avanço do garimpo e da mineração em terras protegidas. Além da criação desse projeto, o deputado já criticou “burocracias do licenciamento ambiental” do Ibama.
Entre os deputados federais reeleitos, é possível encontrar Éder Mauro (PL-PA). Ex-delegado da Polícia Civil e assassino confesso, teve uma atuação 100% negativa para o meio ambiente e os povos do campo, de acordo com o Ruralômetro elaborado pelo Repórter Brasil. Ele votou a favor da regulamentação do garimpo em Terras Indígenas, ampliação da posse de armas no campo e pela liberação de agrotóxicos cancerígenos. O deputado também é aliado do senador Zequinha Marinho (PL-PA), um dos principais nomes que advogam pela invasão de áreas protegidas pela mineração no Congresso. Líder da bancada da bala amazonense, Éder Mauro disse, em entrevista a um podcast: “Estou respondendo um monte de processo na Justiça por homicídio, invasão de propriedade e alguns por tortura, mas nenhum por corrupção”.
Para o Senado foi eleito Hamilton Mourão (Republicanos-RS), vice-presidente da república e que, durante seu mandato, teve múltiplos encontros com lobistas do garimpo. Em 2021, como mostrado pelo Observatório da Mineração, Mourão teve um encontro com José Altino Machado, fundador da União Nacional dos Garimpeiros e Dirceu Frederico dos Santos Sobrinho, Presidente da Associação Nacional do Ouro (ANORO). José Altino é responsável pelas três maiores invasões de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami nos anos 1970, 1980 e 1990, em Roraima.
“Nós ficamos com a responsabilidade de tomar conta do trabalho que nós temos na Amazônia, enquanto o Governo assume a responsabilidade de administrar. Não tem cabimento um pedido de licença ambiental ficar pendente por mais três anos no Governo. Essa questão da morosidade não pode acontecer. Ele entendeu tudo e se colocou à disposição para nos ajudar”, disse José Altino Machado após encontrar Mourão.
Joaquim Passarinho (PL-PA), outro deputado reeleito, é aliado político de Wescley Tomaz (MDB), conhecido como “vereador dos garimpeiros”. De acordo com a Agência Pública, os dois foram responsáveis pela articulação de um grupo de trabalho (GT) interministerial “que visa buscar soluções técnicas para tornar o garimpo irregular regular”. Passarinho também organizou encontros do vereador com grandes figuras políticas do governo Bolsonaro, como os ex-ministros Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Onyx Lorenzoni, candidato ao governo do Rio Grande do Sul.