Expulsos de suas terras nos anos 1940 e 50, não é novidade que o povo Guarani-Kaiowá vive um cotidiano de guerra civil no Mato Grosso do Sul. O conflito com grandes proprietários de terra, reflexo da falha política indigenista brasileira, vem se arrastando por décadas e acumulando cada vez mais vítimas.
A situação foi até motivadora de uma grande campanha nas redes em 2012, o que deu, pela primeira vez, visibilidade à questão. No entanto, três anos depois, o genocídio continua.
Segundo o relatório “Violência contra os Povos Indígenas do Brasil” do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em um ano foram registrados 41 assassinatos apenas no Mato Grosso do Sul, isso significa 29% do total nacional (138). O relatório referente a 2014 destaca também para o alto número de suicídios na região dos Guarani-Kaiowá, 48 do total nacional de 135. Como a cultura Guarani-Kaiowá é fortemente ligada à terra para viver e trabalhar, acredita-se que a falta de perspectivas desses indivíduos de reconquistarem seus tekoha (território sagrado) seja o maior motivador desses suicídios.
A bancada ruralista no congresso foi além, em uma tentativa de adiantar o processo de votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC-215), o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR), apresentou, no dia 2 de setembro, seu parecer favorável à proposta. Para a PEC seguir em votação na Câmara, o relatório ainda precisará ser debatido e aprovado pela Comissão Especial.
A PEC visa transferir do Governo Federal ao Congresso o poder sobre o reconhecimento de Terras Indígenas (TIs), quilombolas e zonas de conservação ambiental. Basicamente essa é tentativa de inviabilizar as demarcações pendentes e violentar os direitos dos índios.
Estudo produzido pelo Instituto Socio Ambiental (ISA) revela que a PEC impactaria diretamente os processos de demarcação de 228 TIs que ainda não foram homologadas. Essas terras representam uma área de 7.807.539 hectares, com uma população de 107.203 indígenas.