Com todo respeito a Pelé, mas Maradona foi MAIOR, dentro e fora de campo. Não se contam gols, mas carisma, magia e capacidade de fazer a diferença.
Por Walter Falcetta Júnior, jornalista
Pelé foi maravilhoso em campo (péssimo fora dele), mas sempre auxiliado por uma linha maravilhosa do Santos Futebol Clube.
Deram-lhe apoio Zito, Dorval, Mengálvio, Pepe e Coutinho. Lamento os santistas que valorizam menos esses monstros sagrados para sacralizar em excesso o ótimo Edson.
Maradona, índio, proletário, baixa estatura, rebelde desde criança, superou inúmeros e imensos obstáculos para se tornar a maior expressão mundial do ludopédio.
Começa no querido Argentino Juniors, surgido em Villa Crespo, da fusão do Sol de la Victoria com o Mártires de Chicago, esquadra operária de viés anarquista.
O clube sempre foi um celeiro de craques, na bola e na vida. Foi sempre o lugar onde a consciência política encontrou a glória lúdica do futebol.
Maradona, de rebelde, evoluiu a revolucionário, aprendendo que craque é sempre polivalente e atua onde a equipe lho necessita.
Tinha a biologia do talento, disruptiva, impossível de ser explicada pelas leis newtonianas. O giro rápido, o drible sobre si mesmo, a visão de jogo em 360 graus, a expressão solidária de ocupar o espaço e cobrir sem alarde a falha do companheiro.
Por isso, Maradona é maior. Porque jogava por todo o time. Era ao mesmo tempo o atacante, o meia, o volante e, não raro, dava bicudas na grande área.
Somente o maior de todos os tempos faria a diferença no bom Nápoli, mas ainda assim modesto em relação a outras equipes do calcio.
Somente o maior para garantir o triunfo máximo da Argentina, para oferecer solução a um time graúdo, competente, mas também limitado.
Maradona era um Garrincha deles, com inteligência tática incomparável, e a sabedoria elegante de seu ídolo e inspirador, Roberto Rivellino.
Fora de campo, Maradona era a explosão de humores, o erro, o acerto, o erro, mas muitos outros acertos. Na pele, tatuados o compatriota Che e o amigo Fidel.
Louco da vida com os imprensaleiros de má índole, soube tratá-los do modo que mereciam. E conosco, os éticos da profissão, foi atencioso e educado.
Ao mesmo tempo, foi um campeão das causas sociais. Solidário, amigo, chorava diante de um cidadão em situação de rua ou diante de uma criança enferma.
Maradona foi Chavez, Lula e Dilma, a palavra corajosa de apoio em favor da democracia e da justiça social.
Maradona, brincalhão, sincero, divertido, não fará falta ao mundo do futebol. Fará falta a este mundo falso, infectado e fascistizado.
A mão de Deus o chamou. Erguido aos céus, agora senta-se no trono das almas pias (e também imperfeitas), ao lado do outro mais maravilhoso amante da bola, Sócrates Brasileiro.
Amantes da sedição, jamais darão sossego a São Pedro. Arregimentarão querubins e serafins para montar loucas esquadras celestes. O anjo das pernas tortas já se escalou…
Se aqui nos rola uma lágrima, a torcida do paraíso se agita, alucinada e exultante.
Uma resposta
A saudade de Don Diego só aumenta vendo esse belíssimo texto. Parabéns Walter