Nem todos os evangélicos são Bolsonaro; respeitem as diferenças e o voto livre e secreto!

Evangélicos se rebelam contra a transformação de seus templos em palanques políticos
As igrejas evangélicas têm múltiplas características;. é preciso conhecer para não ter preconceito
As igrejas evangélicas têm múltiplas características;. é preciso conhecer para não ter preconceito

A Igreja Universal do Reino de Deus, na figura do bispo Edir Macedo, já se manifestou favorável à interrupção voluntária da gestação, ao aborto. O pastor Silas Malafaia, de um dos ramos da Assembléia de Deus, é contra. E também é contra ampliar os direitos da comunidade LGBTQIA+. Tal atitude é bem diferente da Comunidade Cidade de Refúgio, igreja evangélica de matriz neopentecostal liderada por um casal de lésbicas, as pastoras Lanna Holder e Rosania Rocha, para as quais Deus distribui seu amor igualmente entre todos. Pois é! As igrejas evangélicas são diferentes!

A bispa Sônia Hernandes, que já foi chamada de “Perua de Deus”, da Igreja Apostólica Renascer em Cristo adora assistir às sangrentas lutas de MMA enquanto se veste com roupas de grifes famosas (sem dispensar as jóias H. Stern, é claro!). Já o apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, nem sabe bem o que é uma grife. Para ele, o legal é usar um chapéu de vaqueiro e uma toalha branca no pescoço, que ele chama de “ungida” (depois de empapada de suor, ele a oferece aos milhares de fiéis que comparecem aos seus cultos; dizem que faz milagres).

Tem igreja evangélica para todos os gostos e humores.

Tem a Bola de Neve, do surfista e empresário Rinaldo de Seixas Pereira, mais conhecido como Apóstolo Rin, cujos cultos são celebrados em um altar em forma de prancha, ao som de reggae e rock. Bolsonaro copiou a imagem, no início de seu governo.

Tem o Ministério de Louvor Diante do Trono, da cantora, compositora e pastora Ana Paula Valadão, que já entrou em um culto vestida com uniforme militar, para ordenar a todas as mulheres presentes que “batessem continência para o General Jesus”, e “erguessem suas Bíblias como se fossem armas para derrotar os inimigos da família, inimigos da vida financeira, inimigos do chamado ministerial e da vida profissional”.

A amostra já deu? Pois tem muito mais. É só percorrer as ruas das grandes cidades para ver quantas milhares de combinações produzem as palavras-chave Ministério, Amor, Jesus, Cristo, Caminho, Luz, Senhor, Deus, Jeová, Canaã, Igreja, Missão, Missionário, para formar nomes de igrejas.

São denominações minúsculas, instaladas tantas vezes na garagem da casa do pastor, até chegar a outras, gigantescas, com milhões de fiéis e sistema de rádio e TV. Encontram-se nos bairros ricos, nas periferias, nas aldeias indígenas, nas cadeias. Nos quilombos e nos muquifos.

Cada uma vem com sua visão de mundo, estratégia de sobrevivência, formas de arrecadação de fundos.

Há as que aceitam cartão de crédito e débito, as que só trabalham com dinheiro e as que não estão nem aí para o vil metal, como uma que encontrei em Tocantins, que só aceita doações em mandioca, para alimentar a fábrica de farinha que funciona atrás do templo pobrezinho.

Tal diversidade explica-se pela origem. A nota mais característica da Reforma Protestante de Martinho Lutero (século 16) é exatamente aquela que deu a cada leitor da Bíblia o poder de acessar a palavra de Deus sem intermediários –na tradição católica, esse papel é monopolizado pela Igreja e seus sacerdotes. É, portanto, constitutiva do protestantismo a polifonia de interpretações sobre a religião, a moral e a vida.

Esqueça o “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, vigente entre os católicos. Discordou do pastor, dos métodos, dos cânticos, dos ensinamentos? Vá para outra igreja! Ou, se não houver nenhuma boa o suficiente para os seus propósitos e sonhos, funde a sua própria!

Eis a razão por que é tão estúpido o preconceito contra os evangélicos. Porque trata todos como se fossem iguais, como se acreditassem nas mesmas coisas, como se tivessem um pensamento único, um só líder (como o papa), uma só hierarquia (como a Católica).

Aliás, a rivalidade atual, verdadeira guerra fratricida cheia de denúncias recíprocas, entre a Igreja Universal do Reino de Deus (do bispo Edir Macedo) e a sua dissidência, a Igreja Mundial do Poder de Deus (do apóstolo Valdemiro Santiago) mostra que, às vezes, o maior inimigo de uma igreja evangélica é… outra igreja evangélica.

Bolsonaro (PL), portanto, não é o representante dos mais de 42,3 milhões de brasileiros evangélicos (Censo IBGE 2010) na disputa presidencial.

Evangélicos contra Bolsonaro
Evangélicos contra Bolsonaro

Ele quer ser, mas há uma diferença imensa entre querer e conseguir. Hoje cresce o mal-estar entre evangélicos contra a transformação de suas igrejas em palanques eleitorais pró-Bolsonaro. Cresce entre evangélicos a revolta com a demonização de Lula que vem sendo praticada por vários líderes espirituais.

Os verdadeiros cristãos não demonizam pessoas (“Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!” – Jo 8,1-11). Não questionam a salvação delas. Não fazem guerra. Não manipulam as ovelhas para conquistar seus votos.

O “voto de cabresto”; o chamado “curral eleitoral”, é o contrário da Democracia. Hoje, muitos evangélicos manifestam-se incondicionalmente em favor do direito ao voto consciente, livre e secreto. Manifestam-se favoráveis a que haja respeito e paz entre os fiéis. E isso não se faz impondo esta ou aquela candidatura!

Veja as referências usadas para explicar as divergências entre as denominações citadas neste artigo:

Edir Macedo, a Igreja Universal do Poder de Deus e o Aborto:

Leia aqui sobre a Bispa Sonia Hernandes

COMENTÁRIOS

POSTS RELACIONADOS

Regime de urgência para retirar a “função social da terra” da lei 8629/1993 é aprovado a toque de caixa

O projeto é visto como tentativa da bancada ruralista de enfraquecer a reforma agrária e flexibilizar normas ambientais e sociais, favorecendo o agronegócio e grandes proprietários. Especialistas alertam que a medida pode aumentar a concentração fundiária, expulsar comunidades tradicionais e comprometer a justiça agrária e ambiental, agravando desigualdades e conflitos no campo.

O direito do trabalho ainda respira

Danilo Santana, estudante Direito da PUC-SP O Direito do Trabalho ainda respira. Mesmo que esteja por aparelhos, ainda existe uma salvação, apesar dos esforços do