Até para quem nunca acreditou que a Ditadura Militar havia dado cabo da corrupção, são estarrecedoras as notícias sobre superfaturamentos de vacinas e insumos médicos, tráfico de influência e toda a sorte de crimes cometidos por generais, coronéis e outros oficiais do Exército (da ativa ou da reserva), secundados por cabos e sargentos de várias polícias militares.
Também são impressionantes as cifras envolvidas. Tudo na casa dos bilhões de reais! O pior é que toda essa ciranda de malfeitores gira em torno da figura do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, que até agora só se provou um anti-Messias, um anti-Cristo capaz de colocar os seus interesses acima de tudo e a sua curriola militar acima de todos.
Quinhentos e vinte mil brasileiros perderam a vida, graças à incúria e corrupção reinantes no Ministério da Saúde transformado em caserna.
A CPI da Covid está mostrando por que o Ministério da Saúde foi colonizado pelos militares, que se apossaram dos cargos mais importantes, aqueles capazes de fazer as compras vultosas de suprimentos, remédios e vacinas. No total, mais de 30 militares foram alocados em postos-chave na administração da maior crise sanitária da História do País.
Seria de esperar que fossem apenas incompetentes, já que não possuem conhecimentos médicos e nem de saúde pública que os credenciassem ao exercício das funções a eles delegadas. O que não se esperava é que dessem mostras de tamanha avidez no trato do dinheiro público.
E os escândalos com militares só crescem:
O tenente-coronel do Exército Marcelo Blanco, por exemplo, que foi que foi assessor no departamento de logística do Ministério da Saúde na gestão de Roberto Ferreira Dias (exonerado nesta quarta-feira, depois de denúncia de cobrança de propina para a aquisição da vacina AstraZeneca) já foi convocado a depor na CPI.
Blanco era o sujeito que ficava fazendo contas enquanto Roberto Ferreira Dias exigia da empresa Davati Medical Supply a propina de 1 dólar por dose da vacina para assinar contrato com o Ministério da Saúde. A Davati estava negociando 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca, ao custo 3,5 dólares cada, totalizando 1,4 bilhão de dólares.
Se a negociação prosperasse, cada dose seria vendida por 4,5 dólares, num total de 1,8 bilhão de dólares, dos quais 400 milhões de dólares seriam destinados apenas ao pagamento da propina pedida. Na cotação de hoje (30), esses 400 milhões de dólares equivalem a 2 bilhões de reais!
A exoneração de Roberto Ferreira Dias, feita apenas um dia depois que o representante da Davati, Luiz Paulo Dominguetti, um ex-cabo da PM mineira, denunciou a roubalheira na “Folha de S.Paulo”, é praticamente uma confissão de culpa.
Dias foi indicado ao cargo pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), o mesmo que apareceu implicado nas denúncias do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e de seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda. Na CPI, os irmãos Miranda denunciaram as pressões absurdas exercidas por militares do ministério, com o intuito de passar a boiada nos regulamentos sobre compras de insumos. O objetivo das pressões: viabilizar a compra suspeita da vacina indiana Covaxin (mesmo sem o aval da Anvisa), pela qual o governo federal pagaria 1,6 bilhão de reais, 1.000% a mais do que seria pago por dose da vacina da Pfizer.
Ricardo Barros foi ministro da Saúde durante o governo de Michel Temer. E parece ter tomado gosto pelo dinheiro grosso que rola no ministério, e que deveria ser usado no cuidado da população brasileira.
O Ministério Público Federal moveu ação contra Ricardo Barros por contratos firmados com empresários controladores das mesmas empresas agora investigadas como intermediárias na compra da vacina indiana Covaxin, a Precisa e a Global.
Em 2017, a Global recebeu antecipadamente R$ 20 milhões por medicamentos de doenças raras que nunca chegaram às mãos de pacientes da rede pública. Acontece que a Global é sócia da Precisa Medicamentos, que fechou contrato para a venda da Covaxin –de novo com pagamento 100% antecipado.
Seria apenas mais um entre tantos emedebistas envolvidos em negócios difíceis de explicar, para não falar em falcatruas. Mas Barros parece ter conseguido envolver os principais militares do Ministério da Saúde.
O coronel da reserva do Exército Roberto Criscuoli disse ao Estadão ter sido o responsável por fazer a ponte entre a Davati Medical Supply e o Ministério da Saúde. Criscuoli, que tinha livre acesso ao também militar, o ex-ministro Eduardo Pazuello e ao ex-secretário-executivo do ministério, Élcio Franco, afirmou ao jornal “O Estado de S.Paulo” que encaminhou a Davati para uma conversa com Rodrigo de Lima Padilha, funcionário terceirizado do Ministério da Saúde, ligado ao coronel Pedro Geraldo Pinheiro dos Santos, à época diretor do Departamento de Economia da Saúde, Investimentos e Desenvolvimento do Ministério (DESID).
O coronel Élcio Franco, que era considerado o “número 2” no Ministério da Saúde durante a gestão do general de divisão Eduardo Pazuello, concentrou decisões durante a pandemia — inclusive sobre a negociação de compra de vacinas. Franco era chefe do tenente-coronel Alex Lial Marinho, que é citado por Luis Miranda como autor da “pressão atípica” para liberar o contrato da Covaxin.
E por aí vai.
De incompetência para roubalheira, e da roubalheira para a incompetência, as denúncias envolvendo militares avançam na CPI. Uma vergonha para o “glorioso” Exército Brasileiro, agora submergido no lago de piche espesso e fervente destinado por Dante Alighieri aos corruptos que tiram proveito da confiança que a sociedade deposita neles. É o inferno!
3 respostas
Hora de escancar quem é esse pessoal que ocupa as FA. De fazer a população perceber quw não passam de inúteis, imprestáveis, parasitas e inclusive corruptos ladrões
Se aproveitaram da morte de milhares. Isso não vai ficar impune. Militares sempre sujarem a história desse país desde o golpe de 64 ao desgoverno bolsonaro
Vergonhoso…