Migrantes: Pandemia atinge duramente trabalhadores de confecções em SP

Oito em dez migrantes ficaram sem renda nas oficinas de costura de SP na pandemia
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Foto: Sato do Brasil

A pandemia de COVID-19 afetou a renda de oito em cada dez trabalhadores de confecções da cidade de São Paulo ouvidos em pesquisa da organização não-governamental britânica Business and Human Rights Resource Centre. A grande maioria destes trabalhadores são mulheres, migrantes, bolivianas, que viram sua renda cair drasticamente após queda nos pedidos de clientes e redução do valor pago por seu trabalho.

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Foto: Fran Hogan / Unsplash

A moda é uma das indústrias mais atingidas pela pandemia de COVID-19. As perdas em meio à crise têm impactado, em escala global, a vida das(os) trabalhadoras(es) em toda a cadeia de produção. A situação no Brasil não é diferente. A pandemia continua expondo e exacerbando as desigualdades sistêmicas do país, e tem atingido diretamente os meios de subsistência de diversos grupos de trabalhadores, sobretudo aqueles pertencentes a setores mais marginalizados. Nesse contexto, este relatório analisa como a pandemia está afetando um dos grupos mais vulneráveis da cadeia produtiva da indústria da moda em São Paulo: as trabalhadoras e trabalhadores migrantes.

Mascarando a Miséria: A pandemia de COVID-19 e as(os) trabalhadoras(es) migrantes da indústria da moda de São Paulo

Esse relatório foi divulgado em dezembro de 2020, “Mascarando a Miséria: A pandemia de COVID-19 e as(os) trabalhadoras(es) migrantes da indústria da moda de São Paulo”.

A pesquisa aplicou um survey online entre 21 de julho e 16 de setembro de 2020 com 146 entrevistados entre 17 e 65 anos, com média de idade de 34 anos, moradores de São Paulo ou região metropolitana. Como a amostragem é limitada, é difícil atestar que os dados da pesquisa sejam representativos dessa população na capital. As mulheres são 73% das entrevistadas.

Segundo Marina Novaes, pesquisadora e representante do Human Rights Research Center no Brasil, “o perfil é o de migrantes, bolivianas, que trabalhando e vivem no mesmo espaço, sem a segurança de um emprego formal. Elas são um perfil mais vulnerável aos efeitos negativos da pandemia”.

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Foto: Volha Flaxeco / Unsplash

Principais Conclusões

• Três em cada quatro entrevistados relataram redução do preço pago por peça produzida em confecções de São Paulo

• Nove em cada dez entrevistadas(os) (87%) sentiu uma mudança drástica em seus rendimentos

• Seis em cada dez das(os) respondentes informaram que estão tendo dificuldades para se alimentar durante a pandemia, e 22% das(os) respondentes indicaram problemas em pagar as contas e não entrar em dívidas

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Foto: Sato do Brasil

A grande maioria dos entrevistados (89%) vive no mesmo local onde trabalha, em casas geralmente alugadas por donos das oficinas. 56% dos respondentes possuem filhos em idade escolar e, destes, 30% não tinham acesso à internet para acompanhar as atividades de educação à distância.  “São espaços pequenos, precários, onde o trabalho é o mais importante. O espaço para a família é o de menos. O principal é produzir mais e ganhar mais. Por isso também chamou atenção o fato de que muitos viram na pandemia uma oportunidade para ficar mais tempo com a família”, diz a pesquisadora.

Entre os ouvidos pela pesquisa, 91% ainda relataram queda nos pedidos no início da pandemia e 42% disseram que os negócios não retomaram à normalidade. Três em cada quatro relataram que os preços pagos pelas encomendas caíram, impactando negativamente sua renda.

Como a maioria é informal (87%), 42% do entrevistados relataram ter ficado totalmente sem renda e 45% viram a renda diminuir consideravelmente. Já 64% recebem ou receberam auxílio emergencial, e 61% relataram dificuldades de acesso a alimentos.  “A pandemia agravou uma situação que já é de vulnerabilidade entre esses trabalhadores. E que também acaba sendo sentida na Bolívia, já que 93% não conseguiu enviar dinheiro aos familiares no período”, diz Novaes.

Como são quase todos informais com salário medido por peça produzida, a queda nas encomendas teve grande impacto na renda destes trabalhadores, como captou a pesquisa. “Como a maioria ficou sem trabalho no início da pandemia, 84% acabou costurando máscaras. Alguns disseram que produziram por cinco centavos máscaras que seriam vendidas depois por cinco ou dez reais”, diz Novaes.

O Brasil tem a quarta maior indústria de moda do mundo, com mais de 70 mil empresas, a maioria pequenas confecções. Trata-se da segunda indústria que mais emprega no país, oferecendo 1,3 milhão de vagas no mercado de trabalho formal, segundo dados Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Vestuário (Abit). Mas nem tudo é glamour. Na cidade de São Paulo, trabalhadores migrantes, a maioria bolivianos, fazem parte da cadeia de suprimentos. Oficialmente, são 75 mil bolivianos vivendo em São Paulo, segundo a Polícia Federal, número que pode chegar a 300 mil, segundo organizações não governamentais.

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Foto: Sato do Brasil

Saúde mental e recomendações

A pandemia também afetou a saúde mental dos entrevistados. O sentimento mais prevalente foi o medo, relatado por 82%; já 36% se disseram desesperados e 34% ansiosos, mas também há esperançosos – 17,8%. Entre os que responderam a pesquisa, 83% não conhecem ninguém que morreu de COVID-19 e 46% não conhecem ninguém que haja se infectado. Apenas 10% fizeram o teste.

O relatório faz recomendações ao poder público como mapear populações migrantes e incluí-los na rede pública de proteção social. Também pede a definição políticas de combate à exploração do trabalho e intensificação da fiscalização. Para as empresas, a recomendação é mapear cadeia de suprimentos, realizar devida diligência para identificar, prevenir e mitigar riscos e impactos negativos em suas cadeias produtivas, assim como garantir aos trabalhadores a liberdade de se organizar e se fazer representar em acordos de negociação.

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Foto: Sato do Brasil

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Acesse o relatório completo

https://media.business-humanrights.org/media/documents/mascarando_a_miseria_FINAL_AGXfBsi.pdf

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Conheça o Centro de Informação sobre Empresas e Direitos Humanos

https://www.business-humanrights.org/pt/

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Outras matéria sobre migrantes e pandemia

https://jornalistaslivres.org/como-e-o-atendimento-aos-migrantes-venezuelanos-durante-a-pandemia/

https://jornalistaslivres.org/prefeitura-de-sp-aproveita-se-da-pandemia-para-limpar-a-cracolandia/

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