Menino de 12 anos sofre racismo durante jogo no Clube Pinheiros

A partida foi interrompida pelas falas repletas de racismo da torcida do Pinheiros e a criança saiu da quadra chorando
Jogador sub-13 sofreu racismo da torcida do Pinheiros. Foto: Reprodução/Twitter.
Jogador sub-13 sofreu racismo da torcida do Pinheiros. Foto: Reprodução/Twitter.

Menino negro de 12 anos, jogador de basquete do Palmeiras, sofreu racismo durante uma partida contra o Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, no último domingo (18). A comissão técnica palmeirense optou por retirar o time de quadra, e o jogo foi suspenso por “situação grave ocorrida”. O Clube Pinheiros não se manifestou sobre o caso. 

De acordo com a mãe da criança, as injúrias raciais começaram quando o menino se chocou com um jogador do time adversário. A colisão foi forte, e o atleta do Pinheiros teve que ser atendido em quadra. Então, uma mulher do time da casa começou a chamar o menino de “animal” e a xingá-lo com palavrões, insinuando que ele havia agredido o rival. Outros torcedores passaram a ofender o menino também, que saiu da quadra chorando. 

Em entrevista para o Estadão, a mãe afirmou que chamou a polícia e fez boletim de ocorrência. Apesar de os torcedores afirmarem que o menino foi agressivo com o adversário, a mãe ressaltou que ambos são amigos há muito tempo e que foi um lance normal. O diretor de basquete do Palmeiras, Luiz Bejczy, confirmou a versão da mãe: “Todos eles têm 1,90m, mas são todos crianças”, afirmou.

Um homem chegou a se desculpar pela mulher que iniciou as ofensas ao menino. A mãe do atleta palmeirense se dispôs a ouvi-la, mas ela foi embora quando a polícia chegou. O Palmeiras está dando suporte ao jogador de 12 anos e sua família, incluindo atendimento psicológico. 

Luiz Bejczy relatou ainda que o departamento jurídico irá notificar o Pinheiros, ressaltando que é dever do clube apurar internamente os fatos para identificar os autores da ofensa. Segundo o treinador Gustavo Rocha, a comissão técnica por pouco não foi agredida por torcedores rivais. Luiz Bejczy relatou que esta não é a primeira vez que jogadores palmeirenses são alvos de comentários racistas durante as partidas. 

O Clube Pinheiros já é conhecido pelos casos de racismo. O mais emblemático foi o caso contra Ângelo Assumpção, atleta negro de ginástica artística, em 2015. Na época, a seleção masculina brasileira estava em Portugal treinando para os Jogos Pan-Americanos de Toronto, Canadá.

Durante a estadia, o ginasta Arthur Nory Mariano publicou vídeos na rede social Snapchat em que fazia ofensas racistas contra Ângelo, com Felipe Arakawa e Henrique Flores. O trio fazia declarações como: “O saquinho de supermercado é de que cor? É branco! E o de lixo, é de que cor? É preto”. 

Após o vídeo repercutir nas redes sociais, os atletas pediram desculpas e alegaram estar “apenas brincando”. Arthur Nory tornou-se medalhista de bronze nas Olimpíadas de 2016. 

Já Ângelo passou a ser “escanteado” pelo time e continuou sofrendo ofensas racistas. Em 2019, após uma suspensão de 30 dias, ele foi demitido do time por, de acordo o documento interno que recebeu, não respeitar “a hierarquia ao levar reclamação para a gerência de esporte”. Até hoje, Arthur Nory é um astro do Clube Pinheiros. Uma auditoria interna, em 2019, apontou que atletas sofriam assédio moral e racismo dentro do clube. No entanto, a diretoria se posiciona de forma a desacreditar os relatórios produzidos e as denúncias feitas. “Tomei ciência desse relatório em junho. Conversando internamente, a gente notou que tinham carregado um pouco na tinta”, afirmou Arnaldo Queiroz Pereira, o qual foi diretor de Esportes Olímpicos e Formação do Pinheiros entre 2003 e 2007 e depois de 2015 a 2019.

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