Linchadores malham o MST em bairro de classe média de Curitiba

Moradores e pessoas que passam pelo bairro curitibano chamado Juvevê, de classe média alta, estão sendo surpreendidas nesta tarde de sábado com a grotesca imagem de um Judas enforcado e pendurado em uma árvore. Detalhe: o Judas veste camiseta e boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Para evitar qualquer simpatia pelo boneco, o autor da provocação explicou em um cartaz: “Não Sou a Joana D’Arc. Não me queime. Fui enforcado. Não me malhe. Já estou morto.” Na camiseta vermelha do MST, lê-se o escrito sarcástico “Ezercito do Estédile e do Lula”, referindo-se ao dirigente João Pedro Stédile, do MST.
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O boneco enforcado, um símbolo da intolerância política e do clima de ódio que campeia no Brasil, foi colocado por volta das 11h30 na frente do Restaurante Paraguassu Grelhados, na rua Machado de Assis, 525, esquina com a rua Moisés Marcondes. Permanece no local até agora (15h30), enquanto, no restaurante lotado, os comensais ora riem e se divertem com a cena, ora fingem não ver a obra.
Poderosas motocicletas Harley Davidson estão estacionadas na porta do restaurante.
“São pessoas que nunca passaram necessidade, que nunca precisaram lutar por nada, porque tudo lhes veio com facilidade. Não podem entender o que é ser um sem-terra lutando por um mínimo de dignidade”, disse o jovem estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que se chocou ao ver a imagem. Ele disse que sentiu “vergonha” por sua cidade. E preferiu não ser identificado por temer represálias.

Aqui vc pode ver a entrevista com o homem que fez a malhação do MST.

Segundo um garçom do restaurante, foi um cliente que pendurou o boneco na árvore. O autor da provocação (trajando camiseta com o rosto do juiz Sérgio Moro, e de dois procuradores da força-tarefa do Ministério Público Federal no Paraná, com a inscrição “República do Paraná”), deu entrevista aos Jornalistas Livres e afirmou: “O Exército do Stédile não significa nada. O nosso exército na rua, esse é que importa. Até juízes do Supremo um dia perdem o sono.”

A Coordenação Estadual do MST no Paraná disse que a agressão não intimida a organização pela Reforma Agrária: “Estamos num momento de acirramento na luta por direitos. Cada vez mais, vemos crescendo um pensamento neofascista, a partir de pessoas da extrema direita que têm raiva dos trabalhadores e de todos os que se organizam para conquistar direitos. Essas pessoas, geralmente ricas, da classe média alta, formam opinião a partir da grande mídia e de veiculos que incitam o ódio, como a Rede Globo e a Veja. Esse episódio [do boneco enforcado] não nos intimida, só nos dá mais estímulo para nossa luta por mais direitos, seja pela terra, no campo, ou por melhores condições de vida na cidade para a classe trabalhadora.”

O Paraná, sede da Operação Lava Jato, já teve dias melhores. Em 1984, apoiados pela Comissão Pastoral da Terra, representantes dos movimentos sociais, sindicatos de trabalhadores rurais e outras organizações reuniram-se em Cascavel, Paraná, no 1º Encontro Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Lá foi fundado o MST que agora é linchado na rua.

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