“Quer ser homem, então vou te tratar como homem”. Foi assim que se iniciou a série de ataques machistas e lesbofóbicos do vereador Eduardo Gomes (PSOL) contra a vereadora Verônica Lima (PT), na Câmara dos Vereadores de Niterói, na tarde de ontem (07).
Aos berros, o vereador mandou que a parlamentar calasse a boca e em seguida avançou em direção à vereadora para agredi-la e teve que ser contido por colegas da Casa Legislativa.
“Estive na delegacia, formalizei a queixa da violência sofrida e também irei abrir uma representação oficial por quebra de decoro parlamentar. Infelizmente, o desrespeito direcionado a mim pelo parlamentar não começou agora e está se intensificando cada vez mais”.
Verônica Lima, assumidamente lésbica, se tornou a primeira mulher negra e LGBTQIA+ eleita para a Câmara de Niterói e, por muitos anos, foi a única representante no Parlamento.
“Tenho uma missão junto ao povo, não vão me intimidar, nem me calar!”, declarou a parlamentar.
Os ataques e a perseguição de Paulo Eduardo Gomes contra a vereadora são constantes na Casa Legislativa. Segundo a parlamentar, este é só mais um episódio escancarado de violência política contra mulheres lésbicas.
“Somos constantemente constrangidas, desrespeitadas e intimidadas, mas não recuaremos! É importante se atentar para o fato de que essas formas de opressão ainda são muito recorrentes. Vou ocupar esse espaço que é meu por direito e exercer meu mandato com todas as prerrogativas”, disse Verônica Lima.
“Quando Paulo Eduardo questionou se eu queria ser homem e disse que ia me tratar como homem, quis me constranger pela minha orientação sexual. Não quero ser homem! Sou uma parlamentar com diversas produções legislativas que dispõem sobre a violência contra as mulheres e o combate às opressões”, explicou a vereadora.
“Quero poder viver com dignidade e liberdade sendo mulher, e desejo que todas nós possamos ter nossos direitos assegurados. Atitudes machistas, lesbofóbicas e intimidatórias como a de Paulo Eduardo têm que ser devidamente responsabilizadas”, continuou a parlamentar.
“Não faço isso apenas por mim, mas por todas as mulheres e LGBTQIA+. Tenho orgulho de ser quem sou e exijo respeito!”, publicou em rede social.
PSOL em silêncio
O PSOL, que sempre se mostrou tão rápido para defender outras pautas, está em completo silêncio sobre o caso. Após o ocorrido, o partido fez diversas publicações sobre outros assuntos e no dia de hoje (08), não ousou fazer uma publicação sequer.
Pelo Twitter, ativistas cobram um posicionamento do partido – que sempre disse caminhar ao lado da comunidade LGBTQIA+.
Jean Wyllys, que recentemente deixou o partido e se filiou ao PT, declarou solidariedade à Verônica Lima no Twitter e pontuou “Enfrentaremos a homofobia onde quer que ela se manifeste”.
Questionado por e-mail sobre qual o posicionamento do partido perante a agressão do vereador, o PSOL não respondeu até o fechamento desta reportagem.
Organização feminista repudia ataque e chama ato em solidariedade à vereadora
A Coletiva Feminista das Lésbicas e Bissexuais de Niterói (COLE) emitiu uma nota de repúdio diante do machismo, lesbofobia e racismo. A organização também chamou uma manifestação hoje (08), às 16h, em frente à Câmara de Vereadores de Niterói para denunciar a agressão e prestar solidariedade à vereadora.
“‘Você quer ser homem? Vou te tratar como homem!’
Frase proferida aos berros pelo Vereador Paulo Eduardo Gomes à Vereadora Verônica Lima junto com várias agressões machistas e lesbofóbicas.
O vereador apontou o dedo para à vereadora, e ordenou que ela calasse a boca. Não satisfeito, o então vereador, Paulo Eduardo avançou na direção da vereadora, que é lésbica, e disse que se ela “queria ser homem”, dali em diante, iria “tratá-la como homem”, ele precisou ser contido pra não haver violência física.
Frases como essa são caras para nós LBT, que escutamos em toda nossa vida quando tentam atingir nossa sexualidade e até mesmo quando somos vitimas de estupro corretivo. Não foi só Verônica atingida e sim todas nós!
Não vamos mais aceitar! Não irão nos calar! Verônica é uma parlamentar eleita engajada no combate à violência contra as mulheres, discriminação e LGBTIA+fobia. É uma de nós!
Esta atitude também é uma afronta à democracia por impedir a atuação de uma parlamentar através da agressão.
Declaramos aqui nosso repúdio, não podemos naturalizar o ataque do Vereador Paulo Eduardo, esperamos de um parlamentar que se posiciona à esquerda, zelo pela nossas vidas e os nossos corpos, lutar contra as opressões passa pela sua prática política.
Exigimos que o mesmo seja denunciado na Comissão de Ética da Câmara Municipal de Vereadores e que aconteça justiça.
Demonstramos aqui a solidariedade da COLE à vereadora Verônica Lima!! Mexeu com uma: mexeu com todas!
A nossa solidariedade será por meio da nossa expressão sapatão, denunciando publicamente qualquer postura machista, racista e lesbofóbica nos espaços de poder e em qualquer instância”.
Veja também: Sequência de crimes de ódio contra travestis e mulheres trans no Recife
Uma resposta
O Psol se pronunciou!!