Categorias e movimentos sindicais foram ontem vitoriosos na sessão da Câmara Municipal de Florianópolis contra os ataques fascistas à Greve Geral. Mas hoje, a partir das 16 horas, terão novo embate com vereador do MBL para defender o Sindicato dos Trabalhadores no Transporte Urbano (Sintraturb) e as centrais sindicais das tentativas de retaliação à greve de segunda.
Militantes sociais e lideranças sindicais garantiram derrota do vereador ontem. Foto: Jerônimo Rubim
Depois de sofrer fragorosa derrota em projeto de lei contra acordo de cooperação internacional entre Florianópolis e Havana (Cuba), o vereador Bruno Souza, que se autonomeia um adepto do “liberalismo radical”, retirou de pauta a moção de repúdio contra o Sintraturb e centrais sindicais que tentou aprovar ontem ao anoitecer, em sessão da Câmara Municipal. Acuado pela forte presença de trabalhadores e dirigentes sindicais e ridicularizado por outros vereadores como “caçador de comunistas”, Bruno preferiu recuar, fazendo com que a votação fosse adiada para hoje às 16 horas. A ofensiva é apontada como uma reprimenda do prefeito Gean Loureiro (PMDB) aos trabalhadores do transporte urbano, que garantiram o sucesso da greve geral pela Previdência Social com a paralisação total dos ônibus na segunda-feira.
Com apoio da bancada de esquerda e das entidades democráticas em defesa ao direito de greve, o Sintraturb, CUT e centrais sindicais em geral estão chamando para uma nova mobilização hoje. Segundo a direção do sindicato, a moção “tem o claro objetivo de constranger e criminalizar a justa luta dos trabalhadores pela manutenção de seus direitos”. O vereador, cujo foco é atacar os movimentos sociais e defender o avanço do capital sem restrições dos direitos trabalhistas, ameaça com outros projetos que levam à privatização do serviço público e permitem a circulação de transporte coletivo pago para sabotar as greves.”Vamos voltar à Câmara de Vereadores hoje com ainda mais apoio para mostrar que a greve é de todos os trabalhadores, não apenas dos motoristas e cobradores, afirma Deonísio Linder, coordenador do Sintraturb. “Estes ataques vêm justamente no momento em que vamos iniciar uma das mais difíceis campanhas salarias dos últimos anos, com a nova lei trabalhista em vigor”.
Vereador Lino Peres (PT) durante a sessão: “A moção tem como objetivo retaliar o Sintraturb pela adesão corajosa à Greve Geral”. Foto: Jerônimo Rubim
O alerta de que a moção contra as entidades sindicais havia sido protocolada por Bruno na Câmara Municipal foi feito pelo vereador Lino Peres ao final das manifestações da greve geral de segunda-feira, em frente ao Ticen (Terminal Central). Do alto do caminhão de som, Lino informou os manifestantes que a medida fazia parte das investidas do prefeito Gean Loureiro para perseguir o Sintraturb. Depois da sessão, o vereador Afrânio Boprré (PSol) informou que hoje apresentaria um requerimento propondo que os dirigentes do Sintraturb (Deonísio Linder) e da CUT/SC (Ana Júlia Rodrigues), tivessem direito a cinco minutos de pronunciamento antes da votação. Além de Lino Peres (PT), Afrânio Boppré (PSol), Marquito (PSol) e Lela (PDT), que integram a bancada da oposição, fizeram vigorosos discursos contra as ofensivas do vereador.
Na tentativa desesperada de sabotar o movimento e agradar os empresários e políticos patrões a favor das reformas antitrabalhistas, Bruno Souza divulgou em sua página do Facebook que estava colocando um veículo particular com sete lugares para levar os fura-greve ao trabalho. Na foto, contudo, a van aparece vazia.
Vereador Bruno Souza, ligado ao MBL, pertence ao Partido Socialista Brasileiro, mas se dedica a atacar sindicatos, trabalhadores e movimentos sociais
DERROTA ESMAGADORA DE PROJETO FASCISTA
Defensor do golpe, das reformas que destroem os direitos trabalhistas e da retirada intransigente do Estado de todas as políticas sociais, o vereador Bruno Souza ficou desnorteado com a falta de acolhida de sua proposição hostil a Cuba no plenário da Câmara de ontem (20/2). Considerado mais uma das suas bizarrices anticomunistas, o projeto de lei de sua autoria sofreu vergonhosa derrota de 15 a 3. Visto como perda de tempo e gasto do erário público pela oposição e até pela maioria da base governista, o projeto pretendia revogar um acordo bilateral de cooperação entre a Ilha de Santa Catarina (Florianópolis) e a cidade de Havana (capital de Cuba), que foram declaradas cidades-irmãs já em 1994.
Apesar da perseguição ferrenha a toda política
Greve Geral foi vigiada por forte policiamento militar, solicitado pelo vereador
pública que se aproxima de uma sociedade do bem-estar social, o vereador Bruno se esconde sob uma sigla que carrega o nome do socialismo, o Partido Socialista Brasileiro (PSB), no qual ingressou como apadrinhado de Jorge Bornhausen, político que comandou, desde o golpe de 64, o reinado das oligarquias no governo de Santa Catarina. Na prática, contudo, Bruno se liga ao MBL na defesa de projetos fascistas, como o Escola Sem Partido e privatização do serviço público. Seus eleitores apoiam a candidatura de Bolsonaro, pedem intervenção militar e volta da ditadura. Recentemente se envolveu na imposição judicial do Seminário “Vítimas do comunismo” na Universidade Federal de Santa Catarina, mesmo contrariando a autonomia da instituição, que não viu no evento qualquer relação pedagógica ou científica com os projetos acadêmicos.
Manifestações pacíficas caracterizaram a Greve Geral em Florianópolis
Como o mesmo tratado de cooperação existe com outras 17 cidades de todo o mundo, incluindo Mar Del Plata, Argentina e San Diego (EUA), a maioria dos vereadores considerou a proposta fruto de senso comum de vertente fascista, sem efeito benéfico para Florianópolis. O vereador Lino Peres (PT) subiu à tribuna para mostrar o caráter ideológico e preconceituoso do projeto e foi seguido por vários outros vereadores na defesa das vantagens do acordo para Florianópolis. “Esse é o momento de abrir portas e não de fechar. Para além de todas as óbvias vantagens de se ter uma cidade com tal história, cultura e conhecimento técnico em diversas áreas como parceira, é também uma questão de irmandade entre os povos, tão necessária no mundo de hoje!”, afirmou ele. Houve direito à dança e canto de Chan Chan, do tradicional grupo caribenho Buena Vista Social Club.
Atualmente 20 mil pessoas trabalham como cobradores de ônibus na cidade de São Paulo
Participam das mobilizações na Câmara Municipal em direito à greve geral e contra a criminalização dos trabalhadores as seguintes entidades: Sintrasem Florianópolis – Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal; Sintraturb – Sindicato dos Trabalhadores no Transporte Urbano de Passageiros da Região Metropolitana de Florianópolis; Associação Cultural José Martí de Santa Catarina; UFECO – União Florianopolitana de Entidades Comunitárias; SEEB – Sindicato dos Bancários de Florianópolis e Região; UCE Santa Catarina; JPT – Juventude do PT Floripa; Sintespe Santa Catarina – Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal; Fecesc; Sintrauto – Santa Catarina; Sintrafesc – Sindicato dos Trabalhadores Federais de Santa Catarina; Fórum de Lutas em Defesa dos Direitos; SINTE-SC – Sindicato dos Trabalhadores na Educação de Santa Catarina , Sintrajusc; Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal em Santa Catarina; PT – Floripa do lado esquerdo do peito; Frente Brasil Popular – Regional Florianópolis; Frente Brasil Popular SC e Tenda da Democracia SC.