Governo de Mato Grosso quer fechar escolas periféricas

Secretaria de educação alega "reorganização" para o fechamento de ao menos três unidades com décadas de funcionamento em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá. População e ex-alunos estão mobilizados para impedir esse absurdo num momento em que ninguém sabe como será o próximo ano letivo por conta da Covid

Fotos da manifestação de 21 de novembro contra o fechamento da E. E. Mercedes de Paula Sôda por Francisco Alves

Vídeos e informação sobre a luta contra o fechamento da E. E. Miguel Baracat por Lupita Amorim

Todos e todas estudantes do Brasil, seus pais, mães e responsáveis estão sofrendo nesse momento. Nos nove meses de uma gestão caótica no Ministério da Saúde, incapaz de organizar estados e municípios na prevenção e tratamento da Covid-19, os reflexos na educação, com ministros mais preocupados com fantasias sobre sexo e drogas do que em ajudar docentes e discentes, são terríveis. Pra piorar, governantes municipais e estaduais também usam as restrições de contato social para “passar suas boiadas”.

Até agora, ninguém sabe como e quando haverá o retorno às aulas presenciais. Mas uma coisa é certa: haverá enorme movimentação nas escolas. Professores e professoras estão vendo no dia a dia as dificuldades e o desânimo de alunos e alunas de todos os níveis. O número de desistentes cresce toda semana e podemos prever uma enorme evasão escolar. Gente que vai parar de estudar talvez para nunca mais voltar. Vemos, ainda, um grande percentual que está buscando a troca das escolas particulares para a rede pública, quando isso é possível.

Nesse cenário, o mais sensato seria manter a atual estrutura escolar antes de analisar qualquer mudança. Afinal, só com a liberação das aulas presenciais será possível mensurar exatamente a necessidade de vagas em cada escola. Mas não é isso que o governo de Mato Grosso está fazendo. Às vésperas da eleição municipal, a Secretaria Estadual de Educação anunciou, sem qualquer negociação ou mesmo aviso prévio, que vai fechar três escolas com décadas de existência. Como estão na periferia de Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, a maior parte do corpo discente é formada por negros e negras de famílias de baixa renda, as mais afetadas pela pandemia, pela crise econômica e pelo descaso com a educação pública.

Mas estudantes, ex-estudantes e as comunidades não vão deixar isso acontecer tão facilmente. No dia 17, dezenas de pessoas se juntaram, apesar da pandemia, para protestar em frente à Escola Estadual Miguel Baracat. Entre elas estava Lupita Amorim, estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, Coordenadora do Coletivo Negro Universitário da UFMT e Representante de Estudantes Negras e Negros no Conselho de Política de Ações Afirmativas. São dela os vídeos e o comovente depoimento abaixo.

Sábado passado, dia 21 de novembro, foi a vez dos amigos da Escola Estadual Mercedes de Paula Sôda, saírem às ruas da periferia de Várzea Grande para protestar. Estudantes, pais de alunos, professores, funcionários, junto com o Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público de Mato Grosso, subsede de Várzea Grande (Sintep/VG) se juntaram no protesto, que teve imagens feitas pelo fotógrafo militante Francisco Alves.

Segundo nota divulgada pelos manifestantes:

“A insensibilidade e o autoritarismo do Governo Mauro Mendes (DEM) vem criando, em plena pandemia, mais preocupações para os pais e mães, estudantes, professores e funcionários da Educação, assim como para as gestões das escolas estaduais em Várzea Grande. As escolas foram surpreendidas com um documento orientativo de fechamento das unidades escolares. O documento pressiona a gestão das escolas E.E. Mercedes de Paula Sôda, E.E. Miguel Baracat e E.E. Ernandy Mauricio Baracat de Arruda fecharem os portões e repassar todo o contingente de alunos para outras escolas.”

No próximo dia 24, estão previstas novas manifestações contra os fechamentos de escolas. Às 8:00, dois ônibus devem levar os manifestantes para uma audiência pública na Assembleia Legislativa. Às 17:00 está marcada uma passeata saindo da E.E. Miguel Baracat. Os manifestantes devem conseguir um carro de som para acompanhar a passeata e esperam uma adesão ainda maior aos protestos, de modo a pressionar o governo a reverter sua decisão e dialogar com a sociedade. Mais informações podem ser acessadas em https://t.co/5xpA54inBW?amp=1

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