G20 e a fila da fome no Rio de Janeiro

O evento priorizou segurança, turismo, festas e negligenciou as necessidades dos moradores de rua

No dia do lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, os serviços que oferecem atendimento à população de rua no centro do Rio de Janeiro são fechados pela organização do G20.

Centenas de pessoas ficaram desamparadas. “Sobramos nós e os pobres na rua”, lamentou Frei José Francisco da Ação Social Franciscana – Sefras, organização social que atende população de rua.

Ontem, a instituição recebeu Ministros de Estado do Brasil, Chile e Peru para conhecerem mais sobre seu trabalho. Hoje, enfrentou uma grande demanda, com uma multidão se reunião à sua porta em busca de ajuda. “Ficamos aterrorizados, porque as pessoas sabiam que éramos a única alternativa para conseguirem uma refeição. E qualquer entrega de comida na rua seria multada”, relata Marlon Barros, educador popular do Sefras.

Na entrada do Sefras, cerca de 300 pessoas conseguiram ser atendidas, mas muitas outras permaneceram do lado de fora, aguardando na esperança de receber uma refeição. A organização informou à reportagem que estava preparando mais refeições para tentar atender à alta demanda. “Nosso objetivo é alcançar o maior número de pessoas possível”, destacou Frei Francisco.

Essa situação reflete uma prática comum em grandes eventos: discussões sobre temas importantes são realizadas entre governos e organizações em almoços e jantares de negociação, enquanto aqueles que deveriam ser o foco das políticas públicas permanecem ignorados. “Os pobres, que deveriam estar no centro dessas discussões, não foram convidados”, criticou Frei Francisco.

O frei também destacou que, enquanto o evento priorizou segurança, turismo, festas e debates políticos para os participantes, negligenciou completamente as necessidades dos moradores de rua. “Os pobres não fizeram parte da pauta. Precisamos ser a voz deles”, afirmou.

E enquanto o G20 prossegue, surge uma pergunta inevitável: quem se responsabiliza por acolher e responder às demandas básicas, como comida e assistência, das pessoas em situação de rua? “A vida continua, e essas pessoas precisam de acesso”, finalizou Frei Francisco.

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