Fome infantil cresce no governo Bolsonaro

Um estudo revelou o avanço da fome no Brasil em 2022, sobretudo nas casas com crianças de menos de 10 anos de idade
Fome infantil cresce, negros são mais afetados - Foto: Reprodução
Fome infantil cresce, negros são mais afetados - Foto: Reprodução

Com o aumento do custo de vida e a queda do poder de compra das famílias, a insegurança alimentar infantil vem crescendo. Uma segunda etapa do estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional reafirmou o avanço da fome no Brasil em 2022, sobretudo nas casas com crianças de menos de 10 anos de idade. A primeira fase da pesquisa foi divulgada em junho, quando foi apresentado o aumento vertiginoso da fome no país. Em 2021 eram 19 milhões, em 2022 já são 33,1 milhões de pessoas atingidas. De 10 famílias, 4 não conseguem se alimentar plenamente.

Divulgada nesta quarta (14), a nova fase do estudo demonstrou como a fome é mais presente em lares com crianças. 37,8% dos lares com crianças de menos de 10 anos sofrem de insegurança alimentar grave ou moderada. Ou seja, os que não passam fome também não conseguem se alimentar bem. Enquanto isso, 30,7% das casas brasileiras enfrentam insegurança alimentar. Desse número, 15,2% estão em situação grave e 15,5% em situação moderada.

O estudo foi feito pela Rede PENSSAN em parceria com o campo do Instituto Vox Populi. A Ação da Cidadania, a ActionAid, a Fundação Fridrich Ebert Brasil, o Ibirapitanga, a Oxfam Brasil e o Sesc São Paulo foram organizações parceiras na pesquisa. Os dados foram coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022 a partir de realização de entrevistas em 12.745 domicílios. Foram analisadas áreas urbanas e rurais de 577 municípios, distribuídos nos 26 estados e Distrito Federal. A segurança e insegurança alimentar foram medidas pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia).

Fome nas escolas durante o governo Bolsonaro

Diante desse cenário, em que a insegurança alimentar infantil cresce, Bolsonaro recusou a proposta do congresso que corrigia os valores destinados ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) de acordo com a inflação.

Merenda escolar se transformou em suco e bolacha no governo Bolsonaro - Foto: Reprodução
Merenda escolar se transformou em suco e bolacha no governo Bolsonaro – Foto: Reprodução

Atualmente, o governo disponibiliza menos de R$ 1 por aluno para a merenda escolar, ignorando o reajuste da inflação. Para os alunos da pré-escola, são 53 centavos e, para os que estão no Ensino Médio e Fundamental, são 36 centavos. Bolachas e sucos é o que restou para essas crianças que as vezes tem a merenda escolar como a única refeição do dia. Desde 2017 não ocorre o reajuste do PNAE.

Salário mínimo da fome

Jair Bolsonaro é o primeiro presidente desde o Plano Real que faz com que o salário mínimo perca o poder de compra. Em agosto, Bolsonaro levou ao congresso Nacional a proposta que prevê para 2023 um salário mínimo de R$ 1.302, abaixo do índice de inflação. O reajuste da proposta é de 7,42%, nos últimos 12 meses, entretanto, a inflação ficou em 10,07%.

A pesquisa demonstrou que nos lares com menor renda familiar por pessoa seus moradores estão mais sujeitos à baixa capacidade de acesso aos alimentos e a níveis de Insegurança Alimentar mais severa.

Distribuição percentual da Segurança Alimentar e dos níveis de Insegurança Alimentar (IA),
segundo as categorias de renda familiar mensal per capita (múltiplos de salário mínimo
per capita – SMPC), Brasil. II VIGISAN – SA/IA e Covid-19, Brasil, 2021/2022.

De acordo com o gráfico da pesquisa da Rede PENSSAN, uma família composta por uma mãe solteira, por exemplo, que recebe uma salário mínimo e cuida de três filhos, possui 98% de chance de sofrer Insegurança Alimentar e quase 50% de chance dessa insegurança ser grave. Já uma família composta por dois responsáveis que ganham salário mínimo e cuidam de dois filhos tem 76% de chance de sofrer Insegurança Alimentar e 21% de chance dessa insegurança ser grave.

Racismo estrutural: fome é maior entre a população negra

Se a cada 10 famílias, 4 não tem acessso a uma alimentação plena, quando o recorte são as famílias negras o número sobe para 6 famílias a cada 10. No início de 2022, a Insegurança Alimentar foi maior nos lares em que pessoas que se declararm como negras ou pardas são as fontes de renda.

Distribuição percentual da Segurança Alimentar e dos níveis de Insegurança Alimentar
(IA), segundo a raça/cor da pele autorreferida, Brasil. II VIGISAN – SA/IA e Covid-19,
Brasil, 2021/2022.

Enquanto pessoas brancas possuem 53% de Segurança Alimentar, 65% das pessoas pretas no Brasil correm o risco de passar fome.

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