Patrícia Cornils
Desde o início de agosto tem fogo. O incêndio de hoje (1/9) começou perto das dez e meia. Onze horas, invadiu a aldeia Akrãtikatêjê , da cacica Kátia. O Ibama passa a ligação para outro número. Os bombeiros dizem que só chegam à meia-noite. Enquanto isso, o fogo consome a Terra Indígena Mãe Maria, no município de Bom Jesus do Tocantins (PA), onde vivem os povos Gavião. A terra indígena é cortada por uma linha de transmissão da Eletronorte, que sai da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, e pela Estrada de Ferro Carajás, da Vale e pela BR 222.
A cacica Kátia Silene Akrãtikatêjê, do povo Gavião da Montanha, narra o inferno do dia hoje:
“De novo, outra tentação de queimada. Esse ano todinho, enquanto esse verão estiver, vai ser essa perseguição. Acontecendo agora bem perto de meu portão, onde entra na mata, onde morrem animais e onde vai matando nossas castanheiras e queimando tudo. Quando regenera, vem outro tipo de vegetação que não tem nada a ver com nosso mata e com a vegetação que tem na nossa reserva.
Tudo isso é impacto para nós e ninguém toma providência de nada. Não temos material adequado para combater o fogo e quando a gente pede ajuda para o Corpo de Bombeiros nunca tem resposta imediata e, na verdade, eles não vêm ou dizem que vêm quando não adianta mais, quando o fogo queimou tudo.
O fogo já invadiu minha aldeia e já está do lado da aldeia de minha irmã e já está dentro da mata, queimando tudo. O Corpo de Bombeiro disse que até chegar aqui é meia-noite. A aldeia Hõpryrekatêjê, onde mora meu irmão, do cacique Potamãm, está se acabando de fogo. Está queimando tudo!
Sem equipamentos para conter o fogo
Não temos abafador, bomba, carro-pipa, os EPIs necessários e as pessoas capacitadas. Não há recurso para a TI Mãe Maria. Há anos que lutamos para montar uma equipe de pré-fogo, porque só nós, que moramos na TI, sabemos o perigo que corremos. Não é a primeira vez que queima escola, que queima casa. Já é a terceira aldeia.
As autoridades… ninguém faz nada. Principalmente as empresas que passam dentro da nossa reserva. Vejo que estamos à mercê, não só hoje mas há muito tempo. Isso é um crime muito grave, que não tem punição. A gente não sabe quem queima e não podemos apontar dedo porque é nas caladas que acontece.
Mas a gente queria que houvesse Justiça do lado do órgãos federais, que viessem obrigar essas empresas que passam dentro de nossa reserva a lidar com os prejuízos. As casas que as pessoas perderam. Ficaram com a roupa do corpo. Hoje elas não têm comida, não tem panela para cozinhar. Não tem nada!
Quem vai ajudar este povo? É obrigação das comunidades? Não é! É das empresas que cortam a nossa TI. É só começar a limpeza debaixo das redes de transmissão, das torres, que começam os incêndios. Creio que hoje quem está trabalhando é o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). A Eletronorte terminou, agora o DNIT. E aconteceu o fogo. Ninguém culpa ninguém, porque a gente não viu. Mas pode ser uma bagana de cigarro, alguma coisa que jogaram. Onde os trabalhadores estavam batendo o marco, botando o ponto, começou a queimada.
Queremos que isso chegue no ouvido das pessoas. As famílias que perderam tudo agora estão no relento. Ofereci a minha aldeia [Akrãtikatêjê]. Fome não vamos passar, porque o que eu tenho nós vamos comer tudo junto. Mas como manter todo esse povo?”
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Uma resposta
Um absurdo total. Já compartilhando. Já existiam drones nas vizinhanças há algumas semanas. A ameaça é constante. A data na introdução está 01/08, mas foi ontem (01/09). Correto?