EUA surpreende e retoma operações de portos e aeroportos com Venezuela

Em decisão surpreendente, o governo do novo presidente dos EUA, Joe Biden, emitiu uma licença que autoriza algumas transações para voltar a operar com portos e aeroportos na Venezuela. A notícia representa uma sinalização de que os EUA podem abrir um canal de diálogo e reduzir a pressão do bloqueio contra o país caribenho.

Presidente Nicolás Maduro

O Departamento do Tesouro dos EUA emitiu nesta terça-feira uma licença que autoriza algumas transações descritas como “necessárias” no documento para a retomada de operações portuárias e aeroportuárias na Venezuela. É a chamada “Licença Geral 30A” pela qual todas as transações e atividades envolvendo o Governo da Venezuela, proibidas pela Ordem Executiva emitida por Donald Trump em 5 de agosto de 2019, passam a ser autorizadas.

Ainda, de acordo com o texto assinado por Bradley T. Smith, diretor interino do Office of Foreign Assets Control retomam ainda todas as transações e atividades que tinham sido proibidas por uma Ordem Executiva anterior, de novembro de 2018 – modificada em Janeiro de 2019 – também no período Trump, e que envolvem o Instituto Nacional de Espaços Aquáticos.

Petroleiro iraniano em refinaria venezuelana/AFP

O documento enfatiza, no entanto, que a  licença geral não permite transações com qualquer pessoa ou instituição bloqueada por sanções dos EUA.

A medida – que pega de surpresa não só o governo da Venezuela como também seus opositores – é a primeira tomada pelo governo Biden, iniciado em 20 de janeiro, em relação às sanções impostas contra Caracas durante o governo Trump.

Lembrando que o governo Donald Trump foi o primeiro no mundo a reconhecer o opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, em janeiro de 2019, depois que o presidente Nicolás Maduro foi reeleito para o cargo e cujas eleições foram acusadas de fraudulentas pela oposição.

A partir daí, Trump iniciou a série de fortes sanções a membros do governo e à indústria petrolífera venezuelana, principal fonte de divisas do país. Na sequência, outros países fizeram o reconhecimento a Guaidó e chegaram a realizar volumosas doações para sua “presidência interina”, sendo que ele jamais conseguiu de fato exercer nenhum poder na Venezuela e veio, ao contrário, se desintegrando politicamente nesse período.

Em janeiro agora, a União Europeia decidiu deixar de reconhecer Guaidó como interino, devido ao término do prazo constitucional com a eleição da nova Assembleia Nacional. Mesmo assim, Trump optou por manter o reconhecimento e o novo presidente, Joe Biden, sinalizou que faria o mesmo.

Os anos de investimento dos EUA na guerra de 5a geração contra o país caribenho não só não rederam frutos como possibilitaram uma série de episódios embaraçosos, como a frustrada tentativa de assassinato de Nicolás Maduro com um drone conduzido de forma atrapalhada por opositores e ainda a derrota de mercenários e agentes da CIA por simples pescadores venezuelanos na frustrada (e milionária) “Operação Gedeon” que contou com o envolvimento de Guaidó e de outro conhecido opositor, Leopoldo Lopez.

Juan Guaidó e Leopoldo López em uma das tentativas de golpe de estado

A decisão do governo Biden de reduzir agora a pressão sobre o bloqueio tem, entre outras, claras motivações comerciais. Desde que se iniciaram, há 8 anos as sanções econômicas mais fortes contra a Venezuela, os EUA nada ganharam com essa política agressiva, mas Rússia e China acabaram se convertendo nos principais parceiros e também aliados militares do governo bolivariano, tendo ainda aumentado sua presença em outros países latino-americanos e sua influência em todo o continente.

COMENTÁRIOS

2 respostas

  1. Realmente não deixa de ser premeditadamente algo para a Venezuela ficar atenta. Apesar que o que importa neste primeiro momento é construir boas relações com o país imperialista mas não esquecer a história de táticas agressivas impetradas pelos EUA. Interessante a Venezuela consolidar com os países latinos blocos econômicos que visem unificar os países latinos.

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