Por Marina Azambuja e Pedro Martinez*
Na noite desta terça, 12, o Sindicatos do Advogados de São Paulo (SASP) exibiu os episódios “Mãezinha” e “Mulas” da série “Eu, preso”, lançada em agosto deste ano. Composta por oito curtas a série exibe relatos de pessoas encarceradas no Brasil e narra os obstáculos que os prisioneiros precisam enfrentar diariamente, seja social, familiar e até mesmo financeiro.
Após a mostra houve debate com a diretora dos curtas Paula Sacchetta (documentarista), Preta Ferreira (cantora, produtora e ativista) e Sheila Carvalho (representante da CDH/OAB).
A cineasta abriu a mesa destacando a importância de documentar a realidade carcerária no Brasil e conta como foi filmar a série dentro dos presídios durante 46 dias.
Em seguida Sheila Carvalho mencionou a sua experiência com advogada negra e como o Estado atua no encarceramento em massa que ocorre no Brasil.
Preta Ferreira deu sequência ao debate narrando a sua experiência durante os 108 dias que ficou presa injustamente na penitenciária em Franco da Rocha e evidenciou a importância da luta coletiva para resistir. “
Assista a transmissão completa: http://twixar.me/481T
“Eu, preso”
O Brasil tem hoje mais de 700 mil pessoas atrás das grades, que, somadas, são mais que a população inteira de Aracaju (SE). Desde o ano 2000, esse número aumentou 167% e ele não para de crescer. Até 2016 éramos a quarta maior população carcerária do mundo e em 2017 viramos a terceira. O número de presos na Índia, país com 1,2 bilhão de habitantes, é menor. Assim, proporcionalmente, o número de presos brasileiros é muito alto se comparado ao tamanho de nossa população. São 306 presos para cada 100 mil habitantes, mais que o dobro da média mundial, que é de 144 presos por 100 mil pessoas.
Se os números já dizem tanto, imagine agora quem são as pessoas por trás deles. A série Eu, Preso, de oito episódios de 26 minutos, conta a história dessas pessoas. São homens e mulheres, em sua maioria negros, com histórias de vida das mais variadas. São mães, pais, chefes de família. São garotos que entraram para o tráfico. São presos provisórios que podem passar meses atrás das grades antes de qualquer julgamento, para depois serem julgados inocentes. São mulheres estrangeiras que resolveram entrar no país carregando drogas, muitas vezes para poder alimentar os próprios filhos, mas que embarcaram em uma viagem sem volta e podem passar mais dez anos sem vê-los de novo.
Para dar uma visão do sistema carcerário e do recorte racial e de classe levado a cabo pelas prisões, vamos embarcar nos dramas humanos: quem são, de onde vieram e como foram parar na cadeia? Como é a vida no cárcere e o que esperam do futuro, fora dali? Como é a vida depois dessa experiência na prisão? A partir de histórias pessoais, recolheremos uma visão global de um dos sistemas mais perversos do mundo. A partir de uma visão humana: o macro, a lógica de todo um sistema.
Fonte: http://mirafilmes.net/photos/eu-preso
PAULA SACCHETTA, é formada em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) e trabalha há alguns anos como documentarista. Diretora dos documentários “Precisamos Falar do Assédio”, “Verdade 12.528” e “Quanto mais presos, maior o lucro”. Especializada em temas ligados a direitos humanos, ganhou o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos na categoria reportagem, em 2012, e diversos outros na área.
JANICE FERREIRA, a PRETA, é multiartista, comunicadora inata e de formação. É a mais velha dos oito irmãos. Na adolescência, veio da Bahia para São Paulo e, desde cedo, trabalhou para ajudar na complementação da renda familiar. Formada em publicidade, consolidou sua carreira na produção cultural. É também a autora e intérprete do single Minha Carne. Tem por missão “transformar o mundo, para o desenvolvimento cultural e econômico, a partir de pequenos grupos, com promoção da paz e justiça social”, pontua. Na Ocupação 9 de Julho, Preta organiza eventos culturais e socioeducativos, desde pesquisas acadêmicas, laboratórios, oficinas, shows e ações de saúde e lazer.