O ativista baiano Yuri Silva, que os leitores dos Jornalistas Livres devem conhecer como o editor chefe do Mídia4P e que tem seus artigos frequentemente publicados também aqui, inicia uma nova jornada junto com juristas paulistas. Eles participam de um projeto de Compliance em Direitos Humanos para monitorar, auditar e certificar empresas que respeitam minorias sociais.
Compliance é um termo usado no mundo corporativo, que deriva do termo inglês comply significa “agir em sintonia com as regras”, em termos didáticos, significa estar absolutamente em linha com normas, controles internos e externos, e com políticas e diretrizes estabelecidas para aquele negócio.
O combate ao racismo e a exclusão de minorias ganha um novo fôlego com a vinda de Yuri Silva de Salvador para São Paulo, para se unir a esse programa abrigado pelo Instituto para Reforma da Relação entre Estado e Empresa (IREE). O IREE é uma organização independente sediada na capital paulista e que tem como objetivo promover o debate democrático, pluralista e suprapartidário para aperfeiçoar a interação entre o setor público e o setor privado no país.
A iniciativa se dá em meio a amplificação do debate sobre o as responsabilidades corporativas por atos de violência e racismo como o que assassinou por sufocamento Beto Freitas, no estacionamento do Carrefour. Com certeza também, por conta de toda indignação e movimentação popular, que não ficou apenas no âmbito das redes, mas se ampliou em diversos atos e intervenções pelo Brasil todo.
A ideia é juntar lideranças sociais e operadores econômicos dispostos a mudar a realidade, com o objetivo de implementar um Programa de Compliance em Direitos Humanos, algo novo no país, com a finalidade de monitorar e auditar permanentemente a relação dessas companhias com as pautas sociais.
Yuri Silva é ativista dos Direitos Humanos e do Movimento Negro e milita há 17 anos no Coletivo de Entidades Negras (CEN) onde atuou como coordenador nacional. Atuou também no Observatório Popular de Política sobre Drogas (OPPD Racial) e foi Conselheiro Estadual de Políticas para a População LGBTQIA+ do Estado da Bahia. Com sua experiencia junto ao terceiro setor pretende promover diálogos com as principais corporações nacionais e multinacionais e outros atores políticos sobre a inclusão da pauta das minorias na política interna e externa dessas empresas.
“Quero que isso impacte no setor econômico de forma expressiva, porque só assim haverá mudanças reais, com mais executivos e mais funcionários negros, mulheres e LGBTs e mais políticas inclusivas que sejam de verdade e não somente para inglês ver. A gente tem que explicar para os empresários que não há crescimento sem inclusão, porque ninguém cresce excluindo”, diz o ativista, prometendo conceder certificações a quem cumprir o conjunto de normas, que ele batiza de ‘Tecnologia Empresarial da Diversidade’.
Como Jornalista foi repórter, entre outros lugares, do jornal A Tarde (2016-2018) e correspondente do jornal O Estado de S. Paulo (2018-2019), onde especializou-se na cobertura dos poderes Executivo e Legislativo e em pautas relacionadas às questões sociais. É editor chefe do Mídia 4P que é publicado na Carta Capital e também aqui nos Jornalistas Livres.
“Vamos juntar os melhores profissionais do direito e os mais capazes especialistas nessas pautas dos direitos humanos e criar normativas técnicas, dentro da legislação e do que já existe acumulado no compliance, com o objetivo de separar o joio do trigo, promovendo mudanças reais na realidade das corporações e da sociedade em geral”, afirma Yuri.
Yuri Silva vai trabalhar ao lado do advogado paulista Walfrido Warde Jr., maior especialista em litígios empresariais do Brasil e autor do best-seller ‘O Espetáculo da Corrupção’ (Leya), e do auditor fiscal Valdir Moysés Simão, ex-ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU) e ex-ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão do Brasil. Também se integram ao time inicial outras figuras de destaque no direito e no debate sobre o combate às desigualdades, como o doutor e mestre em Direito Administrativo Rafael Valim, que além de professor da PUC-SP e da Università Commerciale Luigi Bocconi (Itália), é um dos líderes da editora Contracorrente e diretor cultural do IREE. Além do estudante de direito e diretor institucional do IREE, Rodrigo Siqueira; e da economista-chefe do IREE Juliana Furno.
“É óbvio que esse Programa de Compliance vem em um momento sensível, de debates polares e intensos sobre esse tema, sobretudo após o caso do Carrefour. Mas temos que ter foco em como apontar saídas vitoriosas e não verborrágicas. E nesse sentido o que nós vislumbramos é que nosso projeto tenha impactos econômicos, influencie os atores financeiros, políticos, sociais e econômicos, influencie na Bolsa de Valores, em fundos de investimento e outros instrumentos e espaços desse setor”, afirma Silva. “O importante é dar visibilidade aos desafios dessas pautas tão indispensáveis para o crescimento econômico do nosso país, porque crescer sem incluir não dá mais”, idealiza.
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