Editorial do Guardian defende eleição de Lula

Jornal inglês alerta para os perigos de um segundo mandato de Jair Bolsonaro e diz que a reeleição é risco para a democracia

Um dos mais importantes jornais europeus, o britânico “The Guardian”, publicou editorial nesta quinta (27) em que defende a eleição de Lula “para o futuro do planeta”: “O planeta não pode se permitir um segundo mandato para o presidente de extrema-direita que ressurgiu nas pesquisas”, afirma o jornal. O editorial assinala o fato de que, além do desastre da política ambiental, Jair Bolsonaro “promoveu uma cultura cada vez mais perigosa para os defensores do meio ambiente”, lembrando os assassinatos – do ativista Bruno Pereira e do jornalista  Dom Phillips, colaborador do jornal.

O risco para a democracia representado pela reeleição de Jair também é elencado como um risco de aprofundamento do autoritarismo antidemocrático”: “Muitos dos apoiadores de Bolsonaro deixaram claro que não reconhecerão uma derrota nas urnas. A posse de armas dobrou graças ao relaxamento das leis.”

Ao contrário do que acredita Jair Bolsonaro e a campanha bolsonarista, o fato de dois dos principais jornais de língua inglesa publicarem editoriais alertando para os riscos de um segundo mandato de Bolsonaro para o Brasil e para o mundo sinaliza que a comunidade internacional estará atenta a qualquer tentativa de fraude ou de tumultuar o processo eleitoral. 

Leia o editorial na íntegra aqui em inglês aqui

O retorno de Bolsonaro custaria a todos nós

O planeta não pode se permitir um segundo mandato para o presidente de extrema-direita que ressurgiu nas pesquisas

No domingo, os eleitores brasileiros depositarão seus votos numa disputa acirrada que não apenas definirá o rumo deste país extraordinariamente polarizado, mas também terá um impacto poderoso no futuro do mundo. As esperanças de que o titular da extrema-direita, Jair Bolsonaro, seria rejeitado decisivamente no primeiro turno foram frustradas quando ele se saiu muito melhor do que o esperado, com 43% dos votos, e seu adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, resvalou no limite para baixo da maioria absoluta com 48%. Esmolas de última hora para os mais pobres e o despejo descontrolado de informação ajudaram a recuperação de Bolsonaro.

A esperança é que seu ímpeto já esteja diminuindo. Mas as pesquisas variam, e um segundo mandato presidencial seria uma má notícia não apenas para os brasileiros, mas também para o resto de nós. O principal perigo é a catástrofe climática. Como a agência ambiental da ONU alerta que não há uma rota confiável para limitar o aquecimento global a 1,5°C, o desmatamento na Amazônia está em alta: um sumidouro de carbono pode se tornar um emissor de carbono. Sindicatos criminosos de madeireiros e fazendeiros correm para piorar a situação por medo de que um novo governo os controle. Mais de 2 bilhões de árvores foram derrubadas durante o mandato de Bolsonaro. Ele também promoveu uma cultura cada vez mais perigosa para os defensores do meio ambiente – como exposto pelo assassinato do ativista Bruno Pereira e do colaborador do “Guardian” Dom Phillips em junho. Em contraste, os analistas sugerem que uma vitória de Lula pode resultar em um corte de 89% na perda de floresta tropical.

Um risco secundário – mas ainda profundamente alarmante – é um maior entrincheiramento do autoritarismo antidemocrático. Se Bolsonaro for reeleito, ele será encorajado e se beneficiará da presença fortalecida da direita no Congresso. Há temores de que ele possa minar as instituições e mudar a Constituição para permitir um terceiro mandato.

Se ele não for reeleito, ele vai se importar? Ele passou meses se preparando para tal resultado. Seu filho já afirma – sem provas – que seu pai é vítima da “maior fraude eleitoral já vista”, uma frase assustadoramente trumpiana. Seu partido alega – novamente sem provas – que as autoridades poderiam simplesmente alterar os resultados. Como as regiões pró-Lula provavelmente anunciarão os resultados mais tarde, ele pode tentar reivindicar a vitória prematuramente.

Tudo isso levanta o espectro do próprio 6 de janeiro [referência à data em que apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio em 2021] do Brasil – possivelmente com algum apoio de elementos do Exército e forças de segurança em um país que viveu a Ditadura Militar há relativamente pouco tempo. Muitos dos apoiadores de Bolsonaro deixaram claro que não reconhecerão uma derrota nas urnas. A posse de armas dobrou graças ao relaxamento das leis. No domingo passado, um de seus aliados políticos atacou a polícia com granadas de mão e um rifle enquanto tentavam prendê-lo.

Para os apoiadores de Lula, o ex-engraxate e sindicalista é o campeão dos pobres, além de um líder que elevou o status do país internacionalmente. Outros observam que foi mais fácil para ele aumentar os gastos como beneficiário do boom das commodities. O Partido dos Trabalhadores estava repleto de corrupção, que também o levou à prisão; ele só conseguiu se levantar quando as acusações contra ele foram anuladas no ano passado. No entanto, Bolsonaro está distribuindo bilhões de um fundo do governo com supervisão mínima, e há muitas dúvidas sobre as finanças de sua própria família.

Isso parece, como diz um especialista em pesquisas, como um choque de dois Brasis, no qual o voto se divide claramente em classes, raça, gênero e linhas religiosas. Mesmo que Bolsonaro saia desta vez, ele pode muito voltar. No entanto, seu extremismo ajudou a garantir que Lula tenha formado uma aliança multipartidária convincente, incluindo figuras da direita. Eles reconhecem o que está em jogo. O resto de nós deve esperar que muitos de seus compatriotas o façam.

COMENTÁRIOS

POSTS RELACIONADOS

A nova fase do bolsonarismo

Por RODRIGO PEREZ OLIVEIRA, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia O ato de 25/2 inaugurou um novo momento na história da