Dr. Jairinho sempre foi chegado a uma sessão de tortura

BOLSONARISTA RAIZ - Além dos relatos de ex-companheiras, vereador carioca já tinha sido reconhecido ao agredir jornalistas na Favela do Batan, junto com milicianos

Por Homero Gottardello, jornalista

Preso sob acusação de matar o enteado Henry Borel, de 4 anos, no Rio de Janeiro, o ‘ilibado’ Dr. Jairinho, um médico que nunca exerceu a profissão, é herdeiro político do pai, Coronel Jairo (Solidariedade), ex-deputado estadual fluminense. Seu envolvimento com as milícias cariocas é notório e seu perfil “abrilhanta” os autos da Operação Furna de Onça, ao lado de outras figuras ‘inatacáveis’, como Flávio Bolsonaro – ambos também foram alvo de investigações sobre as “rachadinhas”, na Assembleia Legislativa do Estado (Alerj). Coronel Jairo tentou a quinta reeleição consecutiva em 2018, mas, com 24.600 votos, acabou ficando como primeiro suplente da coligação PTB/Solidariedade, no Rio de Janeiro. Quando Anderson Alexandre (também do Solidariedade) foi preso, em 2019, Coronel Jairo só não entrou em sua vaga porque também se encontrava recolhido, ao mesmo tempo – só em dezembro daquele mesmo ano foi beneficiado por um habeas corpus.

Criador, Coronel Jairo (à direita), e criatura (Dr. Jairinho), em evento político no bairro Maravilha, na região de Padre Miguel, Rio de Janeiro

O filho, Dr. Jairinho, está – pelo menos até ser formalmente cassado – em sua quinta legislatura, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Líder do governo Crivella (“Em nome de Jesus!”), surge agora como agressor habitual de mulheres e crianças, suas ex-companheiras e filho(a)s delas. Junto do pai, tem seu curral eleitoral em Bangu e Campo Grande. Entre seus projetos legislativos mais relevantes, destaca-se o tombamento da sede do Céres Futebol Clube, da quarta divisão do futebol carioca (Série B2), que tem o Coronel Jairo como presidente – deve ser coincidência, claro.

Em 2008, quando uma equipe do jornal “O Dia”, diário mais popular do Rio de Janeiro, foi torturada por horas na Favela do Batan por um grupo de milicianos, a voz de Dr. Jairinho foi reconhecida por uma repórter. De acordo com depoimento do fotógrafo Nilton Claudino, Dr. Jairinho também reconheceu a jornalista: “Me batia muito, perguntava o que eu tinha ido fazer na Zona Oeste”, narrou Claudino em um texto escrito para a “Revista Piauí”. Já eleito vereador, Dr. Jairinho não foi sequer investigado à época, apesar da instauração de um inquérito policial. “Questionava se eu não amava meus filhos”, lembrou o fotógrafo.

O garoto Henry, torturado até a morte, segundo a polícia

Na recente entrevista coletiva dada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, o delegado Henrique Damasceno afirmou que o garoto Henry foi torturado, antes de morrer. “A multiplicidade das lesões e a intensidade das lesões indicam uma rotina de tortura. Peço desculpas, mas não posso adiantar detalhes neste momento”, declarou Damasceno.
Como se vê, Dr. Jairinho caminha a passos largos para se tornar um ‘novo’ Alexandre Nardoni. A maior diferença entre eles é o fato de Nardoni ser o pai biológico da menina Isabela, morta em 2008, enquanto o vereador é “padrasto” de Henry. Fora isso, desde o comportamento abusivo, a tentativa de adulteração da cena do crime, as ameaças a testemunhas e a própria impostura, a baixeza, o canalhismo demonstrado por ambos durante as investigações, já credenciam Dr. Jairinho a um lugar, no mínimo, ladeando Nardoni.

E por falar nele, Alexandre Nardoni – condenado a 31 anos e um mês de reclusão por homicídio triplamente qualificado – cumpre pena em regime semiaberto (pode trabalhar fora do presídio, retornando todos os dias, e gozar de até cinco saídas anuais de até uma semana), desde 2019. Já a madrasta de Isabela, Ana Carolina Jatobá, foi condenada a uma pena ligeiramente inferior (26 anos e oito meses de reclusão), progrediu para o regime semiaberto em 2017, mas, devido a uma falta grave, cometida no ano passado, regrediu para o regime fechado.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

COMENTÁRIOS

7 respostas

  1. Analisando o histórico de Dr. Jairinho claro que podemos concluir que ele é bolsonarista, no entanto a veracidade deste panfleto é bem questionável: pesquisei por imagens, materiais de campanha eleitoral e não consegui encontrar nada. E todos jornais que publicaram a imagem não mostraram a fonte… lutamos tanto contra fake news ( não é fake news que Dr. Jairinho é bolsonarista ) e precisamos tomar cuidado para não publicar notícias que são parcialmente falsas.

    1. Concordo plenamente. Também procurei pelo famigerado panfleto e não consegui encontrar nada. Triste.

    2. Eu gostei do seu comentário. Veja, eu sou bolsonarista e nem por isso tenho atitudes lastimáveis iguais a este monstro de perverso psicopata deste tal de Jairinho. Concordo com vc e o Jairinho é mau, perverso, sádico, maquiavélico, assassino cruel. Mas, sem fakenews.

  2. A “Justiça” brasileira passará a mão nas cabeças dele, da mãe e da avó.

  3. Bem que dizem que a maior bandidagem está camuflada na política e na polícia. Passou da hora de leis mais rígidas contra crimes contra as minorias, crianças e mulheres. Presídios onde a pessoa tenha que produzir para pagar a estadia.

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