Congresso Bicentenário dos Povos reafirma compromisso anti-imperialista contra bloqueios e sanções

Congresso Bicentenário dos Povos se encerra reafirmando o caráter anti-imperialista da luta e resistência dos povos do mundo
Congresso anti-imperialista marca resistência dos povos do mundo
Congresso anti-imperialista marca resistência dos povos do mundo

Se encerrou nesta quarta-feira, 23/06, o Congresso Bicentenário dos Povos do Mundo realizado em Caracas, Venezuela. Um esforço conjunto de quase 20 setores organizados (mulheres, juventude, trabalhadores, intelectuais, educadores, comunicadores e vários outros) da Venezuela e de mais de 123 países na luta anti-imperialista.

Por Juliana Medeiros e Martha Raquel

Construído em reuniões virtuais prévias que ocorreram por pelo menos três meses antes da realização de fato do Congresso presencial, o encontro internacional aglutinou homens e mulheres de mais de 150 movimentos sociais e partidos políticos com uma articulação orgânica que teve por objetivo ultrapassar as agendas setoriais de luta e unir esses vários movimentos em uma agenda comum internacional que faça frente aos desafios que a conjuntura mundial representa atualmente, em especial, para os povos em desenvolvimento, luta e resistência em todo o mundo.

“Viemos aqui para debater problemas políticos, sociais, econômicos, mas não somente os que se referem à Venezuela, mas que são comuns a todos nós, na América Latina, África e em todo o mundo” Evo Morales

Desde 26 de março, quando o presidente venezuelano Nicolás Maduro convocou a realização do Congresso, foram realizadas mais de 74 reuniões setoriais que foram traduzidas em debates políticos que procuraram buscar soluções para os imensos desafios que povos tão distintos enfrentam, especialmente no atual cenário de pandemia.

O esforço pela realização deste Congresso Bicentenário dos Povos do Mundo, com a participação virtual e presencial de mais de 300 mil homens e mulheres de cada parte do planeta, somente foi possível com a perspectiva histórica da necessidade de unidade. Durante o evento foram definidas metodologias de trabalho para, por exemplo, combater os desafios da pandemia, a crise do capitalismo, as dificuldades de sistemas políticos diversos sob uma perspectiva progressista, em busca de iluminar ideias e promover as transformações emancipadoras que hoje o mundo necessita.

200 anos de resistência

“200 anos de luta e 200 anos de resistência, que nos animam a seguir lutando” – Ádam Chávez

Depois de três meses de preparação para a realização desse congresso, e ainda durante a realização do mesmo, se evidenciou o foco de quase todas as diferentes organizações em propostas que promovam mais integração nas várias estratégias apresentadas, em especial em plataformas de compartilhamento de comunicação popular, emancipadora, combatente e que possa romper com a guerra informativa que sofrem povos de países como Venezuela, Cuba, Nicarágua, dentre outros.

“Temos mais coincidências do que divergências, para trabalharmos juntos em elementos concretos. Um deles é a unidade e tendo em conta a experiência da Venezuela e dos diferentes países que estiveram presentes neste Congresso”, afirmou no encerramento do Congresso, um dos seus principais coordenadores, Adam Chávez, irmão do falecido presidente Hugo Chávez e que – como dizem os venezuelanos – é quem carrega a bandeira da Revolução Bolivariana deixada como herança pelo irmão revolucionário.

Dentre as várias propostas de resoluções políticas, as organizações venezuelanas propuseram uma em especial para que o Congresso incluísse em sua declaração final o total rechaço às intenções do imperialismo norte-americano de seguir avançando sobre a América Latina em uma espécie de novo ‘Plano Condor’, promovendo golpes e buscando amedrontar e reduzir a resistência ao domínio de caráter neocolonial.

“Vejam o que está acontecendo com as vacinas. A Venezuela pagou pelas vacinas do sistema Covax, da ONU, e as vacinas ainda não chegaram. A Venezuela pagou, exatamente como outros países dentro desse programa. Que nome dar para isso? Bloqueio de vacinas para um país durante uma pandemia?” – Diosdado Cabello

Nas mesas de debate, temas muito caros à Venezuela mas também a outros povos que resistem a ser dominados, que resistem às tentativas de colonização, resistem à manter-se como periferia do sistema imperialista, sendo o mais atual as chamadas “medidas coercitivas unilaterais” que mais violentam nesse momento os venezuelanos e venezuelanas.

Também a memória histórica foi tema do Congresso, um exercício de reviver a história de resistência dos povos latino-americanos e africanos, em os aspectos social, cultural, política, econômico sob uma perspectiva global.

Os povos em resistência no mundo vivem nesse momento uma situação profundamente agravada pela pandemia e que exige grande esforço de todos para enfrentar a ameaça neoliberal e neocolonial. E nesse Congresso Bicentenário realizado em uma Venezuela que é alvo preferido de todo tipo de ataque midiático, foram países como Chile, Equador e Brasil repetidamente citados por delegados de todo o mundo como péssimos exemplos de governos cujos projetos são de extermínio de sua população mais vulnerável e povos originários.

O cenário brasileiro, em especial, é objeto de curiosidade de todos. Em conversas nos corredores durante o evento, é impossível não ser abordado com perguntas sobre como a população brasileira pode aceitar viver sob as condições que Bolsonaro impõe a seu povo, sem uma reação proporcional de resistência e rechaço.

Campanha pelo fim do bloqueio a Cuba

Uma das pautas mais coletivamente abraçadas neste Congresso foi a campanha internacional pelo fim do bloqueio a Cuba. Enquanto o Chanceler Bruno Rodriguez se pronunciava na Assembleia Geral da ONU, Cuba obteve uma votação histórica majoritária com apenas 2 votos contrários.

Sem surpresa, os votos contrários ao fim do bloqueio partiram dos EUA e de Israel. Além disso, três abstenções também chamaram a atenção: Ucrânia, cujo governo atual, neonazista, é apoiado pelos EUA; Colômbia, de Iván Duque, praticamente uma base norte-americana na América do Sul e que nesse momento promove um dos massacres mais sangrentos a manifestantes em todo o seu território; e… o Brasil de Jair Bolsonaro, uma vergonha histórica para um país que sempre usou sua diplomacia para a promoção dos direitos humanos.

Realidade da covid na Venezuela

Para além dos dados que falam por si, já que os números totais de mortos na pandemia da Venezuela são equivalentes aos mortos diariamente no Brasil – em um ano e meio foram registradas 3.023 mortes pelo vírus, é caminhando pelas ruas da Venezuela, que se pode entender em pequenos exemplos cotidianos a diferença de um governo que verdadeiramente se importa com seu povo.

Em cada esquina há avisos públicos sobre os protocolos de biossegurança, todas as lojas e centros comerciais possuem dispensadores de álcool gel (sempre recarregados), todos os vendedores atendem clientes com um spray de álcool nas mãos e é impossível entrar em qualquer espaço público sem máscaras.

O país mantém um esquema de flexibilização e radicalização da quarentena solidária e voluntária. Desde junho do ano passado, o país adota o esquema 7+7, uma semana de confinamento total e uma semana de flexibilização.

Adicionalmente, vale lembrar que para viajar à Venezuela, há sete meses aberta ao turismo, é necessário além do teste PCR necessário para o embarque, pagar no balcão da cia aérea, uma taxa de 60 dólares que são transferidos ao governo venezuelano e correspondem aos testes de PCR obrigatoriamente feitos nos aeroportos do país em cada pessoa que desembarca e outro pouco antes de embarcar novamente para seu país.

Ou seja, a Venezuela reabriu ao turismo, mas é preciso adicionar esse custo à viagem, o que poderia parecer uma política não muito hospitaleira e, no entanto, apenas traduz a preocupação do governo com a pandemia – no caso dos turistas brasileiros, em especial com a “cepa Bolsonaro” como diz Nicolás Maduro.

Veja também: O que podemos aprender com os 200 anos da Vitória de Carabobo na Venezuela

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