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Comunidades de Refugiados e Imigrantes Iniciam Articulação Inédita em São Paulo

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O restaurante/bar/refúgio Al Janiah, no centro de São Paulo, uma referência para a comunidade de refugiados e imigrantes palestinos, sírios e árabes da cidade. Tornou-se um centro de eventos, debates, expressão artística e cultural. Na noite de ontem (2), o Oriente Médio encontrou-se com a África. O Al Janiah recebeu refugiados-amigos do Congo que apresentaram aos mais de 150 presentes, em uma aula-testemunho emocionada, um emaranhado das histórias do país e de alguns congoleses e congolesas.

A iniciativa insere-se numa nova articulação que começa a tomar corpo, um processo de diálogo e interação das comunidades de refugiados/imigrantes de diversos países e nações capaz de conferir aos seus integrantes protagonismo que muitas vezes lhes é negado nas organizações de acolhimento brasileiras.  Jobana Moya da equipe de base Warmis (imigrantes da América Latina) e Hasan Zarif, do MOP@T, Movimento palestina para todos, abriram a roda de conversa.

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“Podemos conversar entre nós, aproximar, conhecer uns aos outros, e assumir nossos destinos no Brasil com mais autonomia e protagonismo” diz Pitchou Luambo, congolês refugiado no Brasil há seis anos e um coordenador geral do GRISTI (Grupo de Refugiados e Imigrantes Sem-Teto de São Paulo).

Ele foi um dos que apresentaram a realidade do Congo ontem à noite. Em seu país, era advogado e sua atividade era centrada na defesa de vítimas de estupro. Em São Paulo, além de ativista do GRISTI, cursa pós-graduação lato sensu em política e relações internacionais na FESPSP.

Pitchou apresentou um documentário sobre o Congo que surpreendeu todo mundo. “Sangue no celular” – veja aqui em inglês com legendas em espanhol: http://www.teledocumentales.com/sangre-en-el-movil-subtitulado/

O Congo é palco do mais sangrento conflito do mundo desde a Segunda Guerra Mundial, com mais de 6 milhões de mortos nos últimos 20 anos –uma guerra escondida aos olhos do Ocidente. No centro da disputa, que envolve o próprio Congo, Ruanda, Uganda e Burundi, está um metal, o coltan. É um metal de alta resistência térmica, eletro-magnética e corrosiva e, por isso, fundamental na composição dos chips utilizados nos celulares, notebooks, desktops e outros eletrônicos. O Congo tem nada menos que 80% das reservas mundiais do metal e os três países que lhe movem guerra tornaram-se exportadores sem ter nenhuma mina de coltan.

Hortense Mbuyi e Ptichou Luambo durante a projeção do documentário “Sangue no celular”

Hortense Mbuyi e Ptichou Luambo durante a projeção do documentário “Sangue no celular”

É uma guerra especialmente sangrenta; sequestros, estupros, chacinas são rotineiros. Pitchou apresentou ontem à noite um panorama sobre a guerra e o interesse da indústria tecnológica no coltan. Ele relatou algo dramático, que acontece desde o tempo da colonização pelos belgas: mata-se com especial afinco os mais velhos nas tribos. Como a cultura no país é fortemente oralizada, a morte dos mais velos significa um ataque direto aos transmissores da cultura e tradições do povo.

Depois de Pitchou falou Hortense Mbuyi, também congolesa e advogada. Ela é ativista pelos direitos das mulheres e apresentou uma dramática denúncia da violência sofrida por elas no Congo. “O estupro é arma das guerrilhas. Além da violência física há uma violência psicológica feroz. Muitas mulheres e crianças são estupradas diante dos homens da família.  Isso abala psicologicamente todos na tribo.” Para Hortense,  “a globalização de que tudo mundo fala, significa o bem estar de uns poucos à custa de milhões e milhões que estão sofrendo, com as guerras, violências , explorações.”

Por fim, falou Christo Kamanda, jornalista congolês e ativista pelo direito de expressão dos imigrantes. Ele apresentou a importância da mobilização da comunidade internacional para o mundo entender e se sensibilizar com o drama da guerra do Congo.

Hélio Carlos de Mello, dos Jornalistas Livres, que foi lá acompanhar o encontro depois de um almoço muito animado e revelador ao redor de Pitchou Luambo, também ontem, escreveu um breve texto sobre a noite:

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“A PALAVRA REFUGIADA

Meu ato se recolhe em noite úmida. Em porão de viaduto e bares refugiados na cidade encontro homens vindos de antigo reino. Descubro na cidade soturna o espírito do grande Reino do Congo, e desvelo que o solo retalhado pelos colonizadores europeus, que habita nossos celulares e toda eletrônica da comunicação, tornou-se o solo sagrado dos enterros, talvez a história mais feroz da intolerância humana e ferocidade do capitalismo, onde países disputam a golpe de facão e tiros de fuzil o minério que nos permite sermos países desenvolvidos.

Saio meio envergonhado da palestra, pensamento vago na noite fria, acanhado de ser gente e consumidor. A dor não se refugia na alma, fica estampada nos olhos, na pele, nos gestos, apenas migra e nos comunica seu pesar. Imigrar é vontade de vida, é desejo de prosseguir e plantar. Quando se foge da morte vencemos a noite, mas não da história que nos condena todos à reflexão.”

 

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3 Comments

3 Comments

  1. Lili Angelika

    05/06/16 at 20:29

    E assim segue como na antiga história dos diamantes de sangue…

  2. Eduardo M P Silva

    06/06/16 at 16:27

    só para corrigir um pouco uma informação: onde se menciona que o “coltan” é um metal usado etc… na verdade é o nome dado a uma mistura de dois outros (columbite e tantalita) de onde se extraem dois metais (nióbio e tântalo). Esses sim são usados na indústria de tecnologia.

  3. Guilherme DiAS

    19/06/16 at 12:47

    Pergunta ao editorail como O Movimento Palestina Para Todos pode realmente ser para Todos ???

    Se existe um aparthaid Islamico na Palestina Faixa de Gaza :

    1) nao ha nenhum bar GAY
    2)As mulheres vao para cadeia ao desobedecerem os seus maridos
    3) Os cristao pagam Jizya Imposto islamico da humilhacao que eh cobrado de todo nao mulcumano ate que ele se converta ao islam
    4) Pena de morte execucao publicas para crimes em jugamento. A maioria foram pessoas que se opuseram ao regime

    Eh isto o modelo de democracia e pais de diretos iguais a todos LGBT ou minorias etnicas que eles propoem neste Palestina para todos?

    Como eu vou visitar a Igreja no Santo sepulcro se eles “lutadores para igualidade ou liberdade assumirem o poder?”

    Refugiado sim !!!

    Terrorista nao. !!!

    O brasil ja tem probelma de mais sem estes “guerrilehiros “”revolucionarios”” do apartheid islamico”

    Sou fa do Dailalama por sua luta sincera, pacifica e honesta
    Sou fa do Gandih pela sua luta pacifica e exmplo a humandide

    Sou contra a movimentos Facistas e violentos ocomo ISIS e seu comparcas

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Moradores da Maré são bailarinos em espetáculo com temporada na Suiça

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Foto: Andi Gantenbein, de Zurique, Suíça, para os Jornalistas Livres

Denúncias sobre os atuais tempos de antidemocracia, assassinatos da população preta, pobre e periférica e o da vereadora Marielle Franco aparecem em cartazes erguidos pelos bailarinos de “Fúria”, espetáculo de Lia Rodrigues, considerada uma das maiores coreógrafas brasileiras da atualidade e uma das mais engajadas na realidade política do país.

A foto é da noite deste sábado (16), durante apresentação do grupo brasileiro no ‘Zürcher Theaterspektakel’, em Zurique, Suíça.

No Brasil, Fúria estreou em Abril, no Festival de Curitiba. A montagem evidencia, de maneira crítica, relações de poder, desigualdades, e as interligações entre racismo e capitalismo.

O espetáculo foi concebido no Centro de Artes da Maré, na Maré, RJ. O local foi inaugurado em 2009, e o projeto nasceu do encontro de Lia Rodrigues Companhia de Danças com a Redes da Maré. Os bailarinos são moradores da favela e de periferias do RJ.

Fruto dessa mesma parceria é a Escola Livre de Dança da Maré que resiste, em meio ao caos do governo violento de Witzel contra as favelas do RJ.

 

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Temer/Kassab preparam ataque ao seu direito à Internet

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O método Temer de solapar direitos dos cidadãos brasileiros tem novo alvo: a Internet. Sem qualquer discussão prévia, os golpistas querem mudar a composição do Comitê Gestor da Internet.

A consulta pública determinada pelo governo, sem diálogo prévio com os membros do Comitê e com apenas 30 dias de duração, certamente pretende aumentar o poder e servir apenas aos interesses das empresas privadas. As operadoras de telefonia têm todo o interesse do mundo em abafar as vozes de técnicos, acadêmicos e ativistas que lutam pela neutralidade da rede, por uma Internet livre, plural e aberta.

Veja, abaixo, a nota de repúdio ao atropelo antidemocrático da consulta pública determinada por Temer/Kassab. A nota é da Coalizão Direitos na Rede que exige o cancelamento imediato desta consulta.

Nota de repúdio

Contra os ataques do governo Temer ao Comitê Gestor da Internet no Brasil

A Coalizão Direitos na Rede vem a público repudiar e denunciar a mais recente medida da gestão Temer contra os direitos dos internautas no Brasil. De forma unilateral, o Governo Federal publicou nesta terça-feira, 8 de agosto, no Diário Oficial da União (D.O.U.), uma consulta pública visando alterações na composição, no processo de eleição e nas atribuições do Comitê Gestor da Internet (CGI.br).

Composto por representantes do governo, do setor privado, da sociedade civil e por especialistas técnicos e acadêmicos, o CGI.br é, desde sua criação, em 1995, responsável por estabelecer as normas e procedimentos para o uso e desenvolvimento da rede no Brasil.

Referência internacional de governança multissetorial da Internet,

o Comitê teve seu papel fortalecido após a

promulgação do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014)

e de seu decreto regulamentador, que estabelece que cabe ao órgão definir as diretrizes para todos os temas relacionados ao setor. A partir de então, o CGI.br passou a ser alvo de disputa e grande interesse do setor privado.

Ao publicar uma consulta para alterar significativamente o modelo do Comitê Gestor de forma unilateral e sem qualquer diálogo prévio no interior do próprio CGI.br, o Governo passa por cima da lei e quebra com a multissetorialidade que marca os debates sobre a Internet e sua governança no Brasil.

A consulta não foi pauta da última reunião do CGI.br, realizada em maio, e nesta segunda-feira, véspera da publicação no D.O.U., o coordenador do Comitê, Maximiliano Martinhão, apenas enviou um e-mail à lista dos conselheiros relatando que o Governo Federal pretendia debater a questão – sem, no entanto, informar que tudo já estava pronto, em vias de publicação oficial. Vale registrar que, no próximo dia 18 de agosto, ocorre a primeira reunião da nova gestão do CGI.br, e o governo poderia ter aguardado para pautar o tema de forma democrática com os conselheiros/as.

Porém, preferiu agir de forma autocrática.

Desde sua posse à frente do CGI.br, no ano passado, Martinhão – que também é Secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – tem feito declarações públicas defendendo alterações no Comitê Gestor da Internet. Já em junho de 2016, na primeira reunião que presidiu no CGI.br, após a troca no comando do Governo Federal, ele declarou que estava “recebendo demandas de pequenos provedores, de provedores de conteúdos e de investidores” para alterar a composição do órgão.

A pressão para rever a força da sociedade civil no Comitê cresceu,

principalmente por parte das operadoras de telecomunicações,

apoiadoras do governo.

Em dezembro, durante o Fórum de Governança da Internet no México, organizado pelas Nações Unidas, um conjunto de entidades da sociedade civil de mais de 20 países manifestou preocupação e denunciou as tentativas de enfraquecimento do CGI.br por parte da gestão Temer. No primeiro semestre de 2017, o Governo manobrou para impor uma paralisação de atividades em nome de uma questionável “economia de recursos”.

Martinhão e outros integrantes da gestão Kassab/Temer também têm defendido publicamente que sejam revistas conquistas obtidas no Marco Civil da Internet, propondo a flexibilização da neutralidade de rede e criticando a necessidade de consentimento dos usuários para o tratamento de seus dados pessoais. Neste contexto, a composição multissetorial do CGI.br tem sido fundamental para a defesa dos postulados do MCI e de princípios basilares para a garantia de uma internet livre, aberta e plural.

Por isso, esta Coalizão – articulação que reúne pesquisadores, acadêmicos, desenvolvedores, ativistas e entidades de defesa do consumidor e da liberdade de expressão – lançou, durante o último processo eleitoral do CGI, uma plataforma pública que clamava pelo “fortalecimento do Comitê Gestor da Internet no Brasil, preservando suas atribuições e seu caráter multissetorial, como garantia da governança multiparticipativa e democrática da Internet” no país. Afinal, mudar o CGI é estratégico para os setores que querem alterar os rumos das políticas de internet até então em curso no país.

Nesse sentido, considerando o que estabelece o Marco Civil da Internet, o caráter multissetorial do CGI e também o momento político que o país atravessa – de um governo interino, de legitimidade questionável para empreender tais mudanças –

a Coalizão Direitos na Rede exige o cancelamento imediato desta consulta.

É repudiável que um processo diretamente relacionado à governança da Internet seja travestido de consulta pública sem que as linhas orientadoras para sua revisão tenham sido debatidas antes, internamente, pelo próprio CGI.br. É mais um exemplo do modus operandi da gestão que ocupa o Palácio do Planalto e que tem pouco apreço por processos democráticos.

Seguiremos denunciando tais ataques e buscando apoio de diferentes setores,

dentro e fora do Brasil,

contra o desmonte do Comitê Gestor da Internet.

 

8 de agosto de 2017, Coalizão Direitos na Rede

 

Notas

1 A Coalizão Direitos na Rede é uma rede independente de organizações da sociedade civil, ativistas e acadêmicos em defesa da Internet livre e aberta no Brasil. Formada em julho de 2016, busca contribuir para a conscientização sobre o direito ao acesso à Internet, a privacidade e a liberdade de expressão de maneira ampla. O coletivo atua em diferentes frentes por meio de suas organizações, de modo horizontal e colaborativo. A nota está em https://direitosnarede.org.br/c/governo-temer-ataca-CGI/ .

2 Para ouvir a entrevista, à Rádio Brasil Atual, de Flávia Lefévre, conselheira da Proteste e representante do terceiro setor no Comitê Gestor da Internet, que afirma que as mudanças visam a atender interesses do setor privado e ferem caráter multiparticipativo do Comitê: https://soundcloud.com/redebrasilatual/1008-enrevista-flavia-lefevre

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FRAGMENTO E SÍNTESE

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Ligar a tv logo cedo num pequeno quarto de hotel no interior do país é desentender-se dos fatos nos telejornais matutinos. Abre-se a janela e uma menina vai à escola à beira do rio, um menino faz gol de bicicleta entre guris e o homem ergue a parede de sua casa.  Tudo tão distinto das ruas em alvoroço de protestos urbanos ou políticos insanos.  No rincão o que se busca é continuar vivo entre chuvas e trovões, sem não ou talvez. Tudo é certo. Sem modernidades calam ou arremedam nossa urbanidade, gente que se defende com pimentas e ervas, oração e vizinhança. Voz sem boca, boca sem voz, essa gente não é parte nas notícias selvagens dos jornais distantes.  Se resolvem entre cozidos, arte, bola e santos. No país de tantos cantos, muitos voam fora da asa e sem golpes entre si vão tocando suas mazelas e graça.

Mas vivemos tempos obscuros, a noite persiste em nossos avançados quinhentos e tantos anos e muitos santos. Dizem que burro velho é difícil se corrigir nos hábitos. Em manhã chuvosa na grande São Paulo, ligo a tv e o notbook, as janelas se abrem antes que a cortina deixe entrar o novo dia. Surpreendente ver na tv o deputado Jair Bolsonaro afirmando em um clube israelita na cidade do Rio, que se presidente for, não teremos mais terras indígenas no país. Ao mesmo tempo o computador expõe na rede social a opinião de meu amigo Ianuculá Kaiabi Suiá, jovem liderança do Parque Indígena do Xingu, onde leio ao som do deputado que ladra:

Jair Bolsonaro, obrigado por você existir. Graças a você, hoje, temos noção de quanto a população brasileira carece de conhecimento, decência, consciência, juízo, amor e que carrega um imenso sentimento de ódio sem saber o porque. Sim, sim, não sabem. Um exemplo? Veja a bandeira de quem te aplaude, é de um povo que, assim como nós, sofreu as piores atrocidades cometidas pelas pessoas que pensavam como você. Enfim, eu não sei se essa parcela do povo brasileiro pode ser curada, mas vou pedir para um pajé fumar um charuto sagrado e revelar se o espírito maligno que se apossou da tua alma pode ser desfeita com uma grande pajelança.

Ianuculá sabe o que diz, sabe de todo martírio vivido pelos povos originários, e mesmo assim se propõe a consultar o mundo dos espíritos.

 

É deus e diabo na terra do sol, a mesma terra que ofende também abriga e anuncia uma mostra de cinema indígena nos próximos dias. Terra de etnias e corpos na terra, a cidade maravilhosa do Rio não se calará diante do fascismo desses tempos sombrios, acompanhe.

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