“Como gente petista, baixa e preta”

Enfermeira se passa por juíza e comete crime de racismo em Salvador.
Crédito: reprodução redes sociais

 por Franklim Peixinho [1], em parceria Jornalistas LivresHori

No apagar das luzes de 2024, achávamos que o apagamento de Yemonja e o racismo religioso da nega lôra, era raspa do tacho. Assim, começamos o ano de 2025 com o sentimento ingênuo de um “novo dia, de um novo tempo, que começou”…

Zorra nenhuma, aqui no Reino do Dendê, nomeadamente Salvador, a boa terra, um exemplo de opressões interseccionais veio como um murro no queixo, para nos dizer que continuamos nossa sina de contradições, na cidade mais negra fora da África.

Explico melhor: No dia 04 de janeiro deste ano, a senhora Camila Ferraz Barros, após se passar por juíza em um Pet Shop, com seus óculos escuros, dedo em riste, tom de voz revoltado, se exaltou e chamou a gerente de “petista, baixa e preta”.

“Eu poderia dar ordem de prisão. Eu estou exaltada pela forma como sua funcionária (me atendeu). E você, como gerente, deveria estar me tratando assim. Você mudou a narrativa, como gente petista, baixa e preta”. (Camila Ferraz Barros)

Em verdade esta senhora é enfermeira do Hospital Mater Dei Salvador. A empresa em resposta, informou que não compactua com atos de racismo, lgbtfobia, bullying, e qualquer violação de Direitos Humanos, e já informou o desligamento desta senhora dos seus quadros de funcionários.

O caso é mais um e emblemático, por ser a vítima uma mulher negra, proletária, no ambiente de trabalho, confrontada por uma pessoa branca, de forma injuriosa à sua identidade racial e de classe.

A cidade de Salvador nos apresenta estas perplexidades: gente – branca – que ganha dinheiro com Axé e demoniza a ancestralidade e as divindades das religiões de matriz africana – prefeito transracial, entre outras aberrações como a da enfermeira Camila Ferraz, que além cometer crime de racismo, se autointitula uma falsa identidade, como muito branco faz – vide o caso Cátia Raulino, a falsa professora, advogada, mestra e doutora -, sem sequer ser questionado.

Esperamos que a senhora Camila seja, ao menos, um pouco criativa, porque já conhecemos o script: “que me conhece sabe…”, “estava sob efeito de medicamento…”.

No ano regido por Xangô, que a justiça seja feita!

 Franklim Peixinho é homem negro, Ogan do Ilê Axé Ikandèlé, professor de História e Direito Penal, advogado antirracista, militante do Círculo Palmarino/Bahia, Dirigente do Instituto Hori. Mestre em Políticas Públicas e em História da África, Diáspora e Povos Indígenas (UFRB), Doutor em Ciências Jurídicas. Pesquisa a necropolítica da guerra às drogas no Brasil e educação antirracista.

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