Expressão Cultural ou Racismo Estrutural Cultural?
por Renato Azevedo
“Carnelevarium, em latim, significa tirar ou remover a carne, sendo de origem cultural Romana, com elementos incorporados por franceses, portugueses e espanhóis católicos.
E apropriação é ato que remete à tentativa da denominação neopentecostal Bola de Neve, comunidade Evangélica, de perverter a cultura dos festejos de carnaval que, no Brasil, desde os tempos coloniais, é considerada uma manifestação do Povo de Terreiro.
Já houve a mesma tentativa com a Capoeira e já tentaram até mesmo mudar o nome do Acarajé para “bolinho de Jesus”.
Para os desavisados, e há muitos anos, a Capoeira foi proibida e criminalizada por ser a nobre arte. Era defendida e, também, protegia os Quilombos e os Terreiros, entre os séculos XVIII a XX, enquanto o “bolinho” pertence aos alimentos servidos em nome de Iansã, Senhora dos Ventos.
Agora, pelo destaque da Folha de São Paulo digital no domingo (19), o Afoxé é o alvo deste tipo de distorção aviltante.
Sim, o Afoxé, que é a manifestação cultural que louva o sagrado do Povo do Santo, quando entram nos festejos profanos do carnaval.
É uma interpretação brasileira, realizada em forma de benção que acontece há séculos em razão da participação social comunitária do Povo de Santo, cultuada em todo o nosso Território, representando a fé nos Orixás, Inquices, Voduns e Encantados.
Nada se equipara a um retiro, ou momento de reflexão calmo e silencioso, e perde sua essência quando é realizada para confrontar as ditas “Trevas de Carnaval.”
Liberdade religiosa deve ser protegida sempre. Mas como podemos interpretar uma ação coletiva, que descaracteriza uma festa nacional, que tem raízes tradicionais afro-brasileiras?
Esta postura ataca o modo de ser e existir da parte da sociedade mais aviltada em seus costumes e em seu jeito de comemorar: o Povo Negro Brasileiro.
É sabido que o samba, o candomblé e outras manifestações populares negras têm a presença de pessoas brancas, indígenas e orientais, mesmo sendo de origem negra, e é salutar.
Mas indigno é desrespeitar os princípios desta manifestação cultural de origem culto afro, aviltando e tentando aparar, de modo pervertido, usando dogma cristão evangélico que conflita com a liturgia do festejo.
Melhor recomendação é se: não gosta de Afoxé, fica em casa e, se gosta, curta e compartilha, salientando suas tradições como arte e cultura de Preto e de Raíz Religiosa Afrobrasileira.
Tentar perverter a cultura negra é Racismo Cultural.”
Renato Azevedo é advogado e CEO da Produção Preta
Nas redes: @rsazevedo73
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Uma resposta
Bando de idiotas . Tanto as igrejas quanto os carnavalescos.