Caixa ignora público interno em escândalo de assédio

Mais de 48 horas depois da demissão do presidente, funcionários ainda não foram sequer informados sobre trocas na direção da estatal e muito menos sobre providências contra novos casos

O escândalo das acusações de assédio sexual na Caixa Econômica Federal está na boca do povo. Depois da reportagem do site Metrópoles  informar sobre a investigação em quem pelo menos cinco funcionárias da instituição reclamavam das condutas constrangedoras e até criminosas do então presidente, Pedro Guimarães, mais e mais denúncias chegaram ao público em geral. Ontem, foram liberados áudios com xingamentos e assédio moral contra funcionários homens.

Há três dias também somos informados pelos sites e jornais que a futura presidente da Caixa, Daniella Marques é ex-braço direito do ministro Paulo Guedes e que já protagonizou um episódio de agressão contra a deputada (vítima preferida do bolsonarismo) Maria do Rosário. Contudo, sua indicação parece menos ruim que o número 2 do banco, o vice-presidente Celso Leonardo, que também deve deixar a instituição por causa de denúncias de assédio, um alívio para funcionários e, principalmente, funcionárias que temiam sua ascensão

Hoje soubemos pelos jornais que o agora ex-presidente da Caixa recebia indevidamente pela participação em mais de 20 conselhos de administração, somando vencimentos mensais da ordem de mais de R$ 230 mil e que mesmo desligado da instituição devido ao escândalo, e portanto com pouca chance de ser empregado rapidamente por outra empresa financeira, receberá ao menos R$ 56 mil por mês pelos próximos seis meses a título de “quarentena” .

Página principal da Intranet da Caixa no dia de hoje. Nenhuma notícia para o público interno.

Num governo abertamente machista e misógino, campeão em denúncias de assédio moral e sexual parece que finalmente a imprensa decidiu falar mais desses assuntos para o público em geral. Mas e o público interno da Caixa? Bem, aí o buraco é bem, bem mais embaixo. Na Intranet e nos boletins internos da Caixa, parece que está tudo absolutamente “normal”. Segundo informações de um ex-assistente da Caixa (que há mais de um ano pediu exoneração do cargo para não ter que lidar com o ex-presidente) até o fim da tarde dessa sexta-feira 1º de julho, os funcionários e funcionárias não receberam qualquer informação oficial sobre a saída de Pedro Guimarães e a entrada de Daniella Marques. Também não há qualquer menção oficial a mudanças na estrutura de recebimento de denúncias de assédio, ou de políticas para enfrentar o tema, nenhuma mensagem de solidariedade ou de defesa dos próprios canais de denúncia.

Segundo o ex-assistente, “a Caixa soltou notas nos serviços Caixa Notícias para o público externo, imprensa em particular, mas ignora solenemente o seu público interno”, demonstrando, mais uma vez, a falta de respeito que esse governo sempre teve com os funcionários públicos. Ele lembra, ainda, que se não fosse a imensa dedicação dos funcionários do banco, acima até de sua segurança pessoal e de saúde, não teria sido possível realizar os pagamentos do Auxílio Emergencial, que garantiu ao menos comida para milhões de brasileiros durante os piores momentos da pandemia. 

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