Alguns lutaram, com armas ou ideias, nos anos 1960, 70 e 80 contra a ditadura. Outros aprenderam nos livros, com amigos ou familiares o que realmente aconteceu nos chamados “anos de chumbo”. Muitos se afastaram das lutas partidárias decepcionados por erros, concessões e até crimes praticados por integrantes de partidos de centro-esquerda desde os movimentos das Diretas em 1984 e da Constituição de 1988. Uma parte seguiu militando em partidos, movimentos ou organizações não-governamentais. Outra foi tratar mais da família, da saúde e do progresso pessoal sem jamais esquecer os ideais da juventude.
Eu, que nasci quase que na promulgação do Ato Institucional Número 5 e enfrentei a Covid19 ao completar 52 anos, também estava há um bom tempo fora das ruas. Com a primeira dose da Coronavac circulando nas veias há uma semana, decidi peitar a sequela da fadiga crônica e ficar pelas bordas da enorme manifestação do #3JForaBolsonaro na Avenida Paulista. Longe da muvuca juvenil mas perto o bastante para ouvir alguns discursos, comecei a notar no meu entorno a preponderância das barbas e cabelos brancos, como os meus estão ficando cada vez mais rápido. E voltando pra casa antes do escurecer e de começarem as previsíveis infiltrações e agressões gratuitas da polícia.
Quem tem mais de 50, dois neurônios e o mínimo de instrução formal não tem direito de ignorar o perigo do momento que atravessamos. 520 mil mortes, 14 milhões de desempregados, 19 milhões com fome e 11 novos bilionários com nacionalidade brasileira são um retrato impensável há 15 anos. Aliás, impensável mesmo há 5 anos! A mentira como política, o descontrole da polícia e seu envolvimento com as milícias, o genocídio dos povos negros e indígenas, a destruição do meio-ambiente, a militarização do governo, a corrupção até na compra de vacinas não nos permite ficar inertes. E tudo que está ruim pode ficar ainda pior. A gente sabe. A gente já viu esse filme.
Então, é mesmo hora de botar duas máscaras, sendo pelo menos uma PFF2 ou N95, arrumar um frasquinho de álcool, ajeitar casaco, boina, talvez um cartaz, e ir pros protestos. Senão por nós, que temos mais vida atrás do que adiante, pelos filhos, netos e toda essa juventude tão diversa, forte, bonita e que começa agora a entender que mesmo esse simulacro de democracia em que vivemos (ou vivíamos até o Golpe de 2016) é preferível ao abismo fascista que se desenha no horizonte. Pelo menos, numa democracia formal, podemos construir políticas públicas com ideais, com tensionamentos, com pressão popular, com reivindicações organizadas. Bem vindos às ruas, bem vindos às lutas. Como dizem os jovens.#Tamojunto!
4 respostas
Sou da geração anos 60/70. E totalmente a favor de não perder o fôlego, nem deixar apagar a chama. Lutamos tanto por direitos humanos, dos indígenas, dos negros, da mulher, por igualdade, por distribuição de renda, por emprego, por meio ambiente, contra as guerras ! Infelizmente, temos de começar tudo de novo. Viva os cabelos brancos e as idéias sempre novas !
TENHO 65 E NÃO SAIO DAS RUAS..RECUAM FASCISTAS, RECUAM O MOVIMENTO POPULAR ESTÁ NAS RUAS..
” Eu você aí parado! Também é enganado! ” Assim gritávamos nas greves contra as privatizações na década de 90, assim gritamos hoje. A rua é lugar de fortalecer nossa luta.