Brasileira é vítima de xenofobia em Portugal

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Por Jorge António, de Lisboa, especial para os Jornalistas Livres

 

A jornalista brasileira Bruna Luíza Karas, de 25 anos, foi vítima de um ataque xenofóbico enquanto viajava em um trem na região de Lisboa, em Portugal.

Segundo Bruna o homem estava sentado ao lado do grupo de amigas que a acompanhava, e ao notar o sotaque brasileiro iniciou deliberadamente uma série de ofensas direcionadas a ela e às demais amigas. [Veja o vídeo abaixo]

“Eu percebi logo de cara que era pra gente. Fiquei totalmente em choque e sem reação. E também com muita vergonha. Quando ele falou a primeira vez “brasileiros de merda”, fiquei com muita raiva, mas não tive coragem de falar nada. E aí passei a gravar, porque ele não parava de falar”, relatou Bruna aos Jornalistas Livres.

Há cerca de um ano e sete meses morando em Portugal a jornalista revela nunca ter vivenciado uma situação semelhante, ainda que admita já ter sentido discriminações “mais leves” em outras oportunidades.

Bruna ainda contou que teve medo de se tornarem físicas as agressões verbais.

“O comboio (como é chamado o trem, em Portugal) estava cheio, as pessoas olharam mas ninguém falou nada.” – completou.

Caso aconteceu no último sábado (4) em um trem na região de Lisboa. A vítima registrou o ataque com a câmera do seu celular.

Viver em um país estrangeiro é o sonho ou a luz no fim do túnel de muitos brasileiros. Portugal nos últimos anos ganhou o protagonismo entre os destinos cobiçados por pessoas que saem de seus países em busca de uma vida melhor no exterior. A tranquilidade de morar no terceiro país mais seguro do mundo – segundo o Global Peace Index (GPI) – e a facilidade de comunicar-se na mesma língua são algumas das características que fazem dos brasileiros os integrantes da maior comunidade de imigrantes no “país irmão”, como apontam os dados do SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal), que registram mais de 150 mil brasileiros vivendo atualmente no País.

Entretanto, de irmão Portugal lembra pouco, especialmente para muitos imigrantes, como a Bruna e as suas amigas que enquanto são agredidas ouvem aumentar o tom dos discursos de ódio e intolerância, acobertados pela inação do Estado português. Quem vive em Portugal sabe que a brasileira não foi a primeira e não será a última imigrante vítima de xenofobia.

“Em Portugal, nestes tempos de crise sanitária e econômica, temos observado o aumento da xenofobia, do preconceito, da discriminação e do discurso de ódio contra as pessoas imigrantes através de diversos meios, que variam desde o discurso de partidos de extrema direita até as redes sociais. Estas, particularmente, têm nos mostrado que a forma como a xenofobia é praticada também se reinventou, pois cada vez mais existem páginas nas redes sociais, perfis falsos e comentários online com discurso de ódio e anti-imigração. Esse novo local para praticar a xenofobia nos revela duas coisas, pelo menos: a primeira é que a xenofobia social, ou seja, aquela praticada pelas pessoas no dia a dia, ainda é um grande desafio; a segunda é que não bastam haver bons índices de integração baseados na política de Estado se na sociedade portuguesa continuam presentes comportamentos xenófobos e discriminatórios contra as pessoas imigrantes.” – Diz um trecho do artigo Novos e velhos tempo de xenofobia — Por onde anda Portugal?“, publicado por Cyntia de Paula, Psicóloga e Ana Paula Costa, Cientista Social no blog “Ella — Encuentro Latinoamericano de Feminismos”.

 

Em 27 de junho ocorreu em Lisboa uma manifestação organizada por um deputado da extrema-direita portuguesa. Entre os discursos populistas – a la Bolsonaro – a “preocupação” (ainda que com gestos de saudação ao nazismo) era afirmar que “Portugal não é racista”. O ato foi co-organizado por um outro conhecido neo-nazista português, o qual carrega uma suástica na pele, enquanto nos ombros, condenações por tráfico de drogas e homicídio de um imigrante negro. A manifestação teve a adesão de menos de 600 pessoas – muito para um país que se diz pacato e acolhedor – e foi acompanhada com passividade e tolerância pelas autoridades de segurança e pelo governo português.

Enquanto Portugal não reconhecer com maturidade, coragem e consciência as próprias fragilidades, o racismo, a violência contra a mulher, a xenofobia e o descaso com o crescimento de todos estes males, Brunas, Cláudias, Alcindos, Giovanis e outras novas vítimas que surgem diariamente não vão parar de nos lembrar que “há, sim, racismo na casa portuguesa, com certeza!”.

 

1 Comments

  1. Edson

    03/08/20 at 17:58

    Triste demais esse relato, ainda mais sabendo que xenofobia é (ou deveria ser) crime lá.
    Força para a vítima, espero que consiga superar mais esse desafio.

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