Bolsonaro usa enterro da rainha Elizabeth 2ª para dar recado golpista

Desrespeitando o luto pela morte da rainha, Bolsonaro faz comício na sacada da embaixada brasileira. Vergonha internacional!
Desrespeito ao enterro da rainha: Bolsonaro faz comício na embaixada de Londres. Créditos: Twitter/Reprodução
Desrespeito ao enterro da rainha: Bolsonaro faz comício na embaixada de Londres. Créditos: Twitter/ReproduçãoCréditos: Twitter/Reprodução

Como se não tivesse nada melhor para fazer no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro resolveu partir para o que talvez seja sua última viagem internacional como chefe de Estado brasileiro neste final de semana. Contrariando seu comando de campanha, que avaliava ser mais importante que o candidato à reeleição aproveitasse esse tempo de tentar sair do patamar dos 30% nas pesquisas com agendas pelo Brasil, Jair resolveu ainda no início da semana passada que aceitaria o convite para comparecer ao funeral da rainha Elizabeth 2ª em Londres e que, em seguida, daria um pulo em Nova York.

Por Bia Abramo

A ideia de Jair é usar esse material captado nos dois eventos nas inserções de rádio e TV para mostrar que o Brasil sob seu comando não é um pária internacional, (má) reputação que ele construiu laboriosamente em 3,5 anos de mandato, e sim um “player” de respeito no teatro das nações, que se preocupa com o meio ambiente, defende a democracia e está levando o país de volta para o trilho da prosperidade. Se esse era o objetivo, Bolsonaro e sua entourage não podiam ter começado pior.

Assim que chegou à residência do embaixador brasileiro no Reino Unido, que hospeda parte da comitiva, Bolsonaro transformou a sacada em palanque para falar para um ajuntamento pequeno, mas ruidoso de bolsonaristas. Numa fala que se assemelha aos discursos de comício, ele saudou os bolsonaristas que se aglomeravam com camisetas do Brasil, proferindo xingamentos e afirmou: “Sabemos quem é do outro lado e o que eles querem implantar em nosso Brasil. A nossa bandeira sempre será dessas cores que temos aqui: verde e amarela. Jamais aceitaremos o que eles querem impor”.

Rainha? Que rainha? Ele foi fazer comício

De cambulhada, ainda disse não aceitar “discutir a liberação das drogas, a legalização do aborto, nem a ideologia de gênero”, mas sobretudo reiterou sua disposição golpista: “Não tem como a gente não ganhar no 1º turno”. A polícia inglesa teve de intervir para conter a agressividade dos apoiadores de Bolsonaro contra manifestantes anti-Bolsonaro, que protestavam contra a destruição da Amazônia e pelas mortes do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista pernambucano Bruno Pereira.

Insuflar o golpismo e a violência política nas eleições tem sido o arroz com feijão dessa reta final da campanha de Bolsonaro em 2022. Vendo a reeleição se tornar cada vez difícil, apesar dos esforços para derramar dinheiro com o chamado “pacote de bondades” e de dizer que não acredita em institutos de pesquisa, as estratégias de Jair para pelo menos se segurar num patamar de votos que leve à eleição ao segundo turno tem sido insistir nos temas dos costumes, da “falta de liberdade” que estaria associada à vitória de Lula e da esquerda e, como última cartada, a possibilidade de, como Trump, não aceitar o resultado das eleições. Essa é a análise que jornais e revistas estrangeiros vêm fazendo das eleições brasileiras.

Na semana passada, o jornal britânico The Guardian dedicou editorial ao Brasil, defendendo a candidatura de Lula (“A derrota de Lula seria desastrosa para a democracia e o planeta”). Duas das principais publicações sobre economia, o Financial Times e a The Economist, trazem em edições recentes grandes reportagens sobre as eleições brasileiras no mesmo tom, assinalando o perigo para a democracia e o meio ambiente representado por Jair Bolsonaro e preparando os mercados e os investidores mundiais para a volta de Lula.

Bolsonaro e Jackie Kennedy… Ops, Michelle foram ao Westminster Hall, onde a monarca Elizabeth 2ª é velada

Certamente, ir passar mais vergonha em um país em luto pela rainha morta, como assinalou o correspondente do Guardian Tom Phillips em seu perfil oficial do Twitter, não vai contribuir para Bolsonaro recuperar sua imagem no exterior. Nem o ar compungido de Michelle Bolsonaro, de luto fechado em figurino que imitava ponto por ponto os de Jackie Kennedy Onassis, conseguem dar algum ar de dignidade mínima para o presidente Bolsonaro, perdido entre os papéis conflitantes do representante de um país cujo futuro causa tanta preocupação internacional e do candidato que só sabe falar rosnando e mentindo para seus eleitores inadequados e arruaceiros. Amanhã, Bolsonaro deve ficar ainda mais minúsculo na imponente Abadia de Westminster, onde ocorrerá o funeral da monarca, ao lado de dezenas de outros chefes de Estado.

Antes de voltar a Brasília, ele estica a viagem para falar na abertura da Assembleia Geral da ONU em Nova York na quarta (dia 20), onde terá outras oportunidades de, mais uma vez se despir do papel de presidente do Brasil para encarnar um dos uniformes do Bolsonaro de campanha: o do caçador implacável de comunistas inexistentes, o do manipulador de inverdades sobre a pandemia ou do camelô de um país cujos índices econômicos assustam até o financista mais neoliberal de Wall Street.

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