Bolsonaro e Arthur Lira querem criminalizar pesquisas eleitorais

Arthur Lira, presidente da Câmara, afirmou que quer aprovar o projeto de lei que pune institutos de pesquisas com resultados "errados"
Jair Bolsonaro e Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados - Foto: Reprodução
Jair Bolsonaro e Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados - Foto: Reprodução

Após o primeiro turno das eleições, um projeto de lei (PL) 2567/2022 foi apresentado pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR), que é o líder do governo na Câmara dos Deputados. Esse projeto defende a criminalização de institutos de pesquisa eleitoral que apresentarem números divergentes dos resultados oficiais das eleições, acima ou abaixo da margem de erro. O texto apresenta que quem publicar pesquisas erradas nos 15 dias antes do pleito deve pagar uma multa. A pena será de 4 a 10 anos na prisão para quem compartilhar as pesquisas “enganosas”. Nesta quinta (6), Arthur Lira, presidente da Câmara, afirmou que quer aprovar o projeto de lei de Barros. Lira ainda fez uma série de críticas aos institutos de pesquisa, embora não tenha citado nenhum nome. Entretanto, mesmo que a PL seja aprovada na Câmara dos Deputados, ela ainda deve enfrentar resistência no Senado. No dia 4, Bolsonaro também acionou o Ministério Público e o TSE contra institutos de pesquisa.

Por Emanuela Godoy

A polêmica das pesquisas ganhou corpo após o resultado das eleições, que apontaram um caminho diferente daquele que foi apresentado pelos institutos.  Na última pesquisa do Datafolha, divulgada no sábado (1) antes das eleições, Bolsonaro aparecia com 36% das intenções de votos. Pela margem de erro, poderia ter de 34% a 38%. Já Lula (PT), aparecia com 50% dos válidos. A pesquisa Ipec, divulgada também no sábado, mostrava Bolsonaro com 37% e Lula com 51%. O resultado da apuração, que acabou 100% nesta terça (4), mostra, entretanto, o presidente com 43,20% dos votos, 5 pontos acima da margem de erro, e Lula com 48,43%. Outros resultados também foram discrepantes nos estados, como no Ceará, no Distrito Federal e em São Paulo.

Para Barros, as pesquisas apresentaram “erros gravíssimos”, já que “esses levantamentos acabam manipulando e interferindo diretamente na escolha do eleitor, que muitas vezes se vê compelido a trocar seu candidato para fazer valer o ‘voto útil’”. O que os analistas e os diretores dos institutos de pesquisa argumentaram é que os estudos de intenção de voto não devem ser lidos como “corridas de cavalo”. Existem diversos dados a serem analisados além das porcentagens de intenção de voto. Nas pesquisas de Senado, por exemplo, o número de indecisos sempre é enorme, já que a maioria das pessoas decide o voto para senador em cima da hora. O último DataFolha contabilizava que, na véspera do primeiro turno, 30% ainda não tinham candidato para o Senado. Sobre as pesquisas para governador, elas também sempre reúnem mais indecisos do que as presidenciais.

Entretanto, Luciana Chong, diretora do Datafolha, destacou que nesse ano o número de pessoas que estavam inclinadas a mudar o voto para presidente da República era alto. Na véspera das eleições, 13% das pessoas poderiam trocar de candidato e o Ipec revelava 4% de indecisos e 2% que não sabiam quem escolher para a disputa do Executivo Federal. Além disso, Chong destaca que a pesquisa de sábado, um dia antes da eleição, pode ter provocado uma antecipação do segundo turno com a transferência de votos úteis em Bolsonaro. Já a jornalista Mônica Bergamo defende que se houve um erro foi dos jornalistas e analistas e não dos institutos. Mônica defende que as pesquisas indicavam a possibilidade de um voto útil, mas que esse voto não necessariamente iria para Lula, o que os analistas desconsideraram.

Ter acesso a pesquisas é um direito do público e querer criminalizar esses estudos por seus erros é uma interpretação equivocada do que as pesquisas representam. Esses institutos não têm a pretensão de apresentar o exato o resultado das urnas, mas sim captar as intenções de votos da sociedade em uma data que não é a das eleições.

Boicote às pesquisas por parte dos bolsonaristas

Uma das hipóteses para a discrepância das pesquisas e do resultado das urnas, levantada pelo jornalista de dados, Marcelo Soares, apontava para um boicote às pesquisas eleitorais por parte dos bolsonaristas. Para ele,  “a média dos resultados dos institutos de pesquisa mais sérios só ficou fora da margem de erro para um candidato: aquele que passou mais de quatro anos insuflando seus eleitores contra pesquisas”. Para o analista de dados, como os demais candidatos, em média, não ficaram fora da margem de erro, essa seria uma das explicações plausíveis. Os estudos se baseiam na opinião de quem topa responder. Sendo assim, se há um boicote por parte dos apoiadores do presidente, isso acaba refletindo nas pesquisas. 

A hipótese de que haja uma recusa em responder às pesquisas não é, de forma alguma, absurda. Nesta terça (4), o ministro das Comunicações do governo Bolsonaro, Fábio Faria, publicou em suas redes, um vídeo em que pede para que os apoiadores do presidente não respondam institutos de pesquisas como Datafolha ou Ipec nesse segundo turno. 

“Não respondam mais a nehuma pesquisa desses institutos de pesquisa, nem do Datafolha, nem do Ipec nesse segundo turno. Se eles erraram por 14, por 22, por 17, deixe eles errarem por 50, por 60, deixe dar Lula 60 a zero, 100 a zero, a gente sabe que o que vale é o voto de vocês”, disse o ministro.

Calendário de pesquisas nacionais

  • Segunda, 10 de outubro – IPEC
  • Terça, 11 de outubro – IPESPE
  • Quarta, 12 de outubro – PoderData
  • Quinta, 13 de outubro – QUAEST/Banco Genial – Paraná Pesquisas (encomendada pelo Partido Progressista) – Futura/Banco Modal
  • Sexta, 14 de outubro – Datafolha – IPESPE/XP

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