Bancada fundamentalista quer banir debate de gênero no PME

Retornou esta semana, no Rio de Janeiro, o debate e a votação do Plano Municipal de Educação, que são documentos, com força de lei, garantidores de metas para a consolidação do direito à educação de qualidade no período de dez anos.

Neste plano devem estar contidos os objetivos que o sistema de ensino da prefeitura quer atingir, como oferta de vagas nas escolas, quantidade de alunos por classe, grade de disciplinas e os temas a serem tratados para o aperfeiçoamento da formação continuada.

Há alguns anos, porém, os temas relativos a estrutura geral que o governo municipal oferece para população têm sido deixados de lado ou ignorados por parlamentares ligados a chamada bancada fundamentalista da Câmara e por seus aliados, como são os deputados das bancadas da bala, do tráfico e das milícias, que tem priorizado o que consideram “combate à ideologia de gênero”, e que na prática é a oposição política ferrenha a todas as discussões relativas aos direitos das minorias nas salas de aula.

O conluio funciona com vereadores ligados às igrejas recebendo o apoio de colegas investigados por corrupção e que foram eleitos com a maioria dos votos concentrados em áreas de domínio do tráfico ou de milícias em troca dos seus apoios em outras matérias. Eles se ajudam mutuamente, e assim garantem maioria folgada em todas as votação.

Foi assim, por exemplo, que barraram a convocação do barão da máfia dos transportes Jacob Barata para prestar esclarecimentos à CPI instalada logo após a decretação da sua prisão. O acordão utilizado para livrar o investigado por desvios monumentais na gestão de Sérgio Cabral funciona com as mesmas lideranças para tentar barrar qualquer discussão sobre gênero nas escolas do Rio.

Um dos expoentes desse conluio é o vereador Alexandre Isqueiro, considerado braço direito do milionário pastor Silas Malafaia, indiciado pela Polícia Federal pelo crime de lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava-Jato, e que tem sido um dos mais ferrenhos porta-vozes do chamado movimento de perseguição às discussões de gênero. Isqueiro é tão radical nessa linha que tem trabalhado nos bastidores para retirar dos textos a serem votados até o termo “gênero alimentício”.

Entre os apoiadores, o destaque é para vitaminada bancada do PSOL, que saiu das urnas em 2016 como a maior da oposição ao governo Crivella, e conta com 6 parlamentares. O time atuará pela primeira vez sem Marielle Franco, assassinada brutalmente há 13 dias, mas o seu discurso que estava pronto foi lido pelo líder da bancada do partido, o professor Tarcísio Motta.

Fato é que, se nada de novo acontecer nos próximos dias, o mais provável é que vença outra vez o conluio da direita, impedindo a definição tão aguardada de um plano estratégico para lidar, por exemplo, com a evasão escolar acima da média de alunos LGBT, especialmente da população trans, e com questões como gravidez precoce das alunas. A esperança vem das galerias, onde estarão para pressionar em loco os vereadores, profissionais da educação e representantes dos movimentos de mulheres e LGBT’s.

Rodrigo Veloso – Bacharel em Relações Internacionais

 

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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