Audiência pública em Memoria dos Aflitos

Publicado originalmente no Jornal Empoderado

Na segunda-feira (17/12), no Auditório Prestes Maia da Câmara Municipal de São Paulo, aconteceu uma Audiência Pública coordenada pelo Vereador Reis (PT), integrante da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e presidente da Frente Parlamentar de Promoção da Igualdade Racial do Legislativo paulistano, para discutir a preservação da área que reúne a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos e o terreno do antigo Cemitério dos Aflitos, local onde, após a demolição, em junho, de um antigo imóvel, foram encontradas nove ossadas do tempo da escravidão.

A área é considerada de interesse arqueológico pelos órgãos de proteção do patrimônio histórico e cultural, a exemplo do Sítio Arqueológico do Cais do Valongo, localizado na zona portuária do Rio de Janeiro, que em julho de 2017 recebeu da UNESCO o título de Patrimônio Histórico da Humanidade, por ser o único vestígio material da chegada dos africanos escravizados nas Américas.

Participaram da audiência, além do Vereador, representantes de órgãos públicos como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) da Secretaria Municipal de Cultura, a Suprefeitura Sé, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPIR) e o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado, e de organizações da sociedade civil como a Educafro, a União dos Amigos da Capela dos Aflitos (UNAMCA), o Fórum São Paulo Sem Racismo, Jornalistas Livres e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A empresa responsável pelas escavações no terreno também mandou representante.

A arqueóloga Lúcia Juliani, coordenadora das escavações, foi homenageada depois de pedir desculpas ao povo preto por ter recolhido as ossada do local, para as análises de laboratório, sem a devida cerimônia religiosa de matriz africana.

A proposta de consenso deliberada na audiência é pela não retomada das obras até que se discuta, coletivamente, uma maneira de preservar o local como símbolo de resistência (leia matéria que fizemos aqui). Dentre as várias propostas apresentadas, a única que não atende a coletividade é a continuidade das obras sem a devida discussão coletiva, uma vez, na opinião geral dos presentes, está em jogo a história negra da Cidade de São Paulo, sempre negada ou apagada pelo processo de produção do espaço urbano.

Para além da audiência pública, um “ATO EM MEMÓRIA DOS AFLITOS” está marcado para quarta-feira (19/12), às 11hs, na Rua dos Aflitos, 70.

Colaborou na matéria o jornalista Abílio Ferreira.

Fotos: Grupo Chaguinhas – Sítio Aflitos (Oriholos, Dr. Douglas e Plinio).

Para quem não viu a Audiência Pública segue transmissão:

ACONTECE AGORA Audiência Pública na Câmara Municipal para discutir a descoberta das ossadas NA LIBERDADE, e o que fazer. Só para lembrar… O país que mais escravizou homens e mulheres negros, que escravizou indígenas, que fez da tortura, do estupro e da morte um forma de vida aceitável, esse país, que se chama Brasil, não tem NENHUM MEMORIAL DA ESCRAVIDÃO. Como se não houvesse uma imensa dívida a ser paga com os povos explorados.

Gepostet von Jornalistas Livres am Montag, 17. Dezember 2018

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