Protestos nas ruas, vídeos com promessas vazias, encontros com fascistas, nenhuma reunião e nem sequer fotos com líderes mundiais, além de censura de perguntas e agressões a jornalistas. Assim tem sido mais uma viagem internacional do genocida que ocupa a cadeira presidencial do Brasil, com a desculpa de participar de uma reunião do G20 em Roma, na qual foi claramente colocado no cantinho da vergonha.
Enquanto todos os demais líderes mundiais se dirigiam a Glasgow, na Escócia, para a COP26, importante encontro sobre as mudanças climáticas, Bolsonaro partiu para tentar ser homenageado em uma pequena cidade italiana de onde veio sua família, mesmo sob protestos de grupos que pixaram e jogaram fezes na prefeitura para demonstrar seu “apreço” ao governante. Nem o ministro do meio-ambiente saiu do país para a COP26, pra não “levar pedrada”, como previu o vice-presidente militar. Se contentou em fazer um pronunciamento mal lido transmitido de Brasília após um vídeo cheio de mentiras com a empáfia característica do nosso mandatário.
Mas antes de sair de Roma, o sujeito não iria se furtar a, novamente, se recusar a responder perguntas e mandar os seguranças agredirem e tomarem equipamentos de jornalistas enviados para cobrirem os eventos. É a repetição do “cercadinho”, agora com câmeras mundiais filmando. É a rotina de país pária no mundo, que o ex-ministro das relações exteriores chegou a dizer que era uma “boa” posição.
À sociedade organizada no Brasil, depois da contestação mas não punição dos crimes eleitorais pelo TSE e antes do PGR ou do presidente da Câmara tomarem uma atitude para impedir o presidente de destruir o país, resta exercitar o principal gênero literário desta triste quadra: a nota de repúdio. Desta vez foi a Associação Brasileira de Imprensa desenhando o cenário em carta aberta que fica para a história, já que infelizmente não irá comover os reais poderes da nação. Leia abaixo o texto na íntegra:
Carta aberta da ABI a Jair Bolsonaro
Mais uma vez o senhor envergonha o Brasil, presidente.
Repudiado por governantes do mundo inteiro, em cada evento de chefes de Estado o senhor mostra que o País foi relegado a uma situação de um pária na comunidade internacional.
Na reunião do G-20 neste fim de semana, mais uma vez, o senhor foi obrigado a ficar pelos cantos, como aqueles convidados indesejados a quem ninguém dá atenção.
Como reação, age como um troglodita, hostilizando e estimulando agressões a jornalistas que lhe fazem perguntas corriqueiras.
É de dar vergonha.
Na cerimônia de abertura do evento do G-20, no sábado, o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, cumprimentou os chefes de Estado e de governo com um aperto de mão, mas o evitou claramente, fato devidamente registrado pela imprensa italiana. Não quis ser fotografado ao seu lado.
Mas as coisas não ficaram por aí.
Percebendo que era quase um penetra na festa, o senhor preferiu não aparecer para a foto oficial com os estadistas do mundo inteiro. Sentiu a rejeição generalizada.
Tampouco sentiu-se à vontade para participar do passeio organizado pelo governo italiano para os líderes do G20, que tiraram fotos jogando moedas na Fontana di Trevi, tradicional ponto turístico de Roma.
Mas o vexame e a vergonha foram maiores. Não pararam por aí.
Seus seguranças agrediram jornalistas brasileiros e roubaram seus equipamentos em represália a perguntas simples sobre as razões pelas quais o senhor não cumpriria a agenda comum aos demais chefes de Estado.
Repórteres da TV Globo e do jornal “Folha de S. Paulo” e um colunista do Uol foram à delegacia de polícia formalizar queixa das agressões praticadas por seus seguranças. Foi, talvez, um acontecimento inédito.
Mesmo assim, o senhor e os demais membros de sua comitiva, aí incluídos representantes do Itamaraty, foram incapazes de uma palavra de desculpa aos profissionais que estavam apenas trabalhando. Ao contrário, continuaram hostilizando os jornalistas brasileiros.
A ABI mais uma vez faz o registro: com o seu comportamento avesso à democracia e com ataques constantes à imprensa e ao trabalho dos jornalistas, o senhor estimula essas agressões. Assim, torna-se também responsável por elas.
E, como numa bola de neve, elas só aumentam seu isolamento e o repúdio que o senhor recebe da comunidade internacional.
Pior, o isolamento não é só seu. Atinge e envergonha o país que o senhor representa.
O senhor está tornando o Brasil um pária na comunidade internacional, presidente.
Tenha compostura.
Paulo Jeronimo
Presidente da Associação Brasileira de Imprensa