por Ivan Seixas
Nunca liguei para festas de fim de ano. Menos ainda para passagens de ano. Cinco dessas passagens de ano eu estava na cadeia. Não tinha o que comemorar, nem manifestar desejos e superstições para um ano novo. Eu sabia que ficaria muito tempo encarcerado.
Sempre achei que a champanhe e a fartura dessas festas de final de ano não correspondem à realidade do nosso país, menos ainda da população pobre do Brasil.
Nossa família pobre via todo ano meu pai usar o seu décimo terceiro salário para comprar um queijo bola para marcar o final de ano. E gostava muito de momentos de festas. Lembro com saudade dele fazendo um churrasco para marcar a passagem para um novo ano, principalmente. adorava fazer galeto na churrasqueira.
O operário comunista e ateu fazia brinquedos para que seus filhos tivessem um natal e não se sentissem discriminados na sociedade cristã. Fazia carrinhos para mim e meu irmão, fazia também casinhas de bonecas e bonecas de pano para minhas irmãs. Tudo para que não nos sentíssemos diferentes na sociedade, mas explicava sempre a desigualdade social e nos ensinava a ter orgulho de pertencermos à classe trabalhadora, apesar de todas as dificuldades geradas pela pobreza.
Mesmo com essa gotinha de amargura histórica e saudade de meus pais, desejo que o ano novo seja melhor para a classe trabalhadora, mas sei que será com muita luta.
Este ano vejo sentido de comemorar, pois o povo brasileiro vai retomar a democracia e a possibilidade de viver sem o fascismo. Esta será a segunda vez que vivo isso. A primeira foi quando nos livramos da ditadura dos militares e agora é para marcar que nos livramos dos mesmos militares fascistas e de uma quadrilha de delinquentes milicianos a serviço do fascismo.
Ótimo ano de 2023 para nós.
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