Insulae.
As insulae – do latim que deu origem à palavra “isolamento” em português – eram as formas de habitação destinadas às pessoas mais desfavorecidas na Roma Antiga. Esses edifícios – cuja construção era muito frágil, o que os tornava alvos fáceis de colapso – abrigavam milhares de pessoas em condições insalubres e em constante risco. Sem banheiros, amontoadas entre si e isoladas umas das outras, as pessoas que viviam nas insulae não tinham sequer uma saída de emergência.
Nos tempos atuais, os problemas do Amazonas também o mantiveram sempre à beira de um colapso. Mas foi durante uma situação de emergência – a pandemia da Covid-19 – que as desigualdades socioeconômicas e a falta de políticas que pensem as peculiaridades da região evidenciaram a estrutura frágil do maior Estado da federação.
As distâncias e as dificuldades de deslocamento, a falta de serviços de média e alta complexidade em saúde nos municípios do interior, a falta de água e de um sistema minimamente capacitado de saneamento – situação que persiste durante um surto cuja forma de prevenção mais básica é o ato de lavar as mãos – refletiram diretamente em uma crise sanitária sem precedentes.
Famílias separadas que não puderam viver seus lutos; povos nativos e suas culturas sob constante ameaça; pessoas morrendo em suas casas sem um mínimo de chances; sepultamentos coletivos em trincheiras; vítimas da doença amontoadas em câmaras frigoríficas alocadas em hospitais: representações, recortes de uma realidade ainda mais complexa.
Não houve saída para décadas de prioridades equivocadas. A conta chegou e, tal como as insulae, o Amazonas segue experimentando o colapso. A pandemia e o descaso cobraram um preço altíssimo: vidas! Milhares delas, agora, enterradas no isolado território amazonense.
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Minibio
Nascido em Manaus (Amazonas, Brasil), Raphael Alves estudou Jornalismo na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Fotografia na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Artes Visuais no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). Obteve o mestrado em Fotojornalismo e Fotografia Documental na University of the Arts, em Londres.
Além de colaborar com agências e veículos nacionais e internacionais em Manaus (AM), Brasil, dedica-se aos seus projetos autorais, voltados para a compreensão do posicionamento do ser humano no espaço dividido pela natureza e o urbano.
O trabalho de Raphael Alves foi premiado na 31 ª edição do ‘The Best of Journalism da Society for News Design’, 2010. Também ganhou o prêmio Fiema de Jornalismo Ambiental, em 2010. Em 2013, foi um dos premiados na ‘Convocatoria Iberoamericana de Proyectos Fotográficos Saltando Muros’, organizada pela Fundación Fondo Internacional de las Artes (FIArt) e a Secretaría General Iberoamericana (SEGIB). Em 2014, foi premiado com o primeiro lugar no ‘Leica X Photo Contest’. Em 2017, foi premiado no ‘Pictures of The Year Latin America’ (POY Latam). Em 2018, recebeu menção honrosa no Primer Prémio de Fotografía Internacional ‘Memoria Visible’. Em 2020, foi premiado na convocatória do BarTur Photo Award e no edital do Itaú Cultural “Arte como Respiro”. No mesmo ano, foi um dos selecionados para integrar a exposição do 26º Concurso Latinoamericano de Fotografia Documental – Los Trabajos y los Días.
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Para conhecer mais o trabalho do artista
Instagram: https://www.instagram.com/photoraphaelalves/
Site: www.photoraphaelalves.com
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A Editora Artisan Raw transformou esse trabalho do Raphael Alves em livro. A verba conseguida pela venda do livro vai ser doada inteiramente para a comunidade do Parque das Tribos, bairro indigena de Manaus. Abaixo o link para quem quiser adquirir essa obra tão necessária e ajudar a comunidade.
https://www.editoraartisan.com.br/product-page/raphael-alves-insulae-2021
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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, de quintal, de rua, documentação desses dias de novas relações, essenciais, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente