Cidade Recortada.
“A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.” (Larrosa, 2001)
Gosto de driblar a reputação da colagem como uma forma de arte bidimensional. Em vez disso, encaixo recortes de revistas cuidadosamente recortados na paisagem urbana e fotografo suas justaposições.
Cidade recortada. A partir do caos e da profusão de imagens que nos bombardeiam diariamente proponho outra forma de vermos o mundo, uma ordem em que ficção e realidade são inseparáveis. Desacelerar, silenciar, valorizar o diminuto, dialogar com as brechas e os buracos da cidade. É o que me move, não saber de nada, apenas seguir o fluxo do acaso. Eleger uma imagem pré-existente, de preferência descartada ou esquecida, quem sabe até obsoleta, e em seguida reutilizá-la, improvisando uma nova possibilidade de inseri-la no cotidiano.
O mundo, que já andava tão ruidoso, ruiu de vez. A pandemia abriu uma fenda. O que queremos enxergar ali? O que seria voltar ao “normal”? Continuar caminhando em direção ao precipício?
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Para conhecer mais o trabalho do artista
https://www.instagram.com/zevicent/
https://cargocollective.com/zevicente
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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, de quintal, de rua, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente