A professora trans Duda Salabert Rosa, de 39 anos, é o novo fenômeno eleitoral em Belo Horizonte. Ela foi eleita ontem pelo PDT como a mais votada da história na disputa por uma vaga na Câmara Municipal, com 37.613 votos, mais do dobro, portanto, da votação obtida pela também campeã Áurea Carolina, do Psol, em 2016, com 17.420. Sua votação arrastou duas candidaturas do PDT para o Legislativo da capital, onde a legenda não tem hoje representação. Duda ajudou ainda a reforçar a presença de mulheres na Casa: agora serão 11 contra as quatro atuais.
Professora de Literatura em um colégio classe média alta da capital mineira, onde é muito querida, Duda é muito mais. É ambientalista, vegana e, sobretudo uma lutadora das causas transgêneras, não perdendo oportunidade para denunciar os assassinatos e violências praticadas contra travestis. Há sete anos é casada com Raísa Novaes, com quem tem uma filha, Sol, de um ano.
Essa não foi a primeira vez que Duda se jogou na disputa eleitoral. Depois de participar ativamente das manifestações de rua desde o período que antecedeu o golpe de 2016, ela se filiou ao Psol e foi a primeira travesti a disputar uma vaga ao Senado, colhendo 351 mil votos em 2018. Ano passado, como o ambiente estava congestionado por pessoas ‘invisíveis’ que defendem as mesmas causas suas e, como ela, pretendiam disputar a Câmara dos Vereadores, Duda surpreendeu muita gente ao deixar o Psol e se filiar ao PDT sob as bênçãos de Ciro Gomes.
Agora ela revelou em sua página no Facebook que meses atrás retirou sua candidatura à Prefeitura, “mesmo com meu nome aparecendo em 3° lugar nas pesquisas espontâneas, por acreditar que o campo progressista da cidade deveria (e deve) se reunir para fortalecer a candidatura da querida @aureacarolina (candidata do Psol). Sei que essa postagem minha abre margem para eu possa ser punida pelo partido. Mas aprendi com a guerreira @_heloisa_helena : “Mais vale um coração partido do que uma alma vendida”. Para mim, ideologia, utopia e sororidade sao inegociáveis!”
De olho na prefeitura
Agora, em suas primeiras entrevistas após a surpreendente vitória, Duda já abre o verbo e já anuncia sua pretensão de disputar a Prefeitura de Belo Horizonte dentro de quatro anos. Os bolsonaristas que se cuidem! Afinal, ela não caiu de paraquedas na disputa eleitoral. O fato de ser travesti a jogou na luta desde cedo. Ela é uma das idealizadoras da ONG Transvest, projeto artístico-pedagógico que trabalha para combater a transfobia e incluir travestis, transexuais e transgêneros na sociedade. Há dois anos, criou também o Coletivo Transformar, voltado para a comunidade transexual.
“Essa minha vitória é da educação num momento importante em que ela decaiu em Belo Horizonte, segundo o IDEB. Agora é lutar para reverter essa queda”, disse Duda após receber os resultados das urnas. Destacou ainda que “quando uma travesti avança, toda sociedade avança. Essa vitória tem essa dimensão simbólica positiva para as pessoas trans que, historicamente, foram estigmatizadas. Essa vitória ressignifica as identidades trans”.
Além de se dedicar à educação, Duda diz que nos próximos quatro anos vai se preocupar com questões ligadas ao emprego, áreas verdes e o combate às enchentes que ocorrem em Belo Horizonte quase todos os anos. Pretende ainda ajudar a “organizar o campo progressista em uma frente ampla para que a gente possa vencer o bolsonarismo e retornar a ocupar a candidatura ao Executivo me lançando como prefeita. Daqui a quatro anos eu tenho esse objetivo. Desde já sou pré-candidata à prefeitura”, acentuou.
Mas Duda pretende também atuar sempre em defesa dos transexuais e das mulheres na Câmara, composta, hoje, por um grande número de vereadores conservadores e reacionários. Ela lembra sempre que o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo e que em um contexto “em que o governo federal põe em xeque os direitos humanos (da comunidade LGBT), Belo Horizonte tem de dar uma resposta firme”.
5 respostas
Espetáculo. Com ela a mulher está mais próxima da justiça social.
Parabéns amiga Duda essas lutas a Vitória nós alimenta e reforça nossas trajetórias de resistências por nós e outros.
Não. Não é travesti. É transexual. A reportagem demonstrou incapacidade de tratar com a devida importância a identidade da vereadora eleita.
Ela mesma diz que é travesti. Confira na página dela no Facebook.
É transtornada.