Reina, mas não governa: morte da rainha não deve alterar o cenário político 

Morte da rainha e o futuro do trono não devem alterar cenário de crise energética e instabilidade que o Reino Unido enfrenta.
Rainha Elizabeth e seu filho Príncipe Charles foto: divulgação
Rainha Elizabeth e seu filho Príncipe Charles foto: divulgação

O reinado da Rainha Elizabeth II foi o segundo maior da história, esteve 70 anos à frente do trono britânico, perdendo apenas para Luís XIV, que reinou na França por 72 anos. Apesar do longevo período como monarca do Reino Unido, a morte da Rainha não deve alterar as relações diplomáticas e políticas da Inglaterra, que elegeu uma nova primeira-ministra na última terça (06).

Por Melannie Silva

A Inglaterra foi o primeiro país a proclamar uma Monarquia Constitucional em 1688. Desde então, eleições periódicas são realizadas para formar o parlamento que posteriormente indica um primeiro-ministro, quem de fato governa e toma as decisões. Ainda que o monarca seja consultado, cabe ao primeiro ministro a palavra final. 

Em termos práticos, a morte de Elizabeth II representa uma transição comum e esperada em um sistema monárquico. A recentemente eleita como primeira-ministra, Liz Truss, que faz parte do partido conservador, ainda terá que lidar com a instabilidade social e a crise energética do país, independente de quem assuma o trono.

Em entrevista aos Jornalistas Livres, o professor Reginaldo Nasser, Chefe do Departamento de Relações Internacionais da PUC(SP), declarou que o fato da monarquia ser constitucional retira o poder de governo da Rainha.

 “Atualmente, o monarca representa o Estado, algo perene, enquanto o primeiro-ministro é chefe de governo, algo transitório. A família real tem os protocolos, as cerimônias e todo o simbolismo de anos de tradição do que um dia foi o Império Inglês, mas, na prática impera a máxima ‘reina, mas não governa’. O pai dela [Rei George VI] era mais ativo, mas, desde que assumiu o trono, Elizabeth se afastou ao máximo de questões governamentais”. afirmou o professor.

O professor ressalta que o parlamentarismo inglês é forte e adaptável e não deve se abalar com a morte da Rainha: “a monarquia constitucional é anterior às formas de governo republicano. Surgiu antes do capitalismo e sobreviveu a todas as transformações do sistema, não importa quem vai assumir o trono. Se um governo trabalhista for eleito, o rei vai ter que aceitar da mesma forma que um governo conservador”.

É fato que o príncipe Charles é uma figura mais impopular, do que sua mãe foi. Mas a pergunta que deveria ser feita não é se Charles irá ou não abdicar do trono e sim qual a real relevância política da família real britânica em 2022. Na visão do professor, “a função da família real é distrair as pessoas das discussões realmente importantes, como a crise energética e o aumento do preço do gás.” afirmou Reginaldo.

COMENTÁRIOS

3 respostas

  1. Texto muito bom! Traz informações extremamente relevantes para entender o que significa o falecimento da Rainha para a política internacional.

  2. Adoro a sua abordagem, simples e clara. Não fica com rodeios!!

  3. Excelente matéria para entender o verdadeiro papel da família real nos dias de hoje ??????

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