Vereadora negra é alvo de ódio machista e racista da extrema-direita

Guida Calixto (PT) vem sofrendo ataques por combater o racismo

Guida Calixto, vereadora  em Campinas (SP),  tem sofrido ataques de aliados de Bolsonaro em particular do partido PRTB por causa de uma HQ produzida pelo mandato da parlamentar. Ela é uma das mais acirradas na defesa dos direitos humanos e opositora  ferrenha  a atitudes antidemocráticas  e que retira direitos econômicos e sociais da classe trabalhadora. O PRTB alegou quebra de decoro e pediu a cassação da vereadora,  na sessão da Câmara  Municipal de  8 de junho, o pedido foi indeferido. Hoje (9), o PRTB fez um novo pedido de comissão processante, contra o mandato da parlamentar negra, em uma atitude clara de pressão e intimidação da extrema-direita.

O sistema bota fogo no povo negro, mas é o “fogo nos racistas” que incomoda o sistema.

A publicação em forma de  HQ (histórias em quadrinhos) com imagens ilustradas pelo cartunista negro Junião exalta a  cultura negra da cidade e combate ao racismo, e é distribuída de forma gratuita.  A alegação, por parte de acusadores, é que  houve “quebra de decoro “ ao distribuir a publicação de combate ao racismo nas escolas. Segundo os acusadores, a HQ incentiva a violência, por conta de uma imagem ilustrativa de um cartaz com  frase “fogo nos racistas” – popularizada pelo rapper Djonga em sua música “Olho de tigre” que  virou símbolo da luta antirracista.

“Como mulher, negra e da periferia eu vou defender as pautas do meu povo. Esse material foi feito para homenagear os espaços dos negros de Campinas e tem o objetivo de divulgar a cultura negra”

Guida Calixto

A publicação

Com o título “Territórios Negros, nossos passos vêm de longe”, a publicação possui 16 páginas com textos e ilustrações, que tratam de espaços e manifestações da cultura negra relevância social na história da cidade, como o Largo São Benedito, Grupo Urucungos, Puitas e Quijingues, a Fazenda Roseira,  as escolas de  Samba e a Casa Laudelina. Encerrando a publicação há uma ilustração representação de uma passeata por direitos do 20 de novembro “ Dia da Consciência Negra”, com faixas e cartazes, e em uma delas  existem as seguinte frases de ordem: “Fora Bolsonaro” e “Fogo nos racistas”. A HQ foi distribuída de forma gratuita .

“O foco da narrativa na HQ Territórios Negros é enaltecer nossa ancestralidade, que deixou grandes contribuições à formação do povo brasileiro e à humanidade no seu conjunto, deixando como fruto inúmeros Territórios que lutam contra o extermínio sistemático, tanto material como subjetivo, sofrido pelo povo negro em nossa sociedade”.

Guida Calixto.

Posicionamento vergonhoso e com  práticas racistas e misóginas

Muitas cenas dantescas têm acontecido  na Câmara de Vereadores de Campinas. Um pequeno bloco parlamentar de extrema-direita que protagoniza cenas lamentáveis  como  a promoção de cloroquina e kit covid, negação das vacinas, combate ao uso de máscaras pelas crianças nas escolas, tentar agredir fisicamente outros integrantes  de bloco de oposição na  Câmara, a perseguição à educadores e parlamentares. Esses mesmos parlamentares  mobilizaram movimentos  fascistas e supremacistas que promoveram ataques racistas contra a Vereadora Paolla Miguel. Guida Calixto também será a relatora da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai investigar ações violentas de grupo neofascistas e neonazistas na  cidade.

Misoginia Recorrente

As parlamentares são constantemente interrompidas pelos vereadores da bancada da extrema direita da Câmara de Campinas durante as sessões,   o PT em Campinas já denunciou e emitiu notas a respeito. As vereadoras Guida Calixto e Paolla Miguel  são igualmente  mulheres negras,  periféricas, integrantes da bancada de esquerda que lutam pelos direitos humanos e se opõem vigorosamente contra  medidas que ampliam a desigualdade  social e combatem o racismo.

 “Esse governo é genocida e tem trazido a miséria. Quero lembrar que a comunidade negra luta contra a miséria. Acho estranho o vereador criticar, mas não se solidarizar com o Genivaldo (homem que foi morto por asfixia dentro de um carro de policiais rodoviários em Sergipe). Lamento muito. Pode ficar nervoso, mas vou continuar lutando pela comunidade negra”, disse ela.

Campinas e o Racismo 

Considerada por historiadores como a última cidade brasileira a abolir, na prática, a escravidão da população negra, Campinas (SP) 

Campinas é conhecida por historiadores e pesquisadores como a última cidade do país a abolir a escravidão. Já o Brasil, como se é conhecido, foi o último país do mundo a abolir a prática, em 13 de maio de 1888. Além disso, há registros de relatos que apontavam a cidade paulista como uma das mais violentas para negros escravizados na época. 

Há registros e relatos da prática de escravidão em Campinas até 1920.  O escravizado ser vendido para um barão ou “senhor “ da cidade era considerado uma grande punição  devido a  violência  dos “senhores”. 

Racismo é crime

Os crimes de racismo estão previstos na Lei 7.716/1989, que foi elaborada para regulamentar a punição de crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, conhecida como Lei do Racismo. No entanto, a Lei nº 9.459/13 acrescentou à referida lei os termos etnia, religião e procedência nacional, ampliando a proteção para vários tipos de intolerância. Como o intuito dessa norma é preservar os objetivos fundamentais descritos na Constituição Federal, de promoção do bem estar de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, as penas previstas são mais severas e podem chegar até a 5 anos de reclusão.

“O ato faz parte de uma ofensiva da extrema-direita que em todo o país, inflados pelo bolsonarismo e fascismo, atacam mandatos populares de negras/os, trabalhadoras/es, mulheres, LGBTQIA+ e todas aquelas e aqueles que lutam contra as injustiças e por um país de fato democrático. De nossa parte dizemos que não nos calarão. Não cairemos na intimidação. Continuaremos na luta por uma Campinas antirracista, democrática e popular” publicou Guida Calixto em suas redes sociais.

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