No último dia das olimpíadas, 08, tivemos a estreia do quadro A Rota da Seda, programa dos Jornalistas Livres que busca entender o papel da China no cenário da geopolítica mundial, nos mais variados aspectos, como as relações entre Brasil e o gigante asiático. No episódio de estreia tivemos como tema o debate sobre os Jogos Olímpicos.
Como a China se coloca como grande Campeã dos jogos olímpicos de Tokio e como o resultado da china continental, em segundo lugar no quadro geral de medalhas, está relacionado com as propostas político-econômicas do país comunista? Para alcanças esse panorama o programa contou com Rodrigo Silva Duarte, residente na China há 6 anos, e que trabalha como professor de judô além de ser empresário de atividades esportivas e J. Renato Peneluppi JR, advogado, Doutor em Administração Pública Chinesa na HUST, que já lecionou na China e é pesquisador com especialização e Educação Ambiente na UNICAMP.
O programa teve como mediadores Douglas Meira Ferreira, sociólogo e mestrando em administração pública chinesa pela FGV e Tsinghua (Pequim) e o Jornalista Livre Lucas Martins.
Veja os destaques do programa – China: A verdadeira Campeã dos Jogos Olímpicos
A diferença entre o esporte brasileiro e na China
Para Rodrigo a grande diferença entre “Brasil e a China é que o sistema totalmente diferenciado do brasileiro, né? É um sistema cem por cento governamental, participaram da formação de atletas e existe um sistema privado que é desenvolvido naturalmente pela necessidade das pessoas, da população, em praticar os esportes”.
Renato vê na formação política um aspecto importante “a ação da China nas Olimpíadas é mais um fruto, um resultado dos anos de política da China. Se pegarmos nos últimos setenta anos, desde a fundação da Nova China, e aí é um elemento importante, você tem a criação do socialismo com características chinesas, com o foco sempre na libertação das forças produtivas. O esporte acaba sendo encarado na China como uma forma de trabalho, um setor da indústria. A política de saúde pública e de rejuvenescimento da nação, ou seja, uma forma de política de autoestima da nação. Então você vai ver os quadros de medalhas… o destaque da China é como um fruto do da economia. Assim o esporte também começa a se destacar e vem dentro de uma construção histórica”.
A estrutura do esporte na China
Rodrigo, que conhece como atleta e treinador o sistema atlético chines, contou sobre a organização que levou ao sucesso em Tokyio “são mais de dois mil institutos esportivos para crianças. São escolas onde eles aprendem materiais comuns, curriculares, e também praticam o esporte dentro dessa escola. Primeiramente, essa escola é em tempo integral, eles moram lá e nos finais de semana voltam pra casa. Lá existe alimentação, equipamentos de qualidade, estrutura de primeiro mundo, apoio psicológico, nutricional. Inclusive eu já visitei, trabalhei nessas escolas. Fiz participação na formação de atletas. No Brasil existe similares, mas é algo bem separado uma ou duas governamentais, com o caso do judô, e o resto é privado. A partir do momento que esses alunos terminam o ensino médio, já com várias competições, existem duas opções. Uma é virar atleta profissional, depois de ter todo o suporte durante a vida inteira pra treinar com qualidade, sem preocupar com nada, com financeiro, com alimentação, com onde morar, treinamento integral, entendeu? E também existe a preparação vida, pra o pós-período esportivo. Onde eles precisam entrar no mercado de trabalho”.
O futuro do complexo esportivo na China
Renato vê que o plano futuro para os esportes é intensificar o papel dos esportes como vitrine “a autoafirmação é a capacidade de gerar atletas que possam disputar os esportes. Eu lembro que a gente tem as olimpíadas de inverno e de verão. E esse processo entre o 2021 e 2049 que faz a transição para é que é a nova era que a China que nos propõe. Então a chance é de se apresenta pro mundo como um país moderno, soberano, capaz de disputar de igual pra igual.
É nesse processo que os esportes tão tendo um papel de política internacional, de política industrial, de política em conjunto para nortear tem um processo gradual”.
O papel da indústria esportiva vai ser um dos grandes pilares de consolidação “isso é uma demanda por qualidade, porque as pessoas querem utilizar produtos de qualidade. Então você pode ver que existe um mercado sendo construído através do sistema que acaba criando um produto de extrema qualidade com preço extremamente baixo. Porque existe uma demanda muito grande de produtos de atividades esportivas. Você pode ver que mais e mais pessoas, mais empresas estão investindo em esportes privados da China. O que eu penso que no futuro a China vai estagnar em termos de Made In China nos produtos esportivos e vai começar a aumentar o Design By China em termos de esportes. Então, poderemos ver empresas chinesas, fora da China, já exportando serviços” afirma Rodrigo.
O papel do gênero no esporte na China
Tokyo marcou história como a edição olímpica com mais paridade de gênero nas competições, com quase metade do total de atletas sendo de modalidades femininas. Na perspectiva de Rodrigo a china já não tem isso como uma questão, sendo um problema superado, uma vez que “Na equipe chinesa, a grande maioria, setenta por cento, se não me engano, são as femininas né? Não só os atletas, mas também treinadoras. Isso é uma realidade que no Brasil não é assim. Existem vários critérios, do porquê isso acontece. Eu acredito que basicamente existe uma certa de igualdade, é algo natural mesmo dos chineses. Eles gostam de praticar esportes aqui”.
A revolução teria sido o grande construtor dessa igualdade “assim que o partido comunista assume o país, logo eles trazem essa igualdade. Tem uma frase muito forte que o Mao [Tsé-Tung, líder durante a revolução Chinesa] sempre falava que é ‘as mulheres sustentam metade do céu’. Então, o que isso quer dizer? Que grande parte da dessa força da nação ou dessa autoestima da nação vem da mulher, por quê? Porque a mulher é essa que foi excluída por muito tempo. Existe muita política de inclusão da mulher na China” complementa Renato”.
Divisão territorial na China
A separação da China em três partes (Hong Kong, Taiwan e China continental) tem sido uma retórica adotada pelas grandes empresas de comunicação ocidental para enfatizar a fragmentação da nação chinesa implementada pelo colonialismo europeu e norte-americano. Hong Kong no final do século XIX foi ocupada pelos ingleses no pós-guerra do ópio. Neste confronto, os britânicos forçaram a China a permitir a comercialização da droga por companhias europeias.