Vinícius Júnior faz um chamamento público pelo fim do racismo

Ao declarar que seguirá combatendo o racismo, o atleta de alta performance faz um apelo, um chamamento público para que a sociedade não permita que situações como a que ele passou na partida entre Real Madrid e Valencia na Espanha, se repitam

Mais uma vez, o mundo presenciou a violência em uma partida de futebol. O jogador brasileiro, Vinícius Júnior, um homem negro, de pele retinta e jovem, que atua no Real Madrid, foi novamente, vítima de crime de racismo e injúria racial quando exercia seu trabalho. O atleta de alto desempenho e um dos nomes mais proeminentes do futebol, foi xingado, ofendido racialmente e quando exigiu uma atitude da autoridade de campo, não obteve resposta. Uma confusão se estabeleceu e Vinícius Júnior foi agredido e expulso. 

Imediatamente, o jogador se posicionou nas redes sociais, informando que não foi nem a primeira, e possivelmente não será a última vez que isso acontece dentro e fora de campo. Contudo, também deixou nítido que vai lutar incansavelmente contra o racismo. 

O caso acende um alerta sobre como o mundo e o Brasil enxergam o racismo e o quão coniventes são – vale ler artigo da jornalista Daniela Luciana publicado no último sábado, no Correio Braziliense. Ao não fazer nada, ao não exercer o antirracismo, a sociedade corresponde com casos como esse. 

O assunto é antigo, muitos atletas do passado e do presente são vítimas de injúria racial e também de crime de racismo, aquele que acontece “[…] quando  são atribuídos sentidos pejorativos e características peculiares e negativas a determinados padrões da diversidade humana e significados sociais negativos aos grupos que os detêm”. Em outras palavras, o que aconteceu com Vini Jr não é uma questão de opinião, de liberdade de expressão ou de qualquer situação acalorada. O jogador do Real Madrid, foi xingado, discriminado e impedido de trabalhar. Se o caso tivesse acontecido no Brasil, seria flagrante de crime de racismo, conforme a legislação brasileira. 

No Brasil, racismo é crime inafiançável, previsto na Lei n. 7716/89, com pena de reclusão de dois a cinco anos. Imprescritível e inafiançável, e consta na prática de atos de segregação, que visa, impedir ou obstar alguém, por sua cor ou etnia, o acesso aos bens da vida, ou o livre exercício de seus direitos. A lei pune condutas discriminatórias resultantes de preconceito de raça ou de cor, dirigida a determinado grupo ou coletividade, tais como: negar ou obstar emprego em empresa privada; recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial; negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador; impedir o acesso ou uso de transportes públicos, dentre outros. Na Espanha tem outra legislação que pode classificar situações similares como crime ou infração de ódio.  

Um relatório divulgado ano passado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) indicou que o racismo e a discriminação nos campos de futebol são uma realidade preocupante. Dos 158 casos ocorridos em 2021 e identificados no relatório, 137 aconteceram no Brasil e outros 21, com atletas brasileiros que atuam fora do país. 

Quando observamos as informações desagregadas do estudo, o racismo aparece como ponta de lança (usando o jargão futebolístico), entre outras discriminações e crimes graves, como xenofobia, machismo e LGBTfobia. 

As situações, os casos e os números reforçam a triste realidade que todo o mundo sabe e pouco faz; que a Declaração Universal dos Direitos Humanos não pegou e pessoas negras seguem lutando para que seus  direitos sejam assegurados. 

Vinicius Junior, ao declarar, mais uma vez, que seguirá combatendo ao racismo, faz um chamamento público à sociedade e, especialmente, para aqueles que fazem o futebol – um esporte, negócio rentável e entretenimento, por uma ação antirracista. 

Referência citada entre aspas. UNFPA, Fundo de População das Nações Unidas. Sumário executivo Ojú Omo − olhar da juventude…, p. 45. 


* Rachel Quintiliano é jornalista, defensora dos direitos humanos e promotora da equidade de gênero e raça e é membro do Núcleo Negro do Jornalistas Livres. Co-organizou recentemente, o livro, Caminhos possíveis para equidade racial”.

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