Vida de insetos, por Dirce Waltrick do Amarante. Imagem de Odilon Redon

Vida de insetos

Dirce Waltrick do Amarante*

No Brasil não adiantava fazer lockdown, porque o povo não gostava de fazer lockdown; e não adiantava dizer que era uma medida necessária para combater a pandemia de Covid 19 e que milhares de pessoas estavam morrendo de Covid, porque o povo alegava que outras doenças também matavam e questionava a razão de só noticiarem as mortes por Covid.

Os jornais começaram, então, a noticiar o número de mortes por todas as doenças: anorexia, anemia, apoplexia (elas apareciam em ordem alfabética) etc. O povo, sempre astuto, chegou à conclusão de que morria mais gente de problemas cardíacos, de acidente de carro, de câncer, por exemplo, do que de covid. Conclusão: Covid não era tão perigosa assim, de modo que podiam sair de casa.

Tentaram explicar que a morte por Covid poderia ser evitada mais facilmente do que as outras mortes, mas nada que diziam convencia as pessoas.

Foi então que acharam mais fácil fazer um lockdown de insetos, já que o de pessoas era impossível. Os insetos entenderam de pronto a gravidade do problema e, se hoje, temos uma proliferação de moscas, percevejos, aranhas e pulgões no Brasil é devido a isso.

*Zunindo      

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