Veterinária bolsonarista marca rosto de animal com número de campanha do presidente 

Fernanda Paula Kajozi, a veterinária que marcou o bezerro a ferro, negou que o procedimento tenha motivação política
A veterinária que marcou o bezerro foi identificada como Fernanda Paula Kajozi. Imagem/Reprodução
A veterinária que marcou o bezerro foi identificada como Fernanda Paula Kajozi. Imagem/Reprodução

Na semana desta sexta-feira 21/10, um vídeo de uma bolsonarista marcando a ferro o rosto de um bezerro viralizou nas redes sociais. A responsável pela crueldade, a veterinária Fernanda Paula Kajozi, afirmou que a marcação não é uma manifestação política, e sim um procedimento de rotina. Entretanto, o protocolo estabelecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento não é compatível com o ato cometido pela veterinária. 

O vídeo mostra a veterinária marcando o rosto de um bezerro com o número 22. É possível ver que um homem segura o animal, enquanto ela pisa em seu focinho e encosta o ferro quente na lateral de seu rosto. A atrocidade foi compartilhada nas redes com uma música de campanha de Jair Bolsonaro

Segundo o Ministério da Agricultura, é permitido realizar gravações a ferro no rosto dos animais desde meados de 1960. Entretanto, é preciso seguir algumas regras, que foram desrespeitadas pela veterinária. O regulamento afirma: “As fêmeas vacinadas de 3 a 8 meses devem, obrigatoriamente, ser marcadas com ferro candente ou nitrogênio líquido, no lado esquerdo da face. Fêmeas vacinadas com a vacina B19 deverão ser marcadas com o algarismo final do ano de vacinação. Fêmeas vacinadas com a amostra RB51 deverão ser marcadas com um V”. 

Então, o padrão de marcação depende do tipo de vacina aplicado. Se a fêmea foi imunizada contra a brucelina (vacina B19), então deverá ser marcada com o último número do ano de vacinação. Mesmo que o animal do vídeo tenha recebido esse tipo de imunizante, sua marcação deveria conter apenas o número 2, não 22. 

Depois da repercussão do caso, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Tocantins informou que abrirá uma apuração para adotar medidas cabíveis. “Caso fique provado ilícito, a profissional poderá responder Processo Ético que será analisado e julgado em Plenária, podendo ser punida” afirmou o Conselho.

Um processo foi aberto pelo Ministério Público do Tocantins para apurar os possíveis crimes da veterinária. Entretanto, a advogada Marianna Ferraz de Azevedo Barros, que realiza a defesa da bolsonarista, informou que a marcação do bezerro aconteceu no Pará, e que o Ministério do Tocantins não tem autoridade para lidar com o caso. 

O vídeo foi apagado da página da veterinária, mas as imagens de crueldade ainda circulam através de outros perfis. Fernanda Paula Kajozi deu uma declaração sobre o vídeo, afirmando que a marcação não tem a ver com a campanha de Jair Bolsonaro. Entretanto, a mulher não deixou de citar que seu candidato à presidência é o que concorre pelo número 22: “Eu não marquei 22 na cara do bezerro por conta do Bolsonaro, não. É porque você marca na cara do bezerro o ano, na paleta você marca o mês e atrás, na anca do bezerro, você marca a marca da propriedade, no caso a do meu pai é F1. Eu apenas filmei fazendo um procedimento que desde o mês um está fazendo e até o mês 12 vai estar fazendo. Ano que vem vai ser 23 e assim sucessivamente. Então não tem nada a ver com Bolsonaro. Mas eu sou Bolsonaro“. 

Já existe um movimento de veterinários contrários à marcação de animais com ferro quente. O Projeto Redução da Marca a Fogo é uma iniciativa de empresas e centros de pesquisa a fim de promover o bem-estar animal. Em entrevista ao g1, o zootecnista e professor de etologia e bem-estar animal na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP, Mateus Paranhos da Costa informou sobre o projeto e sobre a atitude da veterinária bolsonarista. 

“Essa marcação é totalmente anormal. Além do que a prática com o que ela foi feita pode caracterizar maus-tratos aos animais porque a moça que aplicou a marca está pisando na cabeça do bezerro. A contenção mal feita e a aplicação de uma marca que não é normal ou frequente. Muito provavelmente foi com interesse político. A prática foi totalmente equivocada” afirmou o professor. 

Sobre o projeto, Mateus Paranhos da Costa destacou que as marcas nos animais estão sendo substituídas por tatuagens ou brincos eletrônicos ou visuais, a fim de promover uma diminuição no sofrimento do gado.

“Vale destacar que a face dos bovinos em geral é uma das áreas mais sensíveis do animal. A marca a fogo é uma queimadura de segundo ou terceiro grau e, quando colocada na face, que aí no caso foram duas marcas, gera dor aguda no momento da aplicação e depois no processo inflamatório”.

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