Vacinar é preciso

Acompanhe um dia de vacinação para entender os esforços de quem está na frente de batalha e a importância do trabalho da saúde nos pontos mais distantes do país.

As ações da vacinação começam às 05 horas da manhã geralmente. É preciso ir buscar a vacina na unidade de saúde,  dividir as doses entre os carros da secretaria de saúde e pegar a estrada. Todas as semanas durante três dias os agentes de saúde iniciam a maratona de levar a imunização aos pontos mais distantes das áreas urbanas. São vilas e ramais, ramificações de terra, buracos e piçarra dentro de estradas que chegam a 400 km ou mais. A vacina precisa estar bem acondicionada na temperatura correta para chegar até às comunidades onde o povo aguarda em filas, nas portas das unidades de saúde da atenção básica, que além da vacinação, traz testes de sífilis, aids, atendimento odontológico e médico. Comunidades que aguardam meses para ter a sua vez na fila dos atendimentos, além é claro da fila da vacina para o Covid-19.

Além de estradas esburacadas e ramais de piçarra e lama ainda há os rios onde a única forma de transporte disponível é pela rabeta, apelido dado para a canoa de madeira chamada pelos indígenas de Bajara.

A POLITIZAÇÃO DA IMUNIZAÇÃO.



A maior inimiga da saúde durante toda essa pandemia é a fake news aliada ao discurso de Jair Bolsonaro. As fake news conseguem fazer seu estrago e a população acredita que a vacina mata e que não é eficaz.

Um diretor de escola pública não queria disponibilizar o prédio par ação da saúde, pois acreditava que a vacinação levaria o Covid-19 para a população. Uma mulher se recusava a tomar vacina porque recebeu no celular a informação de que a vacina era o vírus e que a OMS estaria pretendendo matar a população ao invés de imunizar. Outro homem não quis tomar a vacina simplesmente porque, de acordo com ele, “se fosse boa, o Bolsonaro já tinha tomado”. Essas pessoas recebem informações produzidas por indivíduos que têm a intenção real de atrapalhar o processo de imunização causando mortes que se refletem nos números que vemos todos os dias na tv e nos portais virtuais de notícia. O Brasil se aproxima do número de meio milhão de mortos, mas especialistas afirmam que esse número é facilmente triplicado. Ou seja, o Brasil já pode ter passado de um milhão de mortos, mas a onda de negacionismo e politização da pandemia nunca possibilitará comprovar números reais de óbitos.

“SE FOSSE BOA, (A VACINA) O BOLSONARO JÁ TINHA TOMADO.”

Indivíduo do grupo prioritário da área rural se negando a tomar a vacina para Covid-19.

As recepções e percepções da população à vacina variam de local para local. Existe resistência em alguns casos, mas a maioria das pessoas querem ser vacinadas e até mesmo procuram a vacinação escondidas de seus familiares ou do pastor de seus cultos religiosos, mas uma boa parcela do público alvo não sabe se informar ou não recebe a visita da agente de saúde responsável por sua comunidade e assim, tendo em vista dessa dificuldade, nasceu a estratégia chamada Xepa, que são as doses remanescentes de vacina, que sobram nas ações da saúde e que correm risco de estravio.

Como parte da população se nega a vacinar ou não se encontra em casa na data da ação, sobram doses nas ampolas ao fim da ação. Há dois tipos de ampola. Uma possui 10 doses e a outra, menor, contém 5 doses. A partir do momento em que a ampola é aberta é preciso usar todas as doses, do contrário a vacina será perdida e é preciso prestar contas de cada dose para que não haja suspeita de desvio. Da mesma forma é necessária inteligência para saber que ampola abrir nas etapas do dia a dia. Do contrário é preciso sair em busca de pessoas na faixa etária ou com comodidades para que as doses remanescentes não se percam.

A Atenção Básica também trata de vacinações agendadas para os casos de pessoas acamadas ou que se encontrem em situação de impedimento físico que não tenham formas de chegar até os pontos de vacinação ou às ações nas comunidades. Esses são os casos onde é preciso se movimentar pelos rios e buraqueiras dos ramais ou arteriais. Ainda há um problema corriqueiro que é o risco de assaltos e até mesmo roubo de vacina. Por isso a importância do agente de saúde e de escolta policial, mas nem sempre é possível o apoio pela corriqueira falta de contingente.

Nem 12% da população foi vacinada ainda e o que temos visto na CPI da Covid é que o Governo Federal trabalhou incansavelmente na necropolítica da não vacinação. Bolsonaro continua esse trabalho da desinformação e da negação e, a despeito da razão e do bom senso, seus seguidores continuam apoiando sua visão absurda através de ataques coordenados das Fake News e é sensato acatar a realidade de que as fake news estão vencendo o esforço da linha de frente. Os números comprovam, há não ser que a matemática básica comece a ser negada também.

Dona Laura que acabou de completar 100 anos foi vacinada ao lado da filha Laurita de 71 anos.

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