Vacina é direito das crianças

No terceiro ano da pandemia e novamente todos se perguntam como será o retorno das aulas presenciais, especialmente tendo as vacinas retardadas para crianças em um gesto intencional e criminoso do governo federal.

por Ruivo Lopes (*)

(…) que as crianças cantem livres sobre os muros
E ensinem sonho ao que não pode amar sem dor
E que o passado abra os presentes pro futuro
Que não dormiu e preparou o amanhecer (…)
"Que As Crianças Cantem Livres", Taiguara

Nesses quase dois anos de pandemia um tema muito recorrente foi a educação escolar, ou seja, a escola, as aulas, os profissionais da educação, os estudantes, as famílias etc. Quando estamos imersos na rotina, nem parece tudo isso, mas é. Interditada pela pandemia do Coronavírus, a educação escolar teve sua rotina e seu circuito de relações interpessoais e funcionamentos administrativos e pedagógicos prejudicados.

Enquanto assistíamos incrédulos parte do mundo agonizar pelas consequências da Covid-19, maus governantes no Brasil pagaram para ver e apostaram numa letal imunidade de rebanho que até o momento já custou a vida de mais 600 mil brasileiros e brasileiras. A omissão intencional e criminosa retardou a vantagem de tempo e antecipar medidas para minimizar o impacto da pandemia no País. Ainda me lembro do áudio de celular enviado de Barcelona, em meados de fevereiro de 2020, por um amigo ainda atônito com as medidas de isolamento impostas pelo governo espanhol: “Se cuidem. Porque se esse vírus chegar no Brasil fará um enorme estrago”, disse ele em tom de voz que lhe custava sair pela garganta. Naquela ocasião, 800 pessoas morriam por dia na Espanha. Em março, o Brasil já registrava mais de 3 mil mortes por dia de Covid-19. Um preço muito alto, pago com a vida, devido a opção pela morte feita pelo governo brasileiro.

Pois bem. De repente todos sentimos falta da educação escolar. Um misto de preocupação genuína com o prejuízo dos estudantes com a suspensão das aulas presenciais e as projeções catastróficas dissimuladas de empresários da educação e seus representantes – inclusive na sociedade civil – para o retorno a todo custo, inclusive de vidas, das aulas – das escolas particulares -, interditou o debate sobre qualquer plano de ação emergencial adotado por secretarias de Educação estaduais e municipais, já que o Ministério da Educação, a exemplo do governo, lavou as mãos e deixou escorrer pelo ralo qualquer responsabilidade de coordenação federativa para amparar os entes vinculados ao MEC, fazer frente ao impacto da pandemia nas escolas e apoiar profissionais da educação, estudantes, famílias etc. Resultado, cada ente federativo agiu como pode, como quis, como bem entendeu. O preço pago por essa desarticulação federativa promovida pelo MEC ainda não foi calculado.

Vacina para crianças

Eis que entramos no terceiro ano da pandemia e novamente todos se perguntam como será o retorno das aulas presenciais, especialmente tendo as vacinas retardadas para crianças em um gesto intencional e criminoso do governo federal.

Longe de mim ser catastrófico, principalmente quando o assunto é educação. Se há uma dimensão da vida humana capaz de enfrentar catastrofismos intencionais que reduzem a visão de mundo da humanidade é a educação. Portanto, só a educação recupera qualquer tempo na história. Recuso a ideia de “tempo perdido”. Em mais de vinte anos de atuação na educação, testemunhei – e lamentavelmente ainda testemunho -, uma imensa maioria de gente que tem seu “tempo roubado”, expropriadas pela ganância do vil metal. A própria História nos ensina como não sucumbimos à catástrofes intencionais incensadas em palácios nesse longo caminho da humanidade.

Mas este momento também nos ensina que viver é resistir a insensatez que expõe crianças e aos riscos de um vírus para o qual já existe vacina. Precisamos ensinar às nossas crianças que as vacinas são fruto da capacidade humana para compreender a natureza, articular conhecimentos e produzir medicamentos para o bem comum. Elas precisam saber que foi assim que eliminamos de circulação outras doenças e proporcionamos a longevidade que conhecemos hoje. As vacinas contribuíram para o encontro de gerações entre avôs e avós com seus netos, por exemplo.

Que nossas crianças tenham o direito de se beneficiar do bem produzido neste momento para eliminar de circulação esse terrível vírus. Que elas possam contar para as próximas gerações que viveram porque resistiram a insensatez de um Herodes contemporâneo que governou o Brasil. Dentre elas estarão os futuros profissionais da educação, cientistas, bons governantes etc. Elas terão a vantagem da História como companheira para não permitir que outras gerações paguem com a vida o preço que suas famílias, parentes e amigos/as pagaram em um triste passado recente.


Ruivo Lopes é Educador do Círculo de Cultura, Educação e Direitos Humanos, e também atua como Educomunicador e fomentador de Cultura e Literatura na Periferia de São Paulo.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

COMENTÁRIOS

2 respostas

  1. E vemos mais uma vez a ação do pior governo de toda história brasileira. Que venha a vacina para os pequenos!

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