Um dos responsáveis por massacre Yanomami é preso depois de 29 anos

Massacre de Haximu aconteceu em 1993 e dizimou parte da comunidade indígena Yanomami localizada nas montanhas entre Brasil e Venezuela
Foto: Zacquini/ Survival

Com 29 anos de atraso, a Polícia Federal em Roraima prendeu na noite da última quinta-feira (5) o garimpeiro Eliézio Monteiro Neri, foragido da Justiça e condenado por envolvimento com o genocídio de indígenas Yanomami ocorrido em 1993. 

O crime ficou conhecido como Massacre de Haximu e matou 16 indígenas Yanomami entre homens, mulheres, quatro crianças e um bebê. Os assassinatos foram cometidos por garimpeiros ilegais que atuavam na região próxima à fronteira com a Venezuela e tinham como intuito dizimar a comunidade. 

Com apoio da Polícia Militar, operação prendeu o garimpeiro ilegal em um supermercado de Boa Vista após a PF receber a informação de que ele estaria chegando na cidade pela rodoviária. O assassino foi encaminhado ao sistema prisional e está à disposição da Justiça.

O Massacre Yanomami de Haximu

De acordo com o Ministério Público Federal em Roraima, em agosto de 1993 o conflito começou quando garimpeiros que exploravam ilegalmente a região não cumpriram promessas feitas a indígenas do local. No dia 15 de junho, sete garimpeiros convidaram seis indígenas para caçar e, durante a caminhada, mataram quatro deles. Em retaliação, os indígenas assassinaram um dos garimpeiros. Esse foi o estopim para o massacre que ocorreria dias depois.

Na manhã do dia 23 de julho daquele ano, garimpeiros invadiram a área onde estavam alguns membros da tribo, a maioria mulheres e crianças, pois os homens haviam saído do local dias antes para participar de uma festa típica na região. Os garimpeiros então mataram a tiros e golpes de facão doze indígenas Yanomami: um homem adulto, duas idosas, uma mulher, três adolescentes, quatro crianças e um bebê. 

O fato chegou ao conhecimento das autoridades por meio de um bilhete escrito por uma freira que estava em missão na região e logo ganhou as páginas de jornais brasileiros, americanos e europeus. Assim que a notícia ganhou o mundo, o Ministério Público Federal em Roraima começou a receber informações e testemunhos sobre o caso.

Do caso, conhecido como Massacre de Haximu, resultou uma das atuações mais importantes na história do Ministério Público Federal em Roraima por representar um dos marcos no julgamento de genocídio no Brasil.

O crime foi a julgamento três anos depois, em 19 de dezembro de 1996, e o juiz concordou com o entendimento dos membros do MPF de que o caso se tratava da tentativa de extermínio da etnia e não somente homicídio. Pedro Emiliano Garcia, Eliézio Monteiro Neri e Juvenal Silva, João Pereira de Morais e Francisco Alves Rodrigues foram condenados pela Justiça Federal de Roraima. Estes dois últimos faziam parte do grupo que só foram identificados plenamente durante o processo.

Em análise de recursos dos réus, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região mudou o entendimento e determinou que os acusados fossem julgados pelo crime de homicídio diante de júri popular. O Ministério Público recorreu então ao Superior Tribunal de Justiça. Em 12 de setembro de 2000, a 5ª Turma do STJ decidiu por unanimidade retomar o entendimento de que o crime ocorreu contra a etnia indígena e mantendo assim as penas originais determinadas pelo juiz federal.

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