Do jornalista Walter Falceta, para os jornalistas livres E assim a Terra deu uma volta inteira ao Sol sem as suaves inquietações do nosso querido companheiro Longo, um dos pioneiros da Barbearia Battaglia, do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO) e também do Coletivo Democracia Corinthiana (CDC), do qual foi o diretor de Relações Institucionais.
Longo era a ponte da memória viva com a realidade presente. Lembrava-se de tudo, mas não passava um dia de sua vida sem fazer algo pelo próximo, pelo Corinthians ou pela luta na área de Direitos Humanos.
De suas iniciativas, saíram importantes eventos de parceria entre o corinthianismo e a Comissão de Justiça e Paz, por exemplo.
Também foi ele um dos principais organizadores do curso promovido pelo CDC, com participação do saudoso professor José Teixeira, para os assistentes sociais, psicólogos e advogados que atuam na reinserção social de jovens em conflito com a lei.
Longo era um jornalista de primeira linha, preocupado com o rigor dos fatos. No Globo, quando eu era editor, até me desesperava um pouco com ele, confesso. Dizia-lhe: “companheiro, libera logo essa matéria”.
E ele: “um minutinho, Walter, que vou chegar esses números com uma terceira fonte”. A gente se alvoroçava: “Longo, é isso aí mesmo, já tem dois economistas cravando essa conta”!
Hoje, neste mundo de informação porosa, deficiente e falsa, valorizo o enorme zelo que o Longo tinha com a informação.
Ele sabia que um dado errado qualquer poderia, na cadeia de eventos gerada pela informação, produzir enormes danos à sociedade.
E sabia também, na mão contrária, que a informação íntegra, correta e contextualizada podia realizar milagres na práxis necessária à construção da civilidade.
Em 1976, Longo estava em Porto Alegre, mais uma vez, para apoiar o nosso Coringão, na decisão do Campeonato Brasileiro.
Na chegada a Porto Alegre, seu ônibus foi interceptado pelos brigadianos, a PM de lá. Por reclamar da abordagem agressiva, Longo foi obrigado a estender-se sobre a pista.
Um fardado, então, pisou com o coturno em seu rosto, pressionando-o contra o asfalto fervente. Um dano doloroso.
Ainda assim, ele seguiu para o estádio e berrou o quanto pôde, mesmo ferido, cansado e sem água (cujo abastecimento foi cortado naquele setor do estádio).
Na Avenida Paulista, em 2016, ele viu a agressão da PM contra uma jovem. E logo se insurgiu contra o agente da lei, dedo em riste, repetindo em voz alta trechos da Constituição e do Código Penal.
Eu o arrastei dali quando um capitão cismou de levá-lo ao distrito policial. Longo ficou fulo da vida comigo, por tê-lo impedido de continuar sua lição de moral.
Enfim, era porque eu gostava muito dele, e não queria vê-lo jamais ferido, agredido ou humilhado.
Na Paulista, queria assisti-lo sempre alegre e serelepe, como quando promoveu, aos domingos, aquelas maravilhosas aulas de sociologia e política no solo da principal avenida da cidade.
Há um ano, com outros amigos, conduzimos o Longo até sua última morada, num cemitério no alto da Zona Norte, de onde seu espírito luminoso pode avistar toda a cidade que amou.
Mas as memórias mais fortes que se perenizam são dos gritos de gol do Longo no estádio, ele que tinha um coração apressado e descompassado na coisas corinthianas.
Fica também a lembrança de seu comando em 2017, quando levou nossa galera para revisitar o palco zonalestino da Greve de 1917. Um cicerone com a alma dos rebeldes do movimento.
Longo nunca ligou para luxos, elogios e glórias. Veio a este mundo para fazer e plantar. Muitas de suas sementes ainda vão germinar. Ah, se vão!
Uma resposta
sou galo, mais eita porra…